domingo, 17 de fevereiro de 2019

A ARARA QUE CONQUISTOU UMA CIDADE.
Por Chico Lelis*


Tudo começou quando o Instituto Arara Azul, com sede em Campo Grande (MS), lá no começo dos anos 90, com a colaboração da Fundação Toyota, iniciou um trabalho para salvar a Arara Azul da extinção. Elas eram apenas 1.500 indivíduos (como falam os especialistas).

Deu certo! E hoje já passam dos 6.500.

Agora, um novo projeto, o Aves Urbanas, também com o apoio da Fundação Toyota, deu novas cores à arara. Ela deixou de ser só azul, agregando duas novas, o amarelo e um pouco de verde. E virou Canindé, o xodó de Campo Grande e também, oficialmente, a “Ave Símbolo da Cidade”, conforme relata a presidente e fundadora do Instituto Arara Azul, a bióloga Neiva Guedes.

Em 2009 elas foram chegando...  chegando e os moradores as recebendo bem. Foram fazendo seus ninhos em troncos de palmeiras mortas e hoje eles já são mais de 200 e mais de 500 filhotes nascidos desde então. Em uma pesquisa feita pela bióloga Aline Calderan, foi constatado que 90% da população de Campo Grande gosta das araras, não se incomodando com suas algazarras ou sujeira que estão acostumadas a fazer.

Em seu trabalho de mestrado na Universidade Anhanguera Uniderp, a bióloga, que atua no Instituto Arara Azul e no Projeto Aves Urbanas, revela que o questionário aplicado “permitiu conhecer o perfil social e fazer uma análise da percepção ambiental dos entrevistados, saber se eles consideram as araras Canindé importantes para a cidade e se elas são bandeira para a conservação da da biodiversidade urbana”.

Segundo Aline, foi possível constatar que os entrevistados, em sua maioria, têm interesse por questões ambientais e “percebem a  importância da biodiversidade urbana e dos serviços ecossistêmicos que ela fornece, sabem que o homem faz parte deste meio e que a falta de conservação reflete na sobrevivência dos seres vivos, todavia, nem todos praticam ações que ajudem na conservação das áreas verdes urbanas”.


Para os moradores de Campo Grande, a arara Canindé é muito importante para a visibilidade da cidade e pode ser usada “como espécie-bandeira no processo de sensibilização e conscientização”.

Além disso, acrescenta Aline “foi observado que nas sete regiões analisadas na cidade, a idade, a escolaridade e o sexo, não influenciaram negativamente a percepção dos moradores com relação a importância das araras para Campo Grande, já para a necessidade de se praticar a conservação das áreas verdes urbanas, todos consideram que esta prática é essencial”.


População ajuda construir ninhos

Uma prova da aceitação das araras por parte da população é o fato de muitas pessoas cortarem as copas das palmeiras para que as aves façam ali seus ninhos, nos quintais ou frente das casas. Outros pintam murais ou produzem peças de artesanato sendo a Canindé o tema principal.

E agora, no rastro das araras Canindé, estão chegando outras espécies para ampliar o Projeto Aves Urbanas. São os Tucanos e os Maracananzinhos de Cara Amarela, que se aproveitam dos ninhos abandonados pelas queridinhas da cidade para ali se instalarem.











chicolelis - chicolelis@gmail.com - Jornalista com passagens pelos jornais A Tribuna (Santos), O Globo e Diário do Comércio. Foi assessor de Imprensa na FordGoodyear e, durante 18 anos gerenciou o Departamento de Imprensa da General Motors do Brasil. Assina a coluna “Além do Carro”, na revista Carro, onde mostra ações do setor automotivo nos campos Social e Ambiental.