sexta-feira, 12 de setembro de 2025

O “SOM” MAIS PERIGOSO DO TRÂNSITO. Por chicolelis*

Muitos ainda devem se lembrar daqueles desenhos animados (hoje chamados animação), em que o coiote era humilhado por um Papa-Léguas (Road Runner) na série Lonely Tunes da Warner Bros, lá pelos anos 70 ou 60. O pobre do coiote que, na vida real, é mais rápido que o pássaro, passava maus momentos na inversão das velocidades criada na série.

E a marca registrada do Papa-Léguas era o seu bip-bip, hoje revivido em uma forma simplificada, pelos motoqueiros de entregas (conhecidos como motoboys) nas cidades brasileiras, virando apenas “bibibi”! Mas leva a mesma carga de ousadia e desrespeito por tudo que aprendemos em relação ao bom e correto modo de trafegar pelas ruas e avenidas das cidades.

Como se fossem milhares de Papa-Léguas, grande parte desses entregadores não respeitam as mais simples regras de trânsito. Trafegam na contramão, sobre as calçadas e para eles o sinal está sempre verde, não importando a via que estão cruzando, que pode ser uma avenida de grande movimento, ou uma rua de bairro. Ligam o “bip-bip” e fazem os motoristas dos outros veículos de verdadeiros “coiotes”.

E, se o pedestre que não olhar para os dois lados da via, pode ser surpreendido pelo “Papa-Léguas” que ainda vai xingá-lo, mesmo que o sentido da rua seja para a direita e o motoqueiro ia para a esquerda. Isso quando não sobem na calçada para fugir do trânsito parado à sua frente e o “corredor” (espaço entre os carros) está estreito demais para ele conseguir trafegar por ele.

“Por aqui é igual”

Conversando com amigos que moram fora de São Paulo, onde este problema vem se agravando seriamente, sem que as autoridades ponham um fim a esses abusos. Ouvi, de todos eles: “aqui é igual. A diferença para São Paulo é que a cidade é menor, com menor números de habitantes e, consequentemente, motoqueiros. Mas eles também andam na contramão, pelas calçadas, furam sinais vermelhos e não param com o seu bibibibi, atormentando nossas vidas no trânsito. Igualzinho ai em São Paulo”.

São moradores de Curitiba, Goiânia, Fortaleza, Porto Alegre, Belo Horizonte, Belém, onde a “doideira” é geral, com eles andando “lapado” (gíria paraense de grande velocidade), que causa um número muito grande de acidentes fatais. No Rio de Janeiro, segundo o depoimento de um carioca, que anda de moto para ganhar tempo, mas não pratica irregularidades, eles trafegam até sobre as passarelas.

“Fique longe deles”

Jornalista e ex-instrutor de motociclistas, Gabriel Marazzi recomenda que o motorista fique o mais longe possível de um motoqueiro de entrega pois eles são imprevisíveis. O pai dele, também jornalista, Expedito Marazzi (que já deixou há anos passados) tinha um alerta para os motociclistas: “você na moto é invisível, por isso fuja dos problemas. Afaste-se dos carros”. Tenho certeza de que hoje o jornalista mudaria o alvo desta frase, dirigindo-as aos motoristas.

Facilitar? Por que?

Em São Paulo, que já oferece mais de 250 quilômetros de faixa azul, que dá preferência aos motociclistas, existem placas com os dizeres “MOTO FACILICITE MUDANÇA DE FAIXA DO VEÍCULOS”. Mas, qual o que, nunca tive essa facilitação e não conheço ninguém que a tenha se deparado com algum “Papa-Léguas” que não disparasse o seu “bibibibibib” e acelerasse (ou torcendo o cabo como se diz em Belo Horizonte), para evitar que o motorista mude de faixa.

Morador em Boynton Beach, uma pequena cidade na Flórida, diz que por lá as entregas são feitas por pessoas dirigindo carros e que poucas motos circulam por lá. Entretanto, outro morador dos Estados Unidos, diz que em Washington DC, são muitos os entregadores – especialmente de pizzas e comida – que usam motos, em razão das dificuldades de encontrar lugares para estacionar, mas que não existe por lá nenhum “Papa-Léguas” com seu irritante “bipbip”, ou “bbibibi”.

Ia me esquecendo

Mas não é só de contramão, ignorar sinal vermelho, andar pela calçada, xingar o motorista que não abre o “corredor” para ele passar com a sua moto. Ele também abusa do escapamento aberto. Muitos deles, diante do desgaste do equipamento original, ao trocá-lo o fazem por um que não tem abafador de ruído. Daí, haja ouvido para aguentar o som do escapamento aliado ao do “bip bip” ou melhor “bibibibibibibi”.

*chicolelis - Jornalista com passagens pelos jornais A Tribuna (Santos), O Globo e Diário do Comércio. Foi assessor de Imprensa na Ford, Goodyear e, durante 18 anos gerenciou o Departamento de Imprensa da General Motors do Brasil. Fale com o Chico: chicolelis@gmail.com.

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