quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O BRASIL MORREU.
Por Eduardo Pincigher*

E o Lula aparece afirmando que o problema é que tem muita gente que não se acostuma a ver pobre na poltrona ao lado do avião. Ele resume a crise a isso. O velho maniqueísmo do "nós contra eles", "pobre versus coxinha".

Pressinto que esse tipo de comportamento da classe política brasileira, uma vez que o ex-presidente é apenas mais um nesse mar de cinismo, tem inspirado o povo brasileiro a descumprir regras básicas de convivência em sociedade.

Gente comum, idônea e cumpridora de suas obrigações tem cometido lá seus crimes. Ou compactuado com situações irregulares. E abertamente. Sem qualquer pudor em arcar com penas impostas pela Justiça.

Talvez esse seja o tiro de misericórdia àquele lema estapafúrdio do governo militar, anos 70, que apontava que o Brasil como o país do futuro. Nunca será. O nosso futuro é tenebroso, a se perpetuar a propagação do "errado" baseado no "mexeu comigo, eu me vingo".

Tenho cá a sensação de que o Lula tem convicção absoluta que sua infância precária legitima o triplex do Guarujá e o sítio de Atibaia. "Eu mereço, depois de tudo o que passei e fiz por esse país".

Mas o povão também entrou nessa. Você deve ter visto, dias atrás, gente reclamando da apreensão de motos importadas num campeonato de motocross. O que há de errado nisso, considerando que a documentação das bikes estava (devia estar) incorreta? Só porque EU gosto do esporte, defendo que a lei deva se ajoelhar a ele?

Suspeito que quando um Lula, uma das figuras mais proeminentes da história dese país (goste-se ou não dele), vem à TV e diz em horário nobre que "o PT cometeu erros, mas acertou muito mais", ainda que os tais erros tenham construído a maior teia de corrupção de todos os tempos, essa postura cínica interfere no cidadão.

Na lógica do líder, as benfeitorias suplantam os eventuais crimes cometidos, inclusive porque a lógica petista é amealhar recursos (oriundos de corrupção) para se sustentar no poder e promover mais benfeitorias ao povo. Separar um quinhão pra si é absolutamente normal nesse processo.

O cidadão normal passa a achar, creio eu, que é natural apropriar-se de um dinheiro que não é dele, por exemplo. E o faz bradando com o peitinho empinado que "sempre se pautou pela honestidade". Você responde que está documentado e o cara... prossegue. Isso é crime. Ele topa ir à Justiça e deve achar que o ressarcimento sob a ordem judicial "compensa" o aborrecimento que você terá em processá-lo.

Como também é previsto na legislação que não se pode caluniar, difamar ou ameaçar ninguém. E os meios digitais estão por aqui para nos mostrar que isso ocorre regularmente. Soube de um caso em que o criminoso até desafiou a Justiça. "Estamos no Brasil. Nada que meia-dúzia de cestas básicas não resolva". Isso foi escrito! Onde está o pudor de se por em xeque?

O pudor sumiu. E sumiu porque nossa sociedade está e é doente. Os valores universais de correção, honestidade, bom senso foram suprimidos. Vale o desejo de se dar bem. E vale o culto ao mimo. Somos mimados. Achamos que qualquer dorzinha vale a vingança, ainda que criminosa.

Não dá para dar sempre nomes aos bois. Até porque os bois possuem protuberâncias anatômicas que os incomodam e a citação sempre torna a tal dor mais aguda. E é óbvio: não tô aqui pra difamar ninguém. Você me mataria se, depois de um texto tão longo, eu me contradissesse desse modo...rs.

Lula não está só.











* Eduardo Pincigher é jornalista.

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