BYD e GWM, o que você conhece dessas marcas? Compraria um automóvel delas? Pois são as líderes em vendas de veículos elétricos no Brasil com larga vantagem sobre as demais. As duas juntas respondem por mais da metade das vendas de automóveis 100% elétricos, conhecidos como plug-in (PHEV e BEV, com recarga externa das baterias), e quase 30% do total de veículos eletrificados, que inclui os híbridos convencionais (HEV).
A BYD está no Brasil desde 2015, quando se instalou em Campinas e deu início à montagem de ônibus 100% elétricos e importação de caminhões e vans também igualmente movidos por eletricidade.
Lembro que, naquela época, muitos se referiam à marca como “bid” ou “be, ipslon, de). Mas somente em novembro de 2021, deu o primeiro passo na comercialização de automóveis de passeio, com a apresentação do modelo SUV Tan EV. Em abril de 2022, lançou o segundo, o sedã premium Han EV e hoje oferece seis modelos – Dolphin, Yuan, Seal, Tan, Song e Han.
A GWM chegou no Brasil há menos de um ano e é uma das maiores fabricantes chinesas. A empresa pretende investir no País 10 bilhões de dólares nos próximos dez anos e possui dois modelos, Haval H6 e Ora 3, em diferentes versões.
Comprou uma moderna fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis, no interior de São Paulo, e anunciou que deverá iniciar em maio o seu plano de produção local de automóveis eletrificados, com um utilitário esportivo (SUV) híbrido da linha Haval.
O mercado brasileiro de automóveis eletrificados existe desde 2012, mas somente em 2022 decolou, crescendo 77%, e 91% no ano passado. Pulou de 19 mil unidades, em 2022, para 93 mil atualmente.
Esse crescimento é muito positivo, como explica Ricardo Bastos, presidente da ABVE (Associação Brasileiro do Veículo Elétrico).
“A gente teve o ano passado de 2023, como muito especial, um ano importante para a eletrificação automotiva no Brasil, onde a gente teve além do crescimento quantitativo das vendas, crescemos mais de 90% sobre 2022, teve uma mudança qualitativa nas vendas, o crescimento de veículos plug-ins que são os híbridos plugins e os elétricos puros já representam mais de 50% das vendas”.
E a previsão é fechar 2024 com mais de 150 mil unidades. Somente em dezembro vendeu quase o mesmo volume que em todo o ano de 2022.
E Ricardo complementa sobre as boas expectativas para este ano.
“Então esse foi um movimento importante no ano passado, que marcou essa mudança qualitativa e a consolidação dos números e fechamos próximos dos 5% ainda abaixo, mas esse ano com certeza devemos chegar em torno dos 7% de participação de mercado, o que é muito bom”.
Parece pouco, mas representa uma mudança significativa de paradigma, como se o automóvel elétrico tivesse caído no gosto do consumidor brasileiro.
Como aconteceu há mais de 60 anos quando da implantação mais forte da indústria automobilística no Brasil, estamos vendo nascer um novo mercado, com uma cara totalmente diferente do que sempre estivemos acostumados.
Naquela época foi um tiro no escuro. Ninguém tinha informação e certeza sobre o potencial do país e passamos a produzir modelos que já haviam cumprido a missão e estavam em final de vida em seus países de origem, como a Kombi e o sedãzinho Volkswagen, Alfa Romeo, Simca Chambord, Rural Willys, Jeep, além de caminhões Mercedes-Benz, Ford, caminhões e perua Chevrolet Veraneio.
Com os carros elétricos, hoje a surpresa é justamente essas novas líderes. Marcas como Volkswagen, General Motors, Ford e, depois dos anos de 1976, também a Fiat, consideradas as quatro grandes e que sempre disputaram a liderança – cada uma com a sua época – mal aparecem, para não dizer que não aparecem. A Jeep e Peugeot, marcas da Stellantis, ocupam a décima oitava e vigésima posições, respectivamente, e a Ford, a décima nona.
Nesse novo cenário, a japonesa Toyota e a brasileira Caoa Cherry são as outras duas entre as quatro maiores marcas da atualidade. A Toyota lidera o mercado dos eletrificados com praticamente 100% de modelos híbridos convencionais, flex ou a gasolina, principalmente o Corolla e o Corolla Cross.
A Caoa Chery, terceira colocada, também possui uma linha mista, mas que perdem espaço a cada dia para os plug-in. Os números de 2023 demonstram uma virada no mercado de eletrificados no Brasil, no rumo dos veículos elétricos plug-in (PHEV e BEV) em detrimento aos híbridos convencionais.
De acordo com Ricardo Bastos, esse movimento se consolidou no ano passado.
“Os híbridos convencionais foram muito importantes nos últimos anos, continuam tendo boas vendas, mas agora há o crescimento do híbrido plug-in e do elétrico também”.
Os plug-in (que têm recarga externa das baterias) representaram 56% das vendas de eletrificados leves no ano, com 52.359 unidades, ultrapassando os híbridos convencionais HEV a gasolina e HEV flex (41.568), que até 2022 ainda dominavam esse segmento.
Em dezembro, os plug-in atingiram 70% das vendas totais de eletrificados puxados pelo excelente desempenho da BYD e GWM, que lançaram novos modelos com essas tecnologias.
O executivo identificou outros aspectos positivos com relação ao crescimento dos veículos elétricos que resultaram em novos investimentos.
“A visão de Brasil é essa. O cenário é positivo e permitiu que várias empresas, além de anunciarem projetos de produção nacional, também retomassem as fábricas que foram fechadas e agora vão voltar a produzir veículos. Então, isso é muito interessante também no ponto de vista econômico e do ponto de vista da indústria automotiva brasileira, incluindo mais um capítulo que é a eletrificação dentro da indústria forte que a gente tem no Brasil”.
Ricardo Bastos comenta que, assim como vem ocorrendo no Brasil, as vendas de elétricos devem seguir crescendo em todo o mundo, mas em um ritmo menor.
“Nós não estamos vendo um cenário de queda de vendas, talvez redução do ritmo de crescimento, é diferente. A gente espera que a eletrificação automotiva continue crescendo no mundo todo, inclusive no Brasil, em alguns países talvez esse ritmo seja menor do que foi nos últimos anos”.
Ricardo destacou também a importância do Brasi como novo alvo do mercado de veículos elétricos e considera fundamental o País aproveitar a nossa matriz energética.
“A gente tem que olhar os outros mercados, o Brasil tem uma base industrial que precisa exportar. Tem países que, por exemplo, o mercado de ônibus só importa se for elétrico. Neste caso, você não vai exportar nenhum ônibus para o Chile, praticamente está se fechando essa porta. A Colômbia também está avançando muito no ônibus elétrico, então a nossa indústria que já está produzindo ônibus elétricos, precisa criar competitividade e volume para competir com ônibus que vem da China. Então a gente precisa que o Brasil participe de todas as tecnologias. Essa é uma mensagem importante, na ABVE a gente apoia e puxa a questão do elétrico, mas para nós é importante que todas as tecnologias sejam cuidadas e tratadas obviamente cada uma com sua entrega”.
Como estamos vendo, com o novo cenário dos veículos elétricos e híbridos flex, a indústria automobilística brasileira tem grande oportunidade para avançar no cenário global como grande produtor e exportador de veículos elétricos.
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*Luiz Carlos Secco trabalhou, a partir de 1961 até 1974, na empresa S.A. O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde, além da revista AutoEsporte. Posteriormente, transferiu-se para a Ford, onde foi responsável pela comunicação da empresa. Com a criação da Autolatina, passou a gerir o novo departamento de Comunicação da Ford e da Volkswagen. Em 1993, assumiu a direção da Secco Consultoria de Comunicação.
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