Um pouco de cor. Verde, a cor da semana. Por vários motivos, indicação esotérica, a cor que pintei minhas unhas e, de repente, o uso em propagandas políticas. Mas também porque sugere – junto com o amarelo – o avivamento do sentimento patriótico depois da verdadeira afronta contra o país disparada pelo presidente dos Estados Unidos. E tem mais.
Para quem vive por aqui em São Paulo com o mínimo de atenção, a propaganda da prefeitura que está no ar mostra a capacidade de - na boa - tentar nos dissuadir das condições reais da cidade. Mostra situações teatrais e meio sem sentido de conversas de abilolados sobre reparar “o quanto São Paulo está verde”, exaltando nem sei bem o quê, uma vez que o que se vê mesmo são árvores usadas como lixeiras, doentes, torturadas, que tombam defuntas com o soprar do vento e quando chove. Os parques, muitos agora privatizados, viraram particulares e rentáveis, cheias de balbúrdias, construções irregulares em áreas tombadas, shows e barulhos que atormentam especialmente a fauna. Parques e praças fechadas ao público, com grades; outros em péssimas condições. Os tais bosques urbanos que implantam aqui e ali são pequenos pedacinhos para os quais dão nomes bonitos, de pássaros. As milhares de árvores a que se referem são mudas, plantadas justamente em áreas nas quais estão passando o trator em cima da vegetação adulta.
São Paulo passa por um momento especialmente agressivo de transformação, com apoio de plano diretor negociado nos gabinetes da política. Ao invés do verde, o cinza domina. Construções monumentais em todos os lugares derrubando sem dó bairros, vilas, memórias, esquinas, e até pequenos prédios para erigir torres vendidas a preço de ouro, com marketing pesado de suas “maravilhas”. O forte assédio aos moradores de onde querem demolir para escavar os empreendimentos chega a oferecer vantagens e valores irrecusáveis, e aiai do vizinho que ousar não aceitar – vira o inimigo, marcado. Cercado.
Sejamos “justos” - tem muito verde sobrando também em uma propaganda da Petrobras, uma tal de energia justa, no ar esses dias, parte feita com inteligência artificial, quando não com figurantes e atores sorridentes.
Verde popular por aqui só nas cercanias do Estádio do Palmeiras. Até o Partido Verde, por exemplo, que nesse momento de emergências sobre todas as coisas da vida deveria estar no auge, parece mesmo é respirar por aparelhos, encolhido em um canto.
Mas nem tudo parece perdido para esta tão bela e significativa cor. Agora com a mais do que esquisita ameaça e provocativa taxação de 50% nos produtos nacionais lançada com ares de chantagem pelo presidente Donald Trump misturando Bolsonaro, familícia, economia, geopolítica e gotas de loucura, o verde se junta ao amarelo nos corações em defesa da pátria e da soberania nacional. Sem precisar ser vestido, aparece rejuvenescido o sentimento, e em todas as direções ideológicas, até naquela que adota muito mais o amarelo “canarinho” quando sai às ruas, e que agora se vê no dilema de poder ser culpada por um problemão.
O verde também pode significar inclusive que essa coisa toda não está madura, pode até ser bravata, resultando no sentido contrário ao pretendido pelo poderoso americano que dá pernadas para todos os lados. E aí entra o necessário cuidado na reação, o pisar em ovos das declarações, na resposta e ações, o incentivo à entrada do que melhor houver em diplomacia entre os países.
Me fez lembrar até de uma famosa camiseta que Lula usava nas greves sindicais, com o personagem João Ferrador: “Hoje eu não tou bom” (sic). Alguém, por favor, o acalme para a coisa não ir para o brejo de vez.
*Marli Gonçalves. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon. Me encontre, me siga, juntos somos mais: Blog Marli Gonçalves, Facebook,Instagram,Twitter, BlueSky, Threads, marli@brickmann.com.br.
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