Já faz algum tempo, acho que uns 10 anos ou talvez mais. O telefone toca e a Marta Pereira, da Autodata (hoje na PrinterPress), pediu: “você topa escrever sobre a GM? Coisas de bastidores, curiosas, que mostrem um pouco do que acontece dentro de uma grande empresa e que o público não tem conhecimento”. Ela me pedia para ir em busca, na minha memória, de fatos ocorridos durante meus 18 anos no Departamento de Imprensa da montadora.
Por alguns segundos me fiz de Roberto Carlos e pensei "foram tantas emoções!". A primeira cena que me veio à mente não foi algo que vivi enquanto trabalhava na GM, na sua sede em São Caetano do Sul, mas algum tempo antes.
Numa segunda-feira, quando ainda era repórter de economia de "O Globo", de gratas recordações, fui entrevistar Joseph Sanchez, o presidente da General Motors. Quando entrei na sua sala, lá estava aquele "gringo", mais de 1.90 m, olhos claros e sorriso cativante, trajado rigorosamente como um executivo de multinacional: gravata, camisa branca, terno escuro.
Mas havia um detalhe nele que me fez pensar: "êita 'gringo' doido!" Ele vestia, sob a camisa branca, fina, quase transparente, uma camiseta do Timão, que havia goleado o São Paulo (mas não o meu querido Santos F.C.) no domingo.
Ele era corintiano fanático, que frequentava o Morumbi nos dias em que seu time jogava, sempre acompanhado de seu fiel escudeiro e amigo, Romeo Neto, que durante muitos anos comandou o Departamento de Relações Públicas da GM, querido amigo com quem convivi muitos anos e até hoje me lembro com carinho e muita saudade.
Sanchez deixou a GM Brasil antes que eu fosse para lá. Seu carisma foi confirmado pela homenagem que nós, jornalistas do setor, prestamos a ele na sua partida. O convidamos para um almoço - era sempre ele quem fazia isso - e lhe entregamos uma bandeira do Corinthians, assinada por todos nós. Ele retornaria aos Estados Unidos para presidir a Oldsmobile (onde o visitei já na GMB), e depois a Saturn.
Além do Timão, Sanchez tinha um outro prazer na vida, adorava provocar Wolfgang Sauer, então presidente/mascate da montadora imbatível naqueles tempos, a Volkswagen. Vivia dizendo que a GM iria ultrapassar a VW e assumir a liderança no mercado brasileiro. Era mesmo pura provocação, já que a sua montadora não tinha, na época, a menor chance por uma razão muito simples: faltava-lhe capacidade de produção. Mas o filho de imigrantes espanhóis - daí o Sanchez - queria mesmo era provocar. Quando se encontravam, davam muitas risadas com esta provocação de Sanches. Se ainda fosse vivo, o ex-presidente teria comemorando o feito da GM, que ganhou a liderança do mercado, finalmente ultrapassando a sua rival em 2015 (ou terá sido antes?). Mas, antes em 1985/86/87, o Monza foi tricampeão em vendas anuais, batendo o Fusca, feito que nunca foi alcançado, até hoje, por um carro médio.
Um dia, lá estava eu dedilhando na minha Remington, na saudosa Sucursal de "O Globo", - (na esquina de Consolação com São Luiz, ao lado do "Paribar", um delicioso restaurante, com varanda para a Praça D. José Gaspar, atrás da Biblioteca Mário de Andrade, que fechou, porque os trombadinhas começaram a roubar os filés dos pratos dos frequentadores, que foram desaparecendo) - quando o telefone tocou. Era André Beer, hoje meu querido amigo, à época diretor executivo da GM, que me chamava para uma conversa.
Fui e aceitei seu convite para ser Gerente de Imprensa da GM, de 1º de setembro de 1983 até 31 de agosto de 2001, quando resolvi abandonar a gravata e tentar voltar para uma Redação. Consegui, com o convite do meu amigo Moisés Rabinovici, diretor de Redação do Diário do Comércio, que me convidou para fazer o DCarro, o caderno de veículos da casa, que durou mais de 10 anos.
Entre as emoções vividas dentro da GM algumas foram mais marcantes que outras, como sempre acontece.
* chicolelis é jornalista e escritor de livros infantis. Tem passagens pelos jornais A Tribuna, de Santos, O Globo e Diário do Comércio. Trabalhou nas assessorias de imprensa da Ford, Goodyear e General Motors do Brasil. Atualmente é colaborador da Motorpress Brasil onde criou a coluna Além do Carro. Escreva para o Chico: chicolelis@gmail.com.
* chicolelis é jornalista e escritor de livros infantis. Tem passagens pelos jornais A Tribuna, de Santos, O Globo e Diário do Comércio. Trabalhou nas assessorias de imprensa da Ford, Goodyear e General Motors do Brasil. Atualmente é colaborador da Motorpress Brasil onde criou a coluna Além do Carro. Escreva para o Chico: chicolelis@gmail.com.
O Sr. Joe Sanchez sempre nos surpreendeu com sua simplicidade e respeito aos funcionários. Sempre que ia à Brasilia, fazia questão de passar pelo Escritório Regional da GM e cumprimentar um a um, todos os funcionários que lá estavam. Muitas vezes, ainda parava pra bater um papinho. Tinha um inseparável chaveiro do TIMÃO e fazia questão de exibí-lo, rodando-o em um dos dedos de sua mão!
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