Simplesmente porque foi o pioneiro, depois de Christian Heinz, da geração de ouro de pilotos brasileiros. Ele foi escolhido pelo chefe da equipe Willys, Luiz Antonio Greco, para conduzir, em 1966, o primeiro carro internacional construído no Brasil pelo artista e mestre Toni Bianco para uma série de corridas de um torneio de carros da Fórmula 3 na Argentina, com a participação de equipes europeias e pilotos de vários países do mundo.
Como os torcedores brasileiros só admitem vitórias, poucos reconheceram o valor do desempenho de Wilsinho contra os melhores pilotos do mundo, registrando resultados importantes para uma estreia em corridas internacionais e também do primeiro carro construído no Brasil, com os limitados recursos disponíveis.
Wilsinho formou com Bird Clemente e Luiz Pereira Bueno e outros pilotos a equipe Willys, o principal time do automobilismo nacional, o de maior visibilidade para os apreciadores do esporte de corridas e o de maior número de vitórias, conforme me informou um estudioso uruguaio em automobilismo, cujo nome acabei esquecendo.
Na época, o profissionalismo começava a florescer no Brasil e as fábricas de automóveis existentes no País, como a Willys, Simca, Vemag e FNM, investiam na formação de equipes e usavam as corridas como instrumento de divulgação e promoção de vendas, disputando as provas com diferentes pilotos independentes.
Wilsinho foi um piloto de muitas vitórias e grande prestígio, e a sua atuação mais empolgante que assisti ocorreu em Vitória, capital do Espírito Santo, em corrida que não venceu, mas que foi autor de um show de atuação pelas ruas que formavam o circuito.
Na condução de um Alpine com motor de apenas 1,3 litro, acompanhou dois Simca Abarth mais potentes e deu trabalho aos pilotos da equipe Simca, exigindo forte empenho, que resultou num presente ao público que assistiu a um espetáculo inesquecível. O rugido do motor do carro de Wilsinho fazia-o parecer uma fera perseguindo a sua caça.
Além de piloto Wilsinho foi um jovem criativo, a começar com a produção de rodas de magnésio, que não existiam no País, com apoio da fábrica Italmagnésio, e a produção de carros da Fórmula Vê para o lançamento da categoria no Brasil junto com Emerson.
Com intensa criatividade, os irmãos Fittipaldi também lançaram o projeto do volante de direção esportivo com o nome de Fórmula 1 e, em 1969, a construção de um Volkswagen equipado com dois motores, que não venceu corridas e teve vida curta, mas que empolgou o público pelo seu desempenho contra carros mais modernos e potentes, até chegar alguns anos depois, como responsável pela construção do primeiro e único Fórmula 1 brasileiro.
O projeto envolveu também a laminação de uma carroceria de fibra, produzida pela Glasspac, que pesava apenas 17 quilos e que resultou num carro com peso total de 420 quilos com a relação peso-potência ligeiramente acima de 1 kg/cv. Possivelmente, na época, o Fusca mais veloz do mundo.
Depois do Fusca bimotor, o projeto da família Fittipaldi foi a viagem de Emerson para a Inglaterra o que encantou o público do automobilismo com o sonho de fazer o Brasil chegar à Fórmula 1, e abriu a oportunidade também para Wilsinho integrar a principal categoria do automobilismo mundial.
Enquanto Emerson ascendeu à Fórmula 1 com a equipe Lotus, de 1970 e 1973, Wilsinho acertou contrato com a Brabham, equipe que defendeu até a ousada construção do primeiro e único Fórmula 1 brasileiro, com o patrocínio principal da Copersucar. Esse carro foi um sonho que se tornou realidade, inicialmente pilotado por Wilsinho, em 13 corridas, da Argentina aos Estados Unidos, em 1975, e depois por Emerson Fittipaldi, também criando oportunidades para outros brasileiros, como Alex Dias Ribeiro, Francisco Serra e Ingo Hoffman, além de estrangeiros como Keke Rosberg e Arturo Merzário.
Além da carreira que realizou e os resultados que obteve em suas corridas, Wilson Fittipaldi Júnior orgulha-se do desempenho de seu filho, Christian Fittipaldi, que disputou corridas da Formula 1, Champ Car e NASCAR Winston Cup, três das principais categorias do automobilismo mundial, além de diversos campeonatos de kart e vencedor de campeonatos da Fórmula3 Sul-americana e Fórmula 3.000 Internacional.
Na Fórmula 1, Christian participou em 43 Grandes Prêmios e correu pelas equipes Minardi e Arrows, venceu duas provas da Fórmula Kart mundial e conquistou vitórias, em 1996 e 2002 no Road America e California Speedway e um segundo lugar na 500 Milhas de Indianápolis, em 1995.
Também venceu a tradicional corrida 24 Horas de Daytona, em 2004, 2014 e 2018; 12 Horas de Sebring, em 2015, 6 Horas de Watkings Glen e o título de piloto da United Sports Car Championship, em 2014 e 2015.
Agradeço e cumprimento Wilsinho pelos momentos de alegria e a emoções que proporcionou a mim, meus filhos e a milhões de brasileiros que acompanharam a sua carreira esportiva e o seu pioneirismo na construção de carros de corrida.
Fotos: Arquivo Autoestusiastas / Arquivo Formula Vee Brazil / Arquivo Internet
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*Luiz Carlos Secco trabalhou, a partir de 1961 até 1974, na empresa S.A. O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde, além da revista AutoEsporte. Posteriormente, transferiu-se para a Ford, onde foi responsável pela comunicação da empresa. Com a criação da Autolatina, passou a gerir o novo departamento de Comunicação da Ford e da Volkswagen. Em 1993, assumiu a direção da Secco Consultoria de Comunicação.
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