segunda-feira, 3 de novembro de 2014

CÂMBIO AUTOMATIZADO, BRASIL NA FRENTE.
por Eustáquio Sirolli*

O tema câmbio automatizado é intrigante e abrangente no seu contexto técnico e mercadológico. Segundo fonte de um fabricante de câmbios, fui informado que o Brasil é o país com maior nível de aplicação desse componente com automatização dos engates e, independente de ser verdade ou não, o fator relevante é que os grandes fornecedores de caminhões pesados do mercado nacional oferecem o item em praticamente 100% dos seus caminhões pesados. Seja totalmente automatizado, sem pedal de embreagem, ou semi-automatizado, ainda com pedal de embreagem.

Aqui gostaria de fazer um depoimento em forma de narrativa, assim teremos condições de entender a razão dessa nossa situação, aliás muito boa para o mercado, para o transportador, para a mobilidade e para o condutor. Vamos lá, começando pela situação vigente numa época não muito distante, quando duas marcas de caminhões tinham um sistema de engate de marchas muito bom, e uma outra marca tinha a mesma função, mas não tão amigável para se engatar.

Essa última precisava fazer algo para mitigar essa desvantagem técnica. Discussões foram feitas, possibilidades técnicas foram avaliadas e chegou-se ao câmbio semi-automatizado como a alternativa mais rápida e que traria uma vantagem argumentativa aos seus produtos, com benefícios expressivos para o transportador, pois com isso a introdução de novos condutores seria facilitada, já que um grande problema do aprendizado de motoristas de caminhões pesados estaria resolvido com a simplificação dos engates das marchas.

Nessa fase 1, todos os veículos receberam o cambio semi-automatizado, mas o objetivo da empresa era a aplicação do cambio totalmente automatizado, sem o cansativo pedal de embreagem e alavanca de engates das marchas.

Então, em 2010, se não me falha a memória, essa mesma empresa aplicou o câmbio totalmente automatizado nos seus caminhões pesados, ficando só alguns modelos com o semi-automatizado. Atualmente, praticamente todos os veículos rodoviários e fora-de-estrada já possuem esse componente. Consequência disso foi que todos os fabricantes nacionais de caminhões tiveram que seguir o concorrente que iniciou essa onda pró-automatização dos câmbios.

Então fica aquela sensação que o mercado evoluiu rapidamente em direção a uma tecnologia top, que era aplicada só em veículos/caminhões mais sofisticados, mas na verdade a sua introdução foi para melhorar um sistema que era oferecido ao mercado e não tinha o nível dos seus concorrentes mais diretos. Em outras palavras, eliminar uma desvantagem técnica, mas a análise tem que ser um pouco mais aprofundada.

Vamos dar mais um passo nessa direção, esclarecendo que a automatização do câmbio elimina a alavanca mecânica de troca de marchas, que é custosa, elimina o pedal de embreagem, que tem muitos detalhes a onerar sua fabricação, e ainda pode, em muitos casos, eliminar os sincronizadores, que também tem seu custo, pois a eletrônica faz os engates e também permite eliminar aquele “buraco” no assoalho dos caminhões, que demanda cuidados especiais para evitar entrada de ruído, poeira e calor no interior da cabine.

Resumindo, ao se fazer um balanço entre câmbio mecânico e câmbio automatizado, o custo total no veículo não deve ser um pênalti. No mínimo, fica compensado pelo que sai e pelo o que entra em termos de componentes.

Agora, os verdadeiros benefícios da automatização dos câmbios são:

- Segurança, pois as engrenagens estarão sempre acopladas ou monitoradas nos casos de “banguela eletrônica”, função que o cambio explora para economia de combustível.
- Conforto, já que quem faz os engates é a eletrônica embarcada.
- Proteção ao trem de força, já que trancos são evitados.
- Facilidade para contratação de motoristas menos experientes, já que um grande problema de treinamento de motoristas para veículos com cambio mecânico foi eliminado.
- Bem importante, o consumo médio da empresa melhora muito, pois nivela os motoristas menos experientes aos mais experientes, com menor dispersão de consumo.

Na essência, o caminhão torna-se mais “humano”, permitindo ao motorista concentrar-se na condução do veículo ao invés de ficar “brigando” com o sistema de engate mecânico. No fim, um produto que custa na faixa de 350-600 mil reais, merece algo mais tecnológico do que uma “vareta” para trocar as marchas!

A Volvo denomina seu cambio totalmente automatizado de I-Shift e tem a função I-See, que avalia a topografia com antecedência, a Scania vai de Optcruise e a Mercedes de Powershift, ou seja, todas estão com o item praticamente de série. Nada mais justo com um mercado de dimensões continentais e rotas de milhares de quilômetros, que agora podem ser vencidas com mais conforto, economia e segurança.

*** artigo publicado originalmente na Revista TranspoOnline. Acesse: www.transpoonline.com.br.










Eustáquio Sirolli, é gerente de Desenvolvimento de Produto na Foton AUMARK do Brasil Ltda.

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