Você tem uma poupança, sua reserva estratégica para emergências. Mas vai gastando essa poupança todos os meses, sem ganhar o suficiente para repor os gastos... Se não racionar suas despesas, ficará sem nada. Ou pior, devendo. Básico, né.
É exatamente o que está acontecendo com a crise da água em São Paulo. Estão protelando um racionamento drástico que há muito já deveria estar em prática. É apavorante a situação dos reservatórios. Mas o governador insiste em minimizar o problema, na contramão de todas as evidências.
Infelizmente, a única “educação” que a maioria das pessoas assimila é quando pesa no bolso. Caso típico do trânsito, onde o respeito à vida só existe quando vinculado a punições cada vez maiores.
Além de estimular com descontos quem economiza água, é preciso também punir com multas pesadas quem gasta em excesso. É o caso de muitos condomínios, onde poucos se preocupam com economia porque a conta é coletiva. Mesmo com a crise, não abrem mão de encher suas piscinas.
Os postos de gasolina já deveriam estar proibidos de lavar carros. E todos deveriam passar por vistorias técnicas, porque circulam comentários sobre ligações clandestinas camufladas como poços artesianos. Ou seja, além de desperdiçar, eles não pagam por esse volume desviado. Isso é crime, que deveria ser punido com a interdição permanente do posto e prisão do dono, além de multa.
Sem ação e severidade das autoridades, não sairemos dessa rota de encontro com a tragédia final, que será não ter água sequer para beber.
O governador já deveria ter chamado assembléias públicas para dialogar com a população. Delegando a cada pessoa o papel de fiscal do consumo. Assim como já deveria existir uma comissão técnica permanente, incluindo pessoal qualificado da Sabesp, IPT Cetesb e outros órgãos, para agilizar soluções, principalmente as paliativas, em caráter de urgência. Ou vão esperar secar tudo?
Ou, no mínimo, convocado uma rede de rádio e TV para colocar o problema a limpo e pedir com humildade a ajuda de todos.
Este é o país da falta de prevenção, em tudo. Só atacam os problemas quando eles chegam no limite do suportável, ou insuportável. Prevenção tem que partir do pressuposto sempre da pior hipótese. Por exemplo, encarando a possibilidade de mais um ano sem chuvas.
A água é um bem comum e essencial à vida. Se faltar, faltará a todos. E afetará a produção de alimentos, que depende da irrigação.
Nesse problema ninguém é situação ou oposição. Todos somos vítimas. Só nos resta ser parceiros, buscando uma consciência coletiva.
* Milton Saldanha, 68 anos, gaúcho, é jornalista desde os 17 anos. Trabalhou na imprensa de Santa Maria (RS) e Porto Alegre. Vive em São Paulo há mais de 40 anos. Passou por muitos empregos, entre eles Rede Globo, Estadão, TV Manchete, Diário do Grande ABC, Jovem Pan, revista Motor3, Ford Brasil, IPT, Conselho de Economia e vários outros, inclusive na Ultima Hora. Ao se aposentar, criou o jornal Dance, já com 19 anos. É autor dos livros “As 3 Vidas de Jaime Arôxa” (Editora Senac Rio); “Maria Antonietta, a Dama da Gafieira” (Phorte Editora) e “O País Transtornado” (Editora Movimento, RS) onde conta 60 anos da recente História brasileira. Participou da antologia de escritores gaúchos “Porto Alegre, Ontem e Hoje” (Editora Movimento)
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