segunda-feira, 28 de abril de 2014

DITADURA & COVARDIA
por Milton Saldanha*

Ditadura e covardia são palavras irmãs. As duas coisas se combinam com perfeição. Um caso que tipifica bem isso aconteceu durante a Guerra das Malvinas, Argentina versus Inglaterra, no Cone Sul: os mesmo militares que tinham torturado barbaramente presos políticos subjugados e incapacitados de reação, na hora de enfrentar os ingleses literalmente se borraram nas calças e se entregaram, sem luta. Os nomes de alguns, velhos conhecidos como repressores, foram divulgados.

A impecável crônica de Mário Magalhães, em blog no UOL, com o título “Na despedida, o torturador Malhães ficou só” (segunda-feira, 28/4), vem enriquecer e comprovar esta tese sobre o quanto ditaduras e covardias se combinam. Nem Ustra foi ao enterro do colega. E mais: intriga muito, como observou Mário Magalhães, que em seu blog o ex-comandante do DOI-Codi de São Paulo tenha anunciado em primeira mão a morte de Malhães “com quatro tiros”. A versão é outra, teria morrido asfixiado com um saco plástico, sem levar nenhum tiro. Essa história de ataque cardíaco não convence e não bate com a versão da viúva do torturador. Pergunta: de onde Ustra tirou tal informação? O caso merece uma acareação na investigação. 

Tomando emprestado o mesmo termo do cronista do UOL, chama muito a atenção que as viúvas da ditadura, que usam redes sociais para vociferar todo seu atraso, falta de informação e apreço por regimes de opressão, também não foram ao enterro. É claro, essa gente não mostra jamais a cara. Não se apresentam com seus próprios nomes. Eles não têm a mínima idéia do que foi enfrentar o terrorismo de estado praticado pela ditadura. O pavor de ser preso político, experiência que vivi, no DOI-Codi de Ustra. Que Dilma, que eles tanto atacam sem respeito, sem argumentos e de forma grosseira, ainda muito jovem viveu. Esses covardes não sabem o que é ser combatente e enfrentar a tensão no grau mais latente. Falam, falam, mas na hora H enfiam o rabo entre as pernas, como os ex-torturadores das Malvinas. A maior prova disso é que escondem seus verdadeiros nomes. E não vão sequer ao enterro dos facínoras que tanto glorificam.

São todos, como as ditaduras, parte do lixo da História. 
 * Milton Saldanha, 68 anos, gaúcho, é jornalista desde os 17 anos. Trabalhou na imprensa de Santa Maria (RS) e Porto Alegre. Vive em São Paulo há mais de 40 anos. Passou por muitos empregos, entre eles Rede Globo, Estadão, TV Manchete, Diário do Grande ABC, Jovem Pan, revista Motor3, Ford Brasil, IPT, Conselho de Economia e vários outros, inclusive na Ultima Hora. Ao se aposentar, criou o jornal Dance, já com 19 anos. É autor dos livros “As 3 Vidas de Jaime Arôxa” (Editora Senac Rio); “Maria Antonietta, a Dama da Gafieira” (Phorte Editora) e “O País Transtornado” (Editora Movimento, RS) onde conta 60 anos da recente História brasileira. Participou da antologia de escritores gaúchos “Porto Alegre, Ontem e Hoje” (Editora Movimento). 

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