terça-feira, 29 de abril de 2014

GLOBO CONFUNDE PRODUÇÃO COM PRODUTIVIDADE
por Milton Saldanha*

A Rede Globo começou na segunda-feira, dia 28 de abril, uma série de reportagens, apuradas no Brasil e no exterior, sobre o que define como “produtividade do trabalhador brasileiro”. Confundindo os conceitos de produção e produtividade, que em Economia não são sinônimos. Mas a Globo não está sozinha nessa confusão, muita gente comete o equívoco, inclusive autoridades e outros setores da mídia.

Produção é o conjunto de bens e/ou serviços produzidos por um trabalhador, empresa, setor ou país dentro de um determinado período. Quando se diz que xis toneladas de soja foram exportadas no ano tal, isso se refere à produção. Já a produtividade do trabalho seria medida pelo número de trabalhadores envolvidos nessa produção. Ou a produtividade do capital envolveria outros insumos, como veremos abaixo.

Os conceitos envolvem pequenas variações, mais pontuais, porém mais comumente se pode definir a produtividade como o faturamento bruto dividido pelo número de trabalhadores envolvidos na produção. Os postos de gasolina costumam liderar os índices de produtividade porque é um dos setores de maior faturamento bruto e pouco intensivo em mão de obra. Para entender claramente, pegue o faturamento de um posto que tenha cinco frentistas. A divisão do bolo por cinco vai resultar num número muito elevado, que será apurado percentualmente. É a produtividade.  Mas essa apuração, em outro conceito, pode envolver também os demais custos envolvidos na operação, incluindo até investimentos ainda não amortizados.

Aprofundando um pouco, numa seara mais técnica, ouçamos o economista Paulo Sandroni, autor do Novo Dicionário de Economia: “Produtividade é o resultado da divisão da produção física obtida numa unidade de tempo (hora, dia, ano) por um dos fatores empregados na produção (trabalho, terra, capital). Em termos globais, a produtividade expressa a utilização eficiente dos recursos produtivos, tendo em vista alcançar a máxima produção na menor unidade de tempo e com os menores custos. Comumente, o termo “produtividade” se refere à produtividade resultante do trabalho humano com a ajuda de determinados meios de produção (máquinas, ferramentas e equipamentos). Essa produtividade do trabalho é o quociente da produção pelo tempo de trabalho em que foi obtida. A produtividade do capital, por sua vez, é a quantidade produzida por unidade de capital investido. Vários são os fatores que influem na elevação da produtividade do trabalho: desenvolvimento tecnológico dos equipamentos empregados (meios de produção), nível da divisão social do trabalho; grau de especialização e escolaridade da mão de obra, qualidade das matérias-primas utilizadas e organização e controle da produção. É difícil quantificar globalmente a taxa de produtividade do trabalho, pois ela varia conforme a empresa, a região e os fatores acima relacionados; contudo, podem-se estabelecer comparações entre empresas, regiões ou países. É importante notar que a produtividade tende a ser maior nas empresas de capital intensivo e menor nas de trabalho intensivo. Muitas vezes a intensificação da produtividade pela adoção de melhorias tecnológicas tem repercussões sociais negativas, uma vez que pode causar desemprego. O aumento da produtividade do trabalho com o emprego de novos equipamentos e especialização do trabalhador corresponde a um aumento da exploração da mão de obra. Na economia marxista, isso equivale a uma maior produção de mais valia: o trabalhador produz em menor tempo o suficiente para reproduzir o valor de sua força de trabalho, deixando ao empresário um maior excedente de produção”.

Agora vamos o professor Sandroni sobre a produção: “Fabricação de um bem material ou prestação de serviços. É uma característica da sociedade humana que se reproduz e se desenvolve por meio da produção. A produção ocorre mediante a combinação de três elementos ou fatores de produção: o homem, os instrumentos de trabalho que ele usa e a terra (ou natureza), sobre a qual ele age. A qualidade e a produtividade do trabalho são dadas pelo desenvolvimento técnico dos instrumentos (máquinas, ferramentas) e pelo grau de especialização do trabalhador. Esse grau de desenvolvimento das forças produtivas caracteriza a sociedade e leva às mudanças sociais. Nas modernas sociedades industriais , o processo produtivo se caracteriza pelo intenso desenvolvimento da mecanização e da automação”.

O equívoco da Globo, onde já trabalhei na chefia de reportagem do jornalismo paulista, não é irrelevante. O jornalista é um generalista, e mesmo quando especializado não é obrigado a conhecer tudo. Mas há várias questões. Trabalhei muitos anos no jornalismo econômico, nas áreas de micro e principalmente macro economia, e estudava muito antes de fazer uma entrevista. Certa vez comprei quatro livros sobre um único tema, para poder fazer uma longa entrevista de perguntas e respostas. Nesse caso, eu editava o “Jornal do Economista”, mensal. Havia tempo para estudar e não perguntar nem escrever bobagens Às vezes, no ritmo frenético das redações diárias, não há tempo para tanto requinte. A solução: ter um consultor técnico altamente capacitado para matérias de alta relevância e repercussão. Uma rede do porte da Globo pode, e deve, pagar. Isso será sempre imprescindível.  
 * Milton Saldanha, 68 anos, gaúcho, é jornalista desde os 17 anos. Trabalhou na imprensa de Santa Maria (RS) e Porto Alegre. Vive em São Paulo há mais de 40 anos. Passou por muitos empregos, entre eles Rede Globo, Estadão, TV Manchete, Diário do Grande ABC, Jovem Pan, revista Motor3, Ford Brasil, IPT, Conselho de Economia e vários outros, inclusive na Ultima Hora. Ao se aposentar, criou o jornal Dance, já com 19 anos. É autor dos livros “As 3 Vidas de Jaime Arôxa” (Editora Senac Rio); “Maria Antonietta, a Dama da Gafieira” (Phorte Editora) e “O País Transtornado” (Editora Movimento, RS) onde conta 60 anos da recente História brasileira. Participou da antologia de escritores gaúchos “Porto Alegre, Ontem e Hoje” (Editora Movimento

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