terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

CONVERSA DE PISTA.
Por Wagner Gonzalez*

MOSLEY REAPARECE E CRITICA NOVA F1

Foto: ESPN CDN

Ex-presidente da FIA é velho aliado e amigo de Ecclestone
Palavras reacendem boatos sobre planos de Bernie
Inglês alfineta norte-americanos


Sergio Marchionne declarou a investidores que a F-1 precisa recuperar prestígio. Foto: Ferrari Media.

Não bastasse a mensagem do todo-poderoso Sergio Marchionne falando sobre a necessidade da F-1 recuperar seu prestígio, agora é a vez de Max Mosley abrir fogo-amigo contra a Liberty Media, a nova proprietária e administradora dessa categoria. Eterna eminência nem sempre parda, Mosley foi pouco sutil ao declarar à agência Reuters que “os americanos sempre acham que sabem fazer melhor”, uma referência direta e reta às propostas apresentadas por Chase Carey para promover os Grande Prêmios ao melhor estilo Super Bowl, a liga de futebol americano dos Estados Unidos, e ao fato de terem dado uma posição de “rainha da Inglaterra” ao veterano empresário e amigo.

Chase Carey lidera a reestruturação da F1. Foto: Red Bull Content Pool/Getty Images.

Se a Liberty Media conseguir impor aos GPs os índices de emoção e repercussão nas mídias sociais alcançados pela partida de anteontem, Mosley se verá obrigado a fazer um gesto nobre e admitir que os conceitos de Carey são efetivamente eficientes. Na final disputada domingo – o tal do Super Bowl – o time dos Patriots perdia feio para o Atlanta Falcons mas conseguiu empatar no último quarto de jogo e forçar uma prorrogação, fato inédito na história desse esporte. De quebra, reverteram o que seria uma derrota  e sagraram-se campeões, o que valorizou ainda mais a conquista, a sétima do time de New England.

Ocorre que por mais clima de ONU que se possa respirar num paddock da F-1, o controle do negócio e seus valores, desde a alma aos seus tentáculos, continua extremamente europeu, ou melhor, inglês. Dois dos últimos capítulos da disputa de poder sobre a F-1 foram entre Mosley e seu fiel parceiro Bernie Ecclestone, contra franceses, primeiro Jean-Marie Balestre, e mais recentemente frente a Jean Todt. Desta vez, porém, o inimigo está separado por um volume de água bem maior que o que passa pelo Canal da Mancha: o Oceano Atlântico e um bom pedaço de terra; o endereço jurídico da Liberty Media Corporation é Englewood, nos arredores de Denver, a capital do Estado do Colorado. Há, portanto, espaço para muita estratégia e outro tanto de táticas de guerra. 

Mosley preside a Global NCAP, organização dedicada a testar a segurança de carros novos. Foto: Diario Motor.

A ligação entre Max Mosley e Bernie Ecclestone é conhecida de longa data e tem raízes mais profundas do que muitos supõem. O primeiro foi quem enfrentou e apaziguou Balestre quando o francês tornou-se um obstáculo aos interesses comerciais do amigo e lançou-se candidato à presidência da FISA (Federação Internacional do Esporte Automobilístico) em 1991, então um desdobramento da própria FIA (Federação Internacional do Automóvel) dedicado a cuidar do automobilismo. Dois anos mais tarde o filho de Sir Oswald Mosley – que liderou a União Fascista Britânica -, reunificou a FISA e a FIA e executou algumas mudanças estratégicas na entidade, como transferir a sede da entidade para Genebra, de 1999 a 2000, de forma a atenuar as consequências de uma investigação da Comissão Europeia.

Mosley ficou no comando da FIA/FISA durante três mandatos, período em que um voto de confiança o manteve no poder após seu envolvimento em uma orgia sexual. Optando por não disputar novas eleições, ele se envolveu com assuntos ligados à legislação automobilística europeia e atualmente é o presidente da organização Global NCAP, que desenvolve um trabalho de pesquisa e investigação relacionados com a segurança ativa e passiva de novos automóveis. Não se deve desconsiderar por completo que a decisão britânica de desligar-se da União Europeia possa ter contribuído para Mosley voltar a opinar sobre a F-1 e seus rumos de maneira mais crítica:

“A Liberty tem uma equipe de profissionais competentes. Agora, se eles podem lidar com tudo da maneira que poderiam se contassem com Bernie nos assuntos que ele domina, e fazer as coisas que eles conhecem, é uma boa pergunta. As coisas sempre parecem mais fáceis para quem está do lado de fora.”

A sede da FIA, em Paris. Foto: Fia.Com.

Os recentes desmentidos do próprio Ecclestone – que foi nomeado presidente emérito da Grupo Formula Um (Formula One Group, em inglês) -, de que estaria arquitetando um novo campeonato ganharam manchetes mas não convenceram a todos. Bernie, um workaholic de carteirinha, não é o tipo de pessoa que vai aproveitar a vida à frente de uma tela de TV ou cuidar do jardim – ainda que esse jardim seja a fazenda de café que possui em Amparo (SP). As críticas de Mosley podem ser um cenário onde a semeadura é para florescer muito mais que a matéria prima de um bom espresso…









* Wagner Gonzalez é jornalista especializado em automobilismo de competição, acompanhou mais de 350 grandes prêmios de F-1 em quase duas décadas vivendo na Europa. Lá, trabalhou para a BBC World Service, O Estado de S. Paulo, Sport Nippon, Telefe TV, Zero Hora, além de ter atuado na Comissão de Imprensa da FIA. Atualmente é diretor de redação do site www.motoresclassicos.com.br. Fale com o Wagner Gonzalez: wagner@beepress.com.br.

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