A naturalidade com que os políticos falam em repactuar preços em obras da Petrobrás tem sido para mim o detalhe mais chocante dos atuais escândalos. Sim, atuais, porque eles só são novidade para a maior parte da população. Para os grupos empresariais e políticos que sempre deitaram e rolaram em todos os governos desta pobre república, isso é tão antigo quanto as caravelas de Cabral.
Repactuar preços, como solução temporária (depois eles fazem tudo outra vez), deixa mais que implícito o reconhecimento de que os preços estão altamente superfaturados. Porque nenhuma empreiteira opera para empatar, muito menos para perder. Se aceitam a repactuação, está óbvio que mesmo assim continuam ganhando, e muito bem.
O advogado de um dos pilantras disse tudo: o trambique é histórico, todo mundo sabe. Como disse, “não se assenta neste país um único paralelepípedo, na menor prefeitura e com a menor empreiteira, sem acerto entre empresas e políticos”. Isso para mim, e para muita gente, nunca foi novidade. Mas a afirmação ganha peso no bojo da crise, porque confirma a regra.
Ingenuidade será acreditar que a elucidação dos escândalos e eventuais punições sejam a pá de cá final sobre a corrupção endêmica que assola este país desde o citado acima Pedro Álvares Cabral. Virão outros escândalos, e pouco importa a sigla do partido que estará no plantão do poder. Quem acha que isso nasceu com o PT ou não sabe nada, ou se finge de tolo. O correto é afirmar que isso continuou com o PT.
O que é duplamente lamentável porque este foi um partido criado sobre um programa de moralização nacional. Como sou dotado de excelente memória, lembro-me muito bem das críticas que o PT fazia aos escândalos da era FHC, que também não foram poucos. Curioso é que sobre o metrô e trens de São Paulo, uma roubalheira que vem desde Covas, ninguém fala mais. Todavia, é salutar que nossa maior empresa, patrimônio do povo brasileiro, passe agora por uma limpeza. Antes tarde do que nunca.
A presidente Dilma, cuja honestidade pessoal não coloco em dúvida, tem agora a grande chance de promover uma faxina também em outras estatais. Os rachas que já começaram no PT são indícios de que há ratos querendo salvar-se ou mesmo ficar a bordo. Porque toda movimentação política é sempre fruto de interesses contrariados. Marta, por exemplo, sempre arrogante, parece estar querendo ir. Não se sabe pra onde. Já vai tarde.
* Milton Saldanha, 68 anos, gaúcho, é jornalista desde os 17 anos. Trabalhou na imprensa de Santa Maria (RS) e Porto Alegre. Vive em São Paulo há mais de 40 anos. Passou por muitos empregos, entre eles Rede Globo, Estadão, TV Manchete, Diário do Grande ABC, Jovem Pan, revista Motor3, Ford Brasil, IPT, Conselho de Economia e vários outros, inclusive na Ultima Hora. Ao se aposentar, criou o jornal Dance, já com 19 anos. É autor dos livros “As 3 Vidas de Jaime Arôxa” (Editora Senac Rio); “Maria Antonietta, a Dama da Gafieira” (Phorte Editora) e “O País Transtornado” (Editora Movimento, RS) onde conta 60 anos da recente História brasileira. Participou da antologia de escritores gaúchos “Porto Alegre, Ontem e Hoje” (Editora Movimento)
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