terça-feira, 6 de maio de 2014

OSTENTAÇÃO REFLETE DOENÇA SOCIAL.
por Milton Saldanha*

Não é apenas triste. É preocupante. Essa onda chamada ostentação, com exibição ridícula de riqueza nas mãos de jovens que nasceram em bolsões de pobreza, é o mais visível exemplo da doença social que acomete o mundo contemporâneo, e de forma especial o Brasil. 

Vamos pensar juntos: o que tenta provar um sujeito que se exibe com coleção de motos e carrões caríssimos? Nem vou falar do mau gosto explicito, nas correntes e pulseiras reluzentes, que, sinceramente, me causam pena. O problema não está nas besteiras que esses retardados mentais, que se intitulam artistas sem o menor talento para isso, exibem nas redes sociais, ou na própria TV aberta. O problema está na indução à violência que isso representa. O raciocínio é simples: desprovidos de educação e informação; sem acesso a valores morais e sofrendo todos os tipos de privações, milhares de outros jovens tendem a achar que felicidade e sucesso na vida é isso: acumular tralhas e penduricalhos, exibindo riqueza. Ora, é uma provocação: uma vez infectados por essa doença social, muitos jovens vão buscar no crime o único caminho para acesso aos bens de consumo. Ou que outra via teriam?

Valores como generosidade, solidariedade, espírito público e capacidade de indignação contra as injustiças estão gradualmente desaparecendo. O que vale é a grana, um deus mais venerado do que qualquer outro, entre os vários que dividem as crenças da humanidade. O poder deletério desse deus só tem um limite: a morte das suas vítimas. 

Esses jovens novos ricos cometem o grande erro de não perceber que tudo isso é efêmero. Dinheiro não se reproduz por osmose, precisa ser gerado. O tempo é implacável, todos envelhecem. Essas ondas desaparecem tão rápido como surgiram. Ao queimar dinheiro como consumistas compulsivos, não pensam no futuro. Exemplos de gente que viveu assim e morreu pobre não faltam. O problema de todos foi que só se deram conta disso quando já era muito tarde.  
 * Milton Saldanha, 68 anos, gaúcho, é jornalista desde os 17 anos. Trabalhou na imprensa de Santa Maria (RS) e Porto Alegre. Vive em São Paulo há mais de 40 anos. Passou por muitos empregos, entre eles Rede Globo, Estadão, TV Manchete, Diário do Grande ABC, Jovem Pan, revista Motor3, Ford Brasil, IPT, Conselho de Economia e vários outros, inclusive na Ultima Hora. Ao se aposentar, criou o jornal Dance, já com 19 anos. É autor dos livros “As 3 Vidas de Jaime Arôxa” (Editora Senac Rio); “Maria Antonietta, a Dama da Gafieira” (Phorte Editora) e “O País Transtornado” (Editora Movimento, RS) onde conta 60 anos da recente História brasileira. Participou da antologia de escritores gaúchos “Porto Alegre, Ontem e Hoje” (Editora Movimento)

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