segunda-feira, 16 de junho de 2025

CASA FIAT DE CULTURA INAUGURA EXPOSIÇÃO QUE REVELA MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE A ARTE BRASILEIRA A PARTIR DA COLEÇÃO DE VILMA EID

Com cerca de 300 obras, a mostra propõe encontros entre artistas de diferentes tempos e regionalidades, promovendo interlocuções entre a arte popular, moderna e contemporânea no Brasil

Agostinho Batista de Freitas | Sem ttulo - 1988 | Óleo sobretela 70x95cm | Coleção Galeria Estação | Foto: João Liberato

A arte se manifesta por meio de diferentes vozes, suportes e gestos. A partir do dia 17 de junho, a Casa Fiat de Cultura revela a pluralidade de visões sobre o Brasil e sua produção artística na exposição “Em cada canto: Casa Fiat de Cultura e Instituto Tomie Ohtake visitam Coleção Vilma Eid”, que reúne cerca de 300 obras, entre esculturas e pinturas, de 100 artistas. A mostra convida o público a um mergulho nas complexidades e nas convergências entre o popular, o moderno e contemporâneo. Com curadoria de Ana Roman e Catalina Bergues, a exposição é dedicada a examinar o acervo da colecionadora e galerista Vilma Eid, reunido ao longo dos últimos 40 anos. A coleção chega pela primeira vez em Belo Horizonte, após sair da residência de Vilma Eid, onde é preservada, e passar pelo Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. “Em cada canto” fica em cartaz até 17 de agosto de 2025, com entrada gratuita.

Mais do que reunir obras de diferentes estilos e linguagens, a exposição busca provocar o encontro entre elas dentro da galeria, abrindo espaço para novas leituras e interpretações. Em uma reconstrução do local de origem dessas obras — a casa da colecionadora —, a expografia da mostra cria espaços conectados, que refletem essas novas relações, evocando a atmosfera de convivência íntima entre obras distintas. Ao apresentar o conjunto reunido por Vilma Eid, “Em cada canto” também contribui para ampliar o debate sobre os sistemas de classificação e as hierarquias historicamente impostas à arte. Como defendem as curadoras Ana Roman e Catalina Bergues, “em vez de fixar uma definição do que é ‘popular’ ou ‘erudito’, a mostra sugere novas possibilidades de diálogos. Ela coloca em evidência como as peças se transformam quando vistas lado a lado, estimulando o público a perceber a arte brasileira como um campo aberto a intersecções e reinterpretações”.

Ocupando o hall e as galerias do 3º e 4º andar da Casa Fiat de Cultura, as obras estabelecem conexões que dialogam tanto com a maneira como estavam dispostas na casa da colecionadora, quanto com os novos recortes propostos pela curadoria. As questões representadas atravessam grandes temas da história da arte: tradição e inovação, figuração e abstração, território e espiritualidade, cor e forma. Algumas obras se aproximam pelo uso de materiais e temáticas comumente associadas à arte popular, como o barro, a madeira e o imaginário rural; outras, por processos e poéticas ligadas ao modernismo e à arte contemporânea.

Como afirmam Roman e Bergues, “apresentar, pela primeira vez em Belo Horizonte, o conjunto heterogêneo de obras que habitava o ambiente doméstico de Vilma, onde surgiam conexões inusitadas entre estilos, épocas e técnicas, representa um desafio curatorial para manter a atmosfera de proximidade, sem abrir mão da clareza expositiva”, concluem.

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura, Massimo Cavallo, esta é mais uma iniciativa que valoriza os modos de fazer e pensar a arte no país. “Ao dar visibilidade a essas produções, a Casa Fiat de Cultura e o Instituto Tomie Ohtake renovam uma parceria de longa data e reconhecem a importância de um olhar mais sensível e abrangente sobre a arte brasileira. E, mais do que isso, reafirmam a crença de que colecionar, como fez Vilma, é também um ato de cuidado, de escuta e de legado.”

A exposição “Em cada canto: Casa Fiat de Cultura e Instituto Tomie Ohtake visitam Coleção Vilma Eid” é uma realização da Casa Fiat de Cultura, do Instituto Tomie Ohtake e do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Conta com o patrocínio da Stellantis e da Fiat, copatrocínio da Stellantis Financiamentos, do Banco Stellantis, do Banco Safra e da Sada. A mostra tem apoio institucional do Circuito Liberdade, além do apoio do Governo de Minas, do Programa Amigos da Casa e da Galeria Estação.

Vilma Eid

Vilma Eid Foto: RuyTeixeira

“Em cada canto” nasce do olhar sensível e atento da colecionadora e galerista Vilma Eid. Fundadora da Galeria Estação, em São Paulo, ao lado de seu filho Roberto Eid Philipp, Vilma construiu, ao longo de quatro décadas, uma coleção única.

Seu primeiro encontro com a arte popular se deu ainda na juventude, ao se encantar com uma pintura de José Antonio da Silva que, na época, não era considerada “arte de mercado”. Anos depois, ao reencontrar a obra do artista, iniciou uma coleção baseada não em categorias, mas em afinidades afetivas e estéticas. “Eu comecei minha coleção porque gosto de arte popular, assim como gosto de arte moderna e arte contemporânea. Eu gosto de arte, no geral”, afirma Vilma Eid.

Ao longo dos anos, Vilma percorreu o Brasil em viagens de pesquisa, visitando ateliês, sítios e casas de mestres populares. Foi assim que conheceu nomes como Zé Bezerra, Nino, Dona Izabel, Ulisses Mendes, Noemisa Batista, entre muitos outros.

Sem se preocupar em “combinar” obras ou seguir uma lógica institucional, Vilma formou um acervo em que o gesto artístico é o elo mais importante. “Eu não costurei nada na minha coleção, não busquei criar nenhuma narrativa. Só fui gostando e aumentando aos poucos. Comecei a levar pessoas para vê-la e percebi que aquilo gerava uma reação absurda. Foi então que entendi que aquilo era importante.”

Uma seleção que rompe fronteiras entre estilos, técnicas e origens

Em diálogo com a trajetória da colecionadora e galerista Vilma Eid, a mostra “Em cada canto: Casa Fiat de Cultura e Instituto Tomie Ohtake visitam Coleção Vilma Eid” reúne artistas que transitam entre diferentes tempos e territórios da arte brasileira.

A exposição inclui nomes como José Antonio da Silva, artista que deu início à coleção e cuja pintura, crítica e inventiva, retrata a vida rural paulista sem idealizações. Ao seu lado, obras de Artur Pereira, que transforma o cedro em cenas esculpidas de caçadas, festas e figuras católicas. A presença de artistas como Paulo Pasta, Paulo Monteiro, José Resende e Erika Verzutti rompe com qualquer linearidade, misturando tempos e técnicas que coabitam com naturalidade.

O acervo também explora a geometria em múltiplas abordagens: da abstração rigorosa de Judith Lauand à expressividade geométrica de Geraldo de Barros, passando pela força cromática de Jandyra Waters e pela fluidez construtiva de Clovis Aparecido dos Santos.

A figura do totem como um símbolo sagrado de ancestralidade aparece em artistas como Conceição dos Bugres, Rubem Valentim, Agnaldo Manuel dos Santos e Tunga, que articulam memória, religiosidade afro-brasileira e espiritualidade popular. Já Júlio Martins da Silva, Eleonore Koch e Mario Rubinski propõem paisagens sintéticas que mesclam geometria e afeto. O lúdico, o imaginário e o movimento são explorados por artistas como Chico da Silva, Nhô Caboclo e Cardosinho.

A tradição ceramista do Vale do Jequitinhonha se revela nas figuras de Izabel Mendes da Cunha, Noemisa Batista dos Santos e Ulisses Pereira Chaves, cujas obras mantêm vivo o fazer ancestral. Artistas como Antônio Poteiro e Madalena Santos Reinbolt articulam o sagrado e o cotidiano em cores intensas, tapeçarias e esculturas que encantam pelo detalhe e pela presença da memória.

O sertão de Mestre Vitalino, a delicadeza onírica de Neves Torres, a crítica social de Ranchinho e o olhar urbano de Maria Auxiliadora e Zica Bérgami expandem as narrativas da exposição, que ainda inclui obras que abordam o universo do circo, com nomes como Sonia Delaunay, Alexander Calder e Lia Chaia.

O tempo, enquanto conceito e matéria, é tensionado por artistas como G.T.O., Jadir Egídio, Itamar Julião e Aurelino dos Santos, em obras que oscilam entre o mitológico, o afetivo e o urbano. E as obras de Zé do Chalé, Agostinho Batista, Mira Schendel e Marepe celebram o cotidiano como uma experiência plástica de pertencimento e transformação.

Bate-papo de abertura da exposição

Para marcar a abertura da exposição “Em cada canto: Casa Fiat de Cultura e Instituto Tomie Ohtake visitam Coleção Vilma Eid” será realizado um bate-papo com a colecionadora e galerista Vilma Eid e as curadoras da mostra, Ana Roman e Catalina Bergues, no dia 17 de junho, terça-feira, às 19h, na Casa Fiat de Cultura. O evento é aberto ao público, com entrada gratuita e inscrição pela Sympla.

Durante o bate-papo, Vilma Eid vai compartilhar com o púbico a sua trajetória artística, a história de formação de sua coleção e os vínculos construídos com as obras ao longo do tempo. Ao seu lado, as curadoras da exposição, Ana Roman e Catalina Bergues, trazem suas perspectivas curatoriais sobre a mostra.

As curadoras

Ana RomanÉ mestre em Geografia (FFLCH-USP), pós-graduada em Estudos Brasileiros (FESP/SP) e é doutoranda da FAU-USP. Foi curadora assistente da 34ª Bienal de Arte de São Paulo (2021), membro do Comitê de Indicação do Prêmio PIPA 2022 e 2024 e curadora do Pivô entre 2022 e 2023. Atualmente é coordenadora de conteúdo do grupo de pesquisa Academia de Curadoria e contribui regularmente para a plataforma Piscina. É superintendente artística do Instituto Tomie Ohtake.

Catalina BerguesÉ curadora, pesquisadora e psicóloga. Formada em Artes Visuais pela Fundação Armando Álvares Penteado e em Psicologia pela Universidade de São Paulo, atua como curadora no Instituto Tomie Ohtake e como psicóloga clínica. Realizou curadorias em exposições como Hee Sub Ahn – O Caminho (2024, Instituto Tomie Ohtake), Em Cada Canto – Instituto Tomie Ohtake Visita Coleção Vilma Eid (2025, Instituto Tomie Ohtake e Casa Fiat de Cultura – Belo Horizonte) e Eaux Souterraines: récits en confluence (2025, Frac Poitou-Charentes, França). Participou de publicações como Ensaios para o Museu das Origens (2023) e Arte Popular – Modos de Usar (2025).

Casa Fiat de Cultura

A Casa Fiat de Cultura cumpre importante papel na transformação do cenário cultural brasileiro, ao realizar prestigiadas exposições. A programação estimula a reflexão e interação do público com várias linguagens e movimentos artísticos, desde a arte clássica até a arte digital e contemporânea. Por meio do Programa Educativo, a instituição articula ações para ampliar a acessibilidade às exposições, desenvolvendo réplicas de obras de arte em 3D, materiais em braille e atendimento em libras. Mais de 90 mostras, de consagrados artistas brasileiros e internacionais, já foram expostas na Casa Fiat de Cultura, entre os quais Caravaggio, Rodin, Chagall, Tarsila, Portinari entre outros. Há 19 anos, o espaço apresenta uma programação diversificada, com música, palestras, residência artística, além do Ateliê Aberto – espaço de experimentação artística – e de programas de visitas com abordagem voltada para a valorização do patrimônio cultural e artístico. A Casa Fiat de Cultura é situada no histórico edifício do Palácio dos Despachos e apresenta, em caráter permanente, o painel de Portinari, Civilização Mineira, de 1959. O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. Mais de 4,5 milhões de pessoas já visitaram suas exposições e 700 mil participaram de suas atividades educativas. 

Serviço 

Exposição “Em cada canto: Casa Fiat de Cultura e Instituto Tomie Ohtake visitam Coleção Vilma Eid”
Período expositivo: 17 de junho a 17 de agosto de 2025 
Visitação presencial: terça-feira a sexta-feira das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h (exceto segundas-feiras)   
Tour virtual no site: www.casafiatdecultura.com.br

“Onde mora a arte” | Bate-papo com a colecionadora Vilma Eid e as curadoras Ana Roman e Catalina Bergues  
17 de junho, às 19h, na Casa Fiat de Cultura 
Inscrições gratuitas pela Sympla: bit.ly/BatePapoVilmaEid

Casa Fiat de Cultura    
Praça da Liberdade, 10, Funcionários – BH/MG  
Circuito Liberdade
Horário de Funcionamento 
Terça-feira a sexta-feira, das 10h às 21h   
Sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h

Informações   
www.casafiatdecultura.com.br    
casafiatdecultura@stellantis.com   
facebook.com.br/casafiatdecultura   
Instagram: @casafiatdecultura   
X: @casafiat   
YouTube: Casa Fiat de Cultura

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