domingo, 3 de novembro de 2013

MANCHETES COMPROVAM: MÁFIAS IMOBILIÁRIAS EXIGEM MAIS DO MP,
por Daniel Lima*

As manchetíssimas de primeira página do Estadão e da Folha de S. Paulo deveriam servir de dogma para a mídia não se descuidar da cadeia de corrupção envolvendo gestores e servidores públicos e máfias imobiliárias. E são mais um chute nos fundilhos dos aparvalhados juramentados que pretendem calar este jornalista. 

Está faltando ao Ministério Público da Província do Grande ABC agir com mais aparelhamento funcional para acabar com a farra do boi do setor imobiliário. Afinal, o que se passa na Capital é um repeteco do escândalo do Semasa, durante a Administração Aidan Ravin, noticiado fartamente e até agora sem encaminhamentos transparentes ao Judiciário. Outros Semasas estão escancarados a investigações. Vou mais longe: há diversos artifícios a lubrificar a engrenagem de enriquecimentos ilícitos que colocam na rabeira de potencial de receitas ilícitas o esquema do ISS paulistano. 

Não fosse o Corregedor-Geral do Ministério Público do Estado de São Paulo a denúncia desta revista digital sobre a falcatrua que transferiu aos acervos do conglomerado MBigucci uma área nobre de São Bernardo, até então vinculada à Prefeitura, o caso teria permanecido engavetado. Assim o decidiu o Gaeco, uma divisão especializada em crime organizado do MP na região. Por razões que somente a promotora pública responsável pelo Gaeco poderia explicar, jogou-se na lata do lixo série de informações e provas. Felizmente o Corregedor-Geral entrou em campo, determinou que se realizassem análises preliminares e, confirmadas as suspeitas de irregularidades (mais que suspeitas, são provas documentais deste jornalista e de uma instância judicial da Capital), o inquérito civil foi aberto. 

No mesmo caso de intervenção do Corregedor-Geral do Ministério Público paulista, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, preferiu esconder documentos solicitados ao então Procurador-Geral do Município, José Roberto Silva. O mesmo servidor público que assegurou a este jornalista providências em âmbito administrativo, inclusive punição a funcionários. Em seguida, o procurador acabou virando secretário de Finanças da Prefeitura de Mauá, petista como a de São Bernardo, e nenhuma medida foi determinada. 

O empenho de Luiz Marinho no caso do Marco Zero, batismo do empreendimento imobiliário da MBigucci naquela área surrupiada do Poder Público, está para o empenho do prefeito paulistano Fernando Haddad assim como a qualidade técnica do Jabaquara de Santos para o Bayern de Munique. A série de denúncias do Diário do Grande ABC apenas confirma o referencial com que Luiz Marinho deve ser saudado quando a temática for ética pública.

Árvore frondosa

É frondosa a árvore de corrupção do setor imobiliário na Província do Grande ABC. Basta o Ministério Público avançar em investigações que serão desbaratas quadrilhas de servidores públicos e de empresários bem postados nos meios sociais, gente aparentemente acima de qualquer suspeita. E só estão acima de qualquer suspeita porque o entorno é assemelhado. Há corrente mutuamente protetora de delitos. 

Se o MP quiser, este jornalista apresenta fontes de informação que vão ajudar a reduzir o grau de corrupção no setor. Só é preciso assegurar anonimato. O único idiota a mostrar a cara e a sofrer demandas judiciais, além de ameaças diversas, é este jornalista. Querem porque querem me exaurir emocionalmente, financeiramente, socialmente. Mal sabem que tenho um pacto de autopreservação. 

Aos leitores que não tiveram a oportunidade de ler o Estadão e a Folha de S. Paulo, reproduzo as chamadas de primeira página logo abaixo das manchetíssimas.

Da Follha de S. Paulo -- “Fiscal confirma esquema de propina”

O fiscal Luiz Alexandre Magalhães, um dos quatro servidores da Prefeitura de São Paulo presos, acusados de cobrar propina para liberar novos imóveis, aceitou fazer uma delação premiada. Segundo o promotor Roberto Bodini, o fiscal apresentou detalhes que “só alguém que participava do grupo conhecia”. Entre outras informações, o servidor contou que os quatro recebiam a maior parte da propina em dinheiro vivo. A Folha confirmou a confissão com mais dois profissionais da investigação. A defesa de Magalhães nega que ele tenha admitido participação no esquema. Magalhães possui um patrimônio de R$ 18 milhões, segundo a investigação. O grupo oferecia às construtoras a chance de reduzir o imposto devido se pagassem comissão. A fraude pode ter gerado prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres públicos. O prefeito Fernando Haddad (PT) disse que há outros envolvidos na fraude na Secretaria de Finanças, mas não citou nomes. Anteontem, ele ligou para o seu antecessor, Gilberto Kassab (PSD), para dizer que a investigação é impessoal. Kassab, no entanto, tem reclamado da maneira como a operação foi divulgada para a imprensa. 

Do Estadão -- “Fraude na Prefeitura envolve 5 construtoras aponta MP”

Pelo menos cinco incorporadoras foram identificadas pelo Ministério Público como as primeiras suspeitas de ligação com os fiscais da Prefeitura de São Paulo presos anteontem, revelam Artur Rodrigues, Bruno Ribeiro e Diego Zanchetta. Parte da própria propina paga em troca de redução de ISS era entregue em dinheiro, no 11º andar da sede da Prefeitura, onde ficava o ex-subsecretário de Finanças Ronilson Rodrigues. O então prefeito Gilberto Kassab (PSD) despachava no 5º andar. Investigações mostram que o valor chegava a R$ 280 mil por semana. São citadas as empresas Trisul, BKO, Tarjab, Alimonti e Brookfield, que negam as acusações. Pelo menos mais dois servidores aparecem como suspeitos de participar do esquema. 

Demais é pouco

Os estúpidos de plantão, que fazem o jogo dos poderosos de sempre, dizem que escrevo exageradamente sobre o mercado imobiliário e especialmente sobre Milton Bigucci. Tudo na tentativa de desclassificar ou minimizar estas linhas. São os grandes jornais e a mídia eletrônica de maior peso que subestimam uma atividade que, juntamente com algumas outras já mencionadas aqui (Educação, Saúde, Transporte Público e Empreiteiras de obras) comandam os cordéis de desmandos com o dinheiro público. 

Já sugeri que o Ministério Público crie uma instância especifica para o setor imobiliário, mas o segredo do cofre das malandragens está ao alcance de todos que queiram botar a mão na massa. Há servidores públicos e há empreendedores privados, em larga maioria, que não suportam mais conviver com os espertalhões, porque sofrem as dores de concorrência desleal. Os infratores sempre levam vantagem. Até o Ministério Público aparecer, é claro. 


* Daniel Lima é jornalista e diretor da revista digital Capital Social - www.capitalsocial.com.br 

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