quinta-feira, 6 de junho de 2019

PESQUISADORES REGISTRAM IMAGENS DE MICOS-LEÕES-DA-CARA-PRETA NO LITORAL DE SÃO PAULO

Registro reafirma grau de conservação de Parque Estadual e a necessidade de preservação da espécie


Espécie é endêmica e só existe em uma área restrita nos Estados do Paraná e de São Paulo. Foto: Celso Margraf

Armadilhas fotográficas instaladas no entorno do Parque Estadual do Lagamar no Ariri, município de Cananéia, no litoral de São Paulo, registraram a presença de um grupo de micos-leões-da-cara-preta (Leontopithecus caissara). Essa é uma espécie de primata considerada endêmica, ou seja, só existe em uma área restrita nos Estados do Paraná e de São Paulo, na porção central da Grande Reserva Mata Atlântica, uma área que abrange dois milhões de hectares contínuos desse bioma no mundo.

O registro faz parte da atividade de monitoramento da população, prevista pelo Projeto de Conservação do Mico-leão-da-cara-preta, que teve início em março e é executado pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

Com os dados coletados por meio do monitoramento da espécie, a equipe do Projeto busca entender como os micos utilizam o local e qual é o estado de conservação da área, além de apoiar a gestão do Parque Estadual Lagamar de Cananéia (SP) e do Parque Nacional do Superagui (PR), moradia de boa parte da população da espécie.

A população estimada do mico-leão-da-cara-preta, classificada atualmente como ‘em perigo’ pela Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, é de apenas 400 indivíduos. De acordo com a coordenadora do projeto, Elenise Sipinski, as principais ameaças estão relacionadas ao isolamento de populações causado pela construção de um canal que separou o continente da ilha (Canal do Varadouro), promovendo desconexão de hábitat, além de outros fatores, como a perda e fragmentação de áreas naturais continentais de distribuição da espécie.

Além disso, eventos climáticos extremos também representam uma grave ameaça a estes animais. A área dos registros foi atingida, em dezembro de 2018, por um forte ciclone, destruindo aproximadamente 2,7 mil hectares de florestas. Diante da preocupação com o impacto deste fenômeno sobre a espécie, a equipe do Projeto escolheu justamente a área atingida para instalação das câmeras. O registro dos micos nesta porção reforça a necessidade e a importância das ações de conservação como forma de manter condições adequadas à sobrevivência da espécie.

Como uma forma de engajar a comunidade nesta iniciativa e alertar para a importância da conservação do bioma, além de auxiliar na geração de novos postos de trabalho, dois moradores da comunidade local foram contratados pelo Projeto para auxiliar no trabalho de localização dos micos. Além disso, o Projeto prevê a realização de diversas ações de educação e mobilização, reuniões e encontros com representantes de órgãos governamentais e com as comunidades locais.

Produção de Natureza


Segundo levantamento realizado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Brasil registrou em 2017 um total de 10,7 milhões de visitantes em suas Unidades de Conservação (UC), com a geração de cerca de 80 mil empregos diretos, R$ 2,2 bilhões em renda e outros R$ 3,1 bilhões em valor agregado ao Produto Interno Brunto (PIB). Além disso, os visitantes gastaram cerca de R$ 2 bilhões nos municípios do entorno das UC. Os resultados mostram que a cada R$ 1 real investido, R$ 7 retornam para a economia.

Nesse contexto, o registro de espécies raras, a exemplo do mico, reafirma o excelente grau de conservação e o potencial da região para a geração de empregos a partir de atividades orientadas de turismo de natureza. Mas para que isso seja possível é necessário que patrimônios naturais, históricos e culturais, sejam cada vez mais valorizados. “Um dos tesouros desta região é o mico-leão-de-cara-preta. Por isso esse registro é tão animador, pois essa espécie é extremamente rara e, por estar ameaçada, é um símbolo da luta pela conservação da natureza. É uma espécie encantadora e, ao torná-la ainda mais conhecida, valorizamos ainda mais a Mata Atlântica e as Unidades de Conservação”, afirma Elenise.

A iniciativa Grande Reserva Mata Atlântica utiliza o conceito de “produção de natureza” ao comprovar que áreas naturais bem conservadas e que mantêm espécies topo de cadeia e emblemáticas são um atrativo excepcional para atividades de turismo de natureza, promovendo oportunidades de renda para as comunidades locais e garantindo a proteção dessas áreas.

Para isso, o reconhecimento do poder público e da iniciativa privada sobre a importância de investir na conservação do patrimônio presente nesta região é essencial. A responsável técnica do Projeto, Guadalupe Vivekananda, reforça que outra preocupação no desenvolvimento das ações é “contribuir com o resgate do orgulho da população local em viver nestas áreas. Com isso, além dos aspectos de conservação, buscamos influenciar positivamente em todo o contexto local”.

A iniciativa conta ainda com apoio do PrimateActionFund, Mohamed bin Zayed Species Conservation Fund e de instituições parceiras como a Fundação Florestal do Estado de São Paulo, o Departamento de Fauna da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do estado de São Paulo (DeFau), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Instituto de Pesquisas Cananéia (IPEC), a Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD), a Universidade Federal do Paraná (UFPR), da Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fiocruz, além das Prefeituras de Guaraqueçaba e de Cananéia.

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