sexta-feira, 4 de maio de 2018

1,5 MILHÃO DE QUILÔMETROS PARA SALVAR AS ARARAS AZUIS.
Por Chico Lelis*


Montadoras rodam quilômetros para desenvolver veículos. 
A Toyota usou para salvar as araras azuis.


Quantas vezes lemos nos jornais, revistas e material promocional das fábricas, que o modelo “X” rodou milhares e milhares de quilômetros, em testes para garantir que seu produto será confiável para o consumidor. A Toyota também faz isso com os seus produtos, mas um caso em especial vale a pena conhecer.

Faz 27 anos que a montadora adotou o Instituto Arara Azul, instalado no Pantanal criado para evitar que a espécie Arara Azul deixasse de existir. O primeiro passo foi ceder um Bandeirante para que a bióloga Neiva Guedes levasse adiante seu projeto de salvar da ave  em extinção. 

Durante 11 anos, o veículo rodou 480 mil km, vencendo os obstáculos do Pantanal, com suas constantes cheias.

Hoje quatro Hilux atendem às necessidades do Instituto. As duas primeiras chegaram em 2001, quando o Bandeirante foi aposentado. Em 2006, foram trocadas, por três novas picapes.

Histórias de salvamentos


Nestes anos todos, os veículos da Toyota serviram para rodar estes 1,5 milhão de quilômetros buscando ninhos, enfrentando terrenos alagados, levando e trazendo materiais entre a sede e as bases avançadas. E foi num deles que a Fernanda Fontoura, bióloga que trabalha no Instituto, viveu sua maior aventura.

Era uma época de enchentes e havia necessidade de chegar a um ninho onde estava um filhote de Arara Azul. O caminho estava com muita água acumulada fazia muito tempo. A Hilux venceu as dificuldades e Fernanda conseguiu chegar para fazer a identificação das aves, colocar microchip, fazer coleta de sangue e todos os procedimentos necessários.


- Foi difícil – conta Fernanda – a cada momento achávamos que não iríamos conseguir. Mas, felizmente, tudo deu certo e conseguimos atender a todos os procedimentos. A volta foi ainda mais difícil, mas a missão estava cumprida.

Cézar Corrêa é quem se pode chamar de “braço direito” de Neiva no campo de trabalho. Sabe tudo sobre as Araras Azuis, conhece cada ninho e seu modo de falar mostra, claramente, que ele adora o que faz. No começo do ano 2000, predadores estavam atacando ninhos na reserva. Ele pegou a Toyota e seguiu para o local, que ficava distante 15 km da base. Os ninhos ficavam a 1,5 k um do outro.


Para evitar os predadores, ele e a equipe retiraram os ovos das araras, levando-os para um encubadora   no laboratório, para uma perfeita eclosão. Em seu lugar colocaram ovos de galinha. No tempo certo, fizeram a troca dos ovos, indo e vindo entre os ninhos, cuidando para que tudo desse certo. E deu!

Hoje o projeto das Araras Azuis conta com quatro Hilux, de última geração, que, com suas antecessoras, contando o Bandeirante, já percorreram 1,460 milhão de quilômetros, o que representa média de aproximadamente 54 mil km/ano. Parece pouco, mas lembre-se que são distâncias percorridas em terra e alagados.


Neiva Guedes lembra que o trabalho tem resultados positivos em razão da mobilidade que tem para manejo dos ninhos, envolvimento com as comunidades pantaneiras,andar pelo Pantanal, conhecer a espécie, realizar experimentos e, sobretudo, nunca abandonar o campo.


Estagiário, buscando sinal de um filhote com rádio. O filhote voou do ninho e o rádio colocado nele, emite um sinal, captado pela antena. O sinal mais forte indica a proximidade e a direção do filhote. Então, o grupo saia em campo, com a antena num ponto mais alto, procurando algum sinal do filhote. Encontrando, a busca é feita com binóculos.






* chicolelis - chicolelis@gmail.com  Jornalista com passagens pelos jornais A Tribuna (Santos), O Globo e Diário do Comércio. Foi assessor de Imprensa na FordGoodyear e, durante 18 anos gerenciou o Departamento de Imprensa da General Motors do Brasil. Assina a coluna “Além do Carro”, na revista Carro, onde mostra ações do setor automotivo nos campos Social e Ambiental.