Eu morava em uma esquina e ela na rua ao lado, no mesmo andar, de onde avistava parte do meu apartamento. Tinha lá seus seis anos e vivia “vigiando” meus movimentos. Sabia que eu chegava em casa, lá pelas sete da noite, e alertava seus pais: olhem, o chicolelis chegou em casa, acendeu a luz da sala, foi para a cozinha e agora sumiu. Deve ter ido para o quarto.
Se eu voltava à cozinha, ela anunciava em casa e assim por diante, até que eu apagasse as luzes, visíveis de sua casa. Ela então ia cuidar das coisas que uma menina, lá pelos anos 90, cuidava: brincar de boneca, ler uma revista etc..., coisas inimagináveis nos tempos atuais.
Quando seu pai, jornalista/publicitário/empresário e meu amigo, contou-me sobre a Camila eu achei o máximo e precisava retribuir aquele carinho da mocinha.
No dia seguinte, pedi à secretária, a Patrícia, que fizesse o favor de confeccionar uma faixa, naquelas máquinas impressoras fabulosas, com os dizeres: OI CAMILA!!! E, ao chegar em casa naquela noite, fiquei imaginando os movimentos dela. Não acendi nenhuma luz, e coloquei a faixa grudada no vidro da área de serviço. E então acendi a luz da cozinha.
Havia avisado seus pais que ela teria uma surpresa.
E que surpresa. Camila quase teve um ataque ao ler meu cumprimento.
E, imediatamente “exigiu” que o pai providenciasse uma faixa, que ela exibiu na noite seguinte: OI CHICOLELIS!
Fui até a casa deles e dali surgiu uma carinhosa amizade entre nós dois, que dura até hoje, com essa “palestrina” que não perde um jogo do “Verdão”
Agora, a história do Natal
No Natal, quando fui convidado pela família, para o almoço no dia 25, ela trouxe toda feliz um pacote dizendo que era um presente para que eu cortasse bem as carnes do churrasco.
Quando abri o presente, ela ficou chocada: havia apenas um suporte de facas, da Tramontina. Agradeci e ela falou que estava errado, que esqueceram de colocar as facas no pacote.
- Amanhã eu vou lá! Falou com tom bem agressivo.
E foi! Ao lado da mãe chegou à loja, mas entrou sozinha.
Cheia da razão foi direto ao vendedor, pedindo que ele confirmasse que aquele conjunto com o porta facas, com as respectivas, que estavam na vitrine custava aquele preço ao que o vendedor disse que era só o suporte.
- Mas ali não diz isso. Fui enganada e quero as facas!
- Minha filha, o preço é só do suporte.
- Não sou sua filha e ali mostra um preço do suporte com as facas. Quero as facas!
- Isso não é possível. Se quiser as facas tem pagar por elas.
- Então vou chamar a Polícia e ver o que eles acham de uma loja que engana uma criança, só porque é criança.
E saiu de lá com as facas que tenho até hoje, cerca de 35, como podem ver na foto que fiz do meu presente. Por isso, é preciso muita atenção e respeito para com as crianças. Quando, muitas vezes, você pensa que elas estão indo, elas já estão voltando.
Voltarei após 20/01/2026, quando já estarei nos anos 80.
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