terça-feira, 9 de maio de 2017

CONVERSA DE PISTA.
Por Wagner Gonzalez*

Espanha é a F-1 2017 passada a limpo

Circuito da Catalunha vive ares de recomeço da temporada
Barcelona vai dar o tom do campeonato
Opções de pneus é contestada

Após os treinos de março (foto) Valtteri Bottas volta a acelerar em Barcelona com mais confiança. Foto: Mercedes.

Quinta etapa da temporada 2017 da F-1, o Grande Prêmio da Espanha marcado para domingo, no Circuito da Catalunha, será uma boa oportunidade para esclarecer o real potencial de cada uma das 10 equipes que disputam o campeonato. Isso acontece porque todos os testes dos carros deste ano aconteceram nessa pista situada nos arredores de Barcelona, situação que vai esclarecer se os problemas demonstrados naquela época foram superados após as corridas na Austrália, Bahrein, China e Rússia ou se alguns projetos estão próximos de serem classificados na categoria de fracassos.

Após quatro etapas, duas vitórias e liderança no Mundial Sebastian Vettel é só sorrisos. Foto: Ferrari.

Até o momento Sebastian Vettel lidera entre os pilotos: o alemão soma 86 pontos, 13 a mais que o inglês Lewis Hamilton, vice-líder. Entre os Construtores a batalha está mais acirrada: Mercedes (líder com 136 pontos) e Ferrari (135) mostraram-se superiores entre os construtores, condição que só deverá mudar caso a Red Bull (57) consiga finalmente acertar seu carro para as novas dimensões das asas e pneus atuais. Verdade que o motor Renault – neste caso rebatizado TAG-Heuer -, parecem estar algo abaixo dos usados pelas equipes Ferrari e Mercedes, mas não é só por isso que Daniel Ricciardo e Jos Verstappen ainda não podem ser considerados ameaças para Sebastian Vettel, Lewis Hamilton, Valteri Bottas e Kimi Räikkönen, os quatro primeiros no campeonato.

Daniel Ricciardo criticou as escolhas da Pirelli para o GP da Espanha. Foto: Getty Images/RBCP.

Nestes dias que antecipam a corrida catalã Daniel Ricciardo reprovou a decisão da Pirelli em escolher os compostos duro (letras em cor abóbora na banda lateral), médio (brancas) e macio (amarelas). Segundo o australiano a escolha da fábrica italiana “não deixou ninguém contente”.  Toto Wolff, o devotado líder da operação F-1 da Mercedes, tem explicações mais claras e didáticas sobre o que esperar dos tempos que serão registrados este fim de semana em Barcelona em relação a aqueles obtidos nos treinos de pré-temporada:

Apesar do progresso após quatro corridas, Toto Wolff prevê tempos mais lentos. Foto: Mercedes.

“Pelos nossos nossos cálculos a pole position para essa corrida será 1’19”681, o que é bem menos que a melhor marca registrada em marco, 1’18”635, por Kimi Räikkönen. Isso se explica porque o tempo estava mais frio, Kimi usou pneus mais macios que os que serão disponibilizados para o GP e ninguém sabe a carga de combustível que ele levava a bordo do seu carro.”

Os três compostos escolhidos pela Pirelli para o GP da Espanha deste fim de semana. Foto: Pirelli.

Para embasar a análise de Wolff cabe lembrar que nos treinos de pré-temporada de 2015 a melhor marca obtida foi de 1’22”792, quase dois segundos melhor que a pole position da corrida daquele ano...

O meio do pelotão

Force India lidera o segundo pelotão e se mantém em quarto entre os Construtores. Foto: Sahara Force India.

Analisando as outras equipes o destaque é para a Sahara-Force India, seja pelo conceito bola na rede, seja pela relação preço-qualidade: com um dos menores orçamentos da categoria o time baseado em Silverstone soma 31 pontos contra 18 da Williams, 13 da Toro Rosso, 8 da Haas e 6 da Renault, todas financiadas por capitais mais vitaminados. Este ano a Force India teve um reforço financeiro importante – a chegada da alemã BTW, do ramo de filtros de água -, e da presença do franco-catalão Estebán Ocón, nome que em breve vai superar o companheiro de equipe Sérgio Perez, bem mais experiente. No lado técnico, o time liderado pelo magnata indiano Vijay Mallya prima por conseguir resultados criativos, simples e, o mais importante, funcionais.

Após terminar o GP da Russia o canadense Lance Stroll começa a aparecer melhor no cenário da F1. Foto: Williams.

Em uma situação quase oposta, a Williams se esmera em surpreender, nem sempre com sucesso. Aceitar o jovem milionário Lance Stroll deixou sobre os ombros de Felipe Massa toda a responsabilidade de marcar pontos e garantir pontos suficientes para os bônus oferecidos pela FOM. Se o Caminho de Santiago passa longe da capital da Catalunha, o décimo-primeiro ligar do canadense em Sochi serviu para aumentar as esperanças que está mais perto o momento em que ele poderá contribuir com algo mais que muitos milhões de dólares ao balanço da Williams.

Daniil Kvyat (E) e Carlos Sainz Jr: misturam rpidez com performances irregulares. Foto: Getty Images/RBCP.

Equipe júnior do planeta Red Bull, a Toro Rosso tem como principal desvantagem a performance ainda errática dos seus dois pilotos, Carlos Sainz e Daniil Kvyat. Quando conseguem terminar as corridas os dois marcam presença, situação que deverá ser alterada pelo menos por parte da Renault, que navega nas mesmas águas que a Williams. No time francês é o alemão Nico Hulkenberg quem faz as vezes de Felipe Massa, enquanto o inglês Jolyon Palmer se esmera em se envolver em situações pouco produtivas tanto para sua equipe quanto para o seu futuro na categoria. Mesmo assim pode-se olhar para a Renault como a equipe que terá a melhor evolução ao longo do campeonato.

Nico Hulkenberg e Renault pintam como o possivel destaque da temporada. Foto: Renault.

Ainda dois pontos à frente da Renault (8x6), a norte-americana Haas parece envolta em um verdadeiro clima de inferno astral: o time ainda não conseguiu resolver um crônico problema de freios que atazana a vida de Romain Grosjean desde a temporada passada e que este ano parece contemplar seu companheiro de equipe Kevin Magnussen. Equipamento que funciona numa faixa de temperatura extremamente elevada, não seria surpresa se em breve os técnicos da Haas descubram que problema que afeta o funcionamento dos freios está na circulação de ar no conjunto formado pelo disco de freio, roda e os recuperadores de energia instalados em seu interior.

A equipe Haas ainda não descobriu o problema que afeta o funcionamento dos freios do chassi VF-17-Ferrari. Foto: Haas.

O traumático ressurgimento da associação entre McLaren e Honda conseguiu ser pior que a recente e frustrada tentativa do fabricante japonês em se estabelecer como concorrente, anos atrás. Na esperança de apagar os péssimos resultados conseguidos desde 2015, Fernando Alonso aceitou até mesmo trocar o GP de Mônaco por uma experiência inédita em Indy a bordo de um Dallara Honda. As poucas chances de uma melhora substancial no desempenho deste time podem ser a salvação da Sauber, ironicamente anunciada como equipe cliente dos japonese para 2018. Essa associação atrasa a possível chegada da Audi/grupo VW, que ao liberar vários técnicos de seu departamento de competição para a organização suíça instigou uma associação mais profunda com a casa de Hinwill. Para reforçar o sabor de wiener schnitzel de tal cenário, o alemão Pascal Wehrlein é quem está pintando como o melhor piloto da equipe nesta temporada.






* Wagner Gonzalez é jornalista especializado em automobilismo de competição, acompanhou mais de 350 grandes prêmios de F-1 em quase duas décadas vivendo na Europa. Lá, trabalhou para a BBC World Service, O Estado de S. Paulo, Sport Nippon, Telefe TV, Zero Hora, além de ter atuado na Comissão de Imprensa da FIA. Atualmente é diretor de redação do site www.motoresclassicos.com.brTwitter: @motclassicosFale com o Wagner Gonzalez: wagner@beepress.com.br.