Luiz Carlos Secco - Foto: ABIAUTO |
Quando recebi a confirmação do falecimento do Seccão (Luiz Carlos da Silva Secco), me veio à mente a figura de dona Hilda, sua secretária nos tempos em que eu trabalhei com o meu grande mestre e de muitos de nós, na Ford, ali no Centro Tecnológico na avenida Rudge, em São Bernardo do Campo, que hoje abriga uma universidade.
Mas, por que me lembrei dela? Porque estou certo de que ela trocaria sua vida pela do seu chefe, nosso querido Seccão, tal a forma respeitosa e, acima de tudo, carinhosa com que ele tratava aquela senhora nordestina que o defendia até mesmo do próprio presidente da Ford, à época Joseph W. O’Neill, caso ele representasse uma ameaça.
E o Seccão era esse cara, capaz de ser amado por todos, respeitado em todos os lugares por onde passou e por todos aqueles que o conheceram.
Eu o conheci, por intermédio do Sérgio Aparecido, meu querido companheiro no jornal A Tribuna (Santos/SP), que ao deixar a Ford, para ser o homem de Imprensa da Scania, indicou-me para o Seccão como seu substituto.
E lá fui eu, serra acima, aos 27 anos tremendo de medo do que enfrentaria, muito embora o Serginho tenha garantido que eu jamais tivera um chefe como aquele, com quem conviveria nos próximos tempos. Ele tinha razão! Seguia o ano de 1973 e, ao entrar na sala da gerência, depois de passar pelo crivo da dona Hilda, fui recebido com um sorriso que se eternizou em minha memória.
Gentil, como todos o conheciam, pediu que eu sentasse, ofereceu café e, sempre com uma voz suave e amiga, me fez perder o medo que me consumiu na subida da Via Anchieta (rodovia que liga Santos à Capital, pois a Imigrantes só foi inaugurada em 1976, por Ernesto Geisel, então presidente da República).
Lembro-me do primeiro conselho dele.
- Para nós, aqui na assessoria de Imprensa da Ford, o pequeno jornal de uma cidade qualquer do nosso Sertão, Interior ou Litoral, tem o mesmo valor que o grande de uma capital. Aqui nós respeitamos a Imprensa como um todo, sem dar preferências para ninguém. Respeitamos, acima de tudo, o jornalista.
E, ao longo do tempo percebi que assim era o trabalho do Seccão, sempre disposto a atender quem quer que fosse de onde fosse. Sempre protegido pela dona Hilda, uma figura que se fazia de brava/fera, mas nunca a vi destratar ninguém, principalmente da Imprensa.
Minha primeira viagem Ford
Acho que a primeira viagem que fiz pela Ford foi levar aquele “horrível” Maverick 6 cilindros, com aquele igualmente horrível motor usado no jipe e na Rural, para testes no Rio de Janeiro.
Acontece que naqueles dias, também deveria ser levado para o Rio um V8, este sim, um avião (para a época, porque hoje ele leva “ralo” de qualquer 1.0 turbo que “voa” por ai).
O Reynaldo Lavia, grande companheiro, que respondia pela Imprensa na área de competição, um forte da Ford à época, logo se ofereceu para levar o “bólido”. Mas, ao saber que seria o seis cilindros, amarelo fosco, que além de “horrível” com sua mecânica, também era feio que doía (dói, porque ainda anda por ai) pediu pro Seccão me mandar, pois eu iria passear por Copacabana, tomar um chopinho no Barril 1.500 e comer uma pizza na Fiorentina.
Ele concordou me chamou e, pedindo desculpas, (só ele mesmo para ter tal atitude) falou que eu deveria levar o carro ao Rio de Janeiro. Foi uma viagem terrível, pois o carro não andava, não tinha retomada e nem fazia curva direito. Um horror! Mas o Seccão não deu desculpa alguma, apenas falou que como eu era marinheiro de primeira viagem, a minha primeira missão seria aquela.
Mas foi legal!
E ele tinha uma coisa que fazia sempre: reunia a turma (eu, Calos Roberto Costa, Reynaldo Lavia e o magnifico Mathias Petrich) para trocar ideias sobre os próximos acontecimentos e os passados, para ver se alguma coisa tinha saído errado e o que deveríamos acertar.
E tem uma bela história, que alguém já contou um dia, mas que vale repetir aqui. Seccão era muito criativo, sempre foi, uma ocasião, durante um teste de durabilidade de um novo lançamento, o Jornal do Carro (quanta saudade dele no JT) alugou um helicóptero para ter fotos do novo carro (acho que era o Corcel II) e ao avistar o aparelho, Seccão gritou para os engenheiros: tirem toda a roupa (incluindo as íntimas), deitem-se no carro virado de frente para o fotografo que, salvo engano foi um dos seus melhores amigos, Oswaldo Luiz Palermo, o Oswaldinho.
Tinha outra coisa que ele sempre adorou e transmitiu para seu filho, o Sequinho, o ciclismo. Era um expert no assunto. Por isso, recentemente, toda vez que, na TV, eu assistia um trecho do “Tour de France” eu ligava para ele me explicar porque daquela “confusão” dos ciclistas ficarem revezando entre eles, mesmo não sendo da mesma equipe. Paciente e gentil, ele explicava sem demonstrar nenhuma contrariedade por ter um interlocutor tão ignorante no assunto. Ele era assim, sempre gentil, sempre paciente.
Esse era o Seccão, como eu sempre o chamei, meu grande e querido mestre, e com quem falei há cerca de 15 dias, ouvindo-o reclamar que tinha ideias, mas não mais conseguia escrever, coisa que sempre fez muito bem.
O Céu recebeu mais um escriba e mais um ser generoso.
**A caricatura é um presente do Bird Clemente para o chicolelis, que tem no ex-piloto, seu maior ídolo no automobilismo.
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