Para além da viabilização do acesso a oportunidades para pessoas e grupos vulnerabilizados, a utilização de capital privado permite que ele seja alocado de forma mais célere e flexível, diferentemente do setor público que, normalmente, envolve trâmites mais burocráticos e, portanto, demorados. Outro ponto positivo que o aporte de empresas a projetos socioambientais e educacionais tem é permitir o fortalecimento de soluções pensadas e executadas pelas próprias comunidades, envolvendo líderes locais e a população diretamente impactada pelas ações.
Nesse sentido, o apoio da Fundação Toyota do Brasil, realizado por meio de editais, para o desenvolvimento de projetos focados na qualificação e empregabilidade vem, desde 2021, transformando vidas de parte da população ainda invisibilizada pela sociedade. Mais de 500 pessoas já foram beneficiadas e, para 2024, três novas iniciativas receberão recursos para desenvolver atividades voltadas para impulsionar mulheres de comunidades rurais e quilombolas, pessoas com deficiência, refugiados e migrantes.
É importante destacar que o Investimento Social Privado não tem pretensão de substituir o papel do Estado. Suas atuações devem ser complementares e caminhar lado a lado na construção de uma sociedade melhor para todos. O ISP também não deve ser confundido com caridade ou assistencialismo, que envolve doações para atender a necessidades mais imediatas. O uso de capital privado em iniciativas de impacto tem um foco mais amplo e estratégico, buscando promover mudanças sistêmicas e sustentáveis na sociedade em áreas como educação, saúde, emprego e meio ambiente.
Em termos de valores investidos, o repasse financeiro feito por instituições privadas para projetos de impacto social no país é maior do que o orçamento de muitos ministérios do Governo Federal. Segundo o Censo GIFE 2020, o volume total desembolsado para ações filantrópicas alcançou a ordem de R$5,3 bilhões naquele ano, enquanto o Ministério de Portos e Aeroportos, por exemplo, garantiu R$4,9 bilhões para fomentar todo o setor em 2023. Esse é apenas um exemplo da força e da importância da filantropia no Brasil.
A boa notícia é que temos um grande potencial para expandir ainda mais nesse campo. Apesar de o ISP movimentar cerca de 0,2% do PIB brasileiro (dados do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social - IDIS), percentual baixo quando comparado aos Estados Unidos, em que esse número chega a 2% (Giving USA), no mais recente levantamento do World Giving Index (WGI), o Brasil se destacou no ranking dos países que mais praticam a filantropia. Saímos da 54ª posição, em 2021, para o 18º lugar em 2022. Se conseguirmos somar esse bom momento do ISP a uma reformulação da política tributária, que incentive adequadamente a prática, teremos, em um futuro não tão distante, mais motivos para comemorar.
Ao investir em projetos de interesse público e de impacto social positivo, o setor privado também assume a responsabilidade de contribuir para o desenvolvimento econômico do Brasil, diminuindo diferenças e trazendo renda e qualificação para as parcelas menos favorecidas da população. É crucial que as instituições privadas tragam o ISP para o centro de seus debates internos e o incorporem aos planejamentos anuais como uma prática contínua e de longo prazo. Quanto mais adesão, mais vidas são impactadas, e mais promissor será o futuro do nosso país. Afinal, a responsabilidade pela construção de um Brasil de e para todos é nossa também.
Otacílio do Nascimento, é diretor da Fundação Toyota do Brasil.
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