Quatro anos atrás publicamos aqui neste espaço que assistimos no carnaval de 2013 a degradação da mulher brasileira aumentar a cada ano. Na maioria dos casos com elas próprias, as mulheres, jogando a última pá de cal sobre a cova feminina. Foram dias seguidos de exposição permanente de bundas, peitos e até vaginas in natura, sem o tapa sexo. Nada deixou de ser mostrado. Tudo escancarado ao público em avenidas, desfiles das escolas de samba e camarotes das autodenominadas celebridades. Não se trata de puritanismo não, muito pelo contrário! Afinal, o que é bonito deve ser mostrado. O problema é a falta absoluta de discernimento, pudor e vergonha na cara por parte dos personagens em questão sobre o belo e o feio, a arte e o esdrúxulo.
Vimos naquele carnaval cenas inimagináveis de celulites e estrias em profusão de mulheres que no passado posaram de musas e hoje exibem pelancas de segunda e, mesmo assim, quase chegando aos tapas entre si na disputa pela atenção da mídia eletrônica, de um paparazzo. Pobres criaturas que um dia se acharam acima das demais, que somente as outras ficariam idosas, elas não! Contamos que no carnaval de 2013 até a Garota de Ipanema, a original, bateu ponto na avenida, enquanto Suzana Vieira, sem saber como atrair os holofotes, armou barraco num camarote ao criticar a presença da norte-americana Morgan Fox - a qual, por sua vez, analfabeta de pai e mãe em termos de samba, saiu da fita dizendo que gostaria de ter bunda igual à das brasileiras (sic).
Ainda na Sapucaí, a também atriz Danielle Winits, do alto de seus então 39 anos de vida, transformou a camiseta-convite em um vestido, que, de tão curto, uma levantada de braço o transformava, de fato, em camiseta! Foi também no meio de tanta folia que Ângela Bismarck (ela novamente!) anunciou o lançamento de seu primeiro produto erótico no mercado - um hímen descartável, que custaria cerca de R$ 30. "É bem mais barato que a cirurgia, que custa por volta de R$ 6 mil”, justificou. Ficou no ar, prezada leitora, que se antes do carnaval você era virgem e depois da folia deixou ser, mas queria voltar a sê-lo, a dica era dar um tempo porque a Ângela prometia a solução.
Ainda no carnaval 2013 assistimos como destaque Gracyanne Barbosa, a mulher pedra, com o corpo transformado de cabo a rabo pelo exagero da malhação - uma quase aberração, que cabia unicamente ao ex-presidiário Belo dar conta a partir do fim da festa pagã! A transmissão do carnaval pela TV também não ficou atrás dos vexames dos famosos (?). Locutores travaram disputa acirrada pela “mais bela voz” e, enquanto comentavam sobre ilustres desconhecidos dos telespectadores, garantiam a transformação dos desfiles das escolas de samba em espetáculos cansativos, desinteressantes, prá lá de enfadonhos.
Entre as apresentadoras que chamaram para si a responsabilidade de promover o show mais deprimente, o destaque ficou para “a noite das tetas” promovida na Rede TV! por Luciana Gimenez, com direito a franja no estilo Michelle Obama – nota zero no quesito criatividade!
Chegamos ao carnaval de 2017 e pouca coisa mudou. Ou melhor, houve uma evolução que extrapolou os limites máximos do absurdo, novamente promovida exatamente pela Rede TV! A emissora exibiu ao vivo o ânus da modelo Ju Isen durante o programa Bastidores do Carnaval, na noite de sexta-feira, dia 24. A aparição explícita de Ju Isen ocorreu durante uma entrevista da musa das manifestações à repórter Léo Aquilla. Léo pediu para Ju mostrar sua pintura corporal verde, e ela agachou com o glúteo virado para a câmera.
A cena ao vivo causou furor na internet e chocou até os apresentadores Flávia Noronha e Nelson Rubens, que achavam que já tinham visto de tudo no carnaval da Rede TV! "Opa" exclamou Flávia rapidamente enquanto a câmera dava um close ginecológico nas partes íntimas da modelo.
Fica então a pergunta: é para oferecer a exibição de ânus em alta definição, com imagem totalmente limpa em seus mínimos detalhes, que o governo vai desligar o sinal analógico e operar o sistema digital ainda este mês em São Paulo?
A família penhorada agradece!
* Percy Faro (percyfaro@gmail.com) é jornalista profissional há mais de 40 anos. Especializou-se no setor automotivo há 23 anos, período em que atuou em diversos veículos do segmento específico, entre eles as revistas 4x4, Moto, Oficina Mecânica, O Mecânico e Jornauto. Integrou a equipe que fundou a Revista Carro e foi produtor e apresentador do Programa Carro, da TV Gazeta - SP, e editor do Jornal Veículos, do Diário do Grande ABC.
