terça-feira, 25 de novembro de 2014

SÓ A DEMOCRACIA PERMITE COMBATE À CORRUPÇÃO.
por Milton Saldanha*

Seria a suprema ingenuidade, ou grosseira manipulação da informação, alguém afirmar que os escândalos que estão nas manchetes começaram agora, ou só a partir dos governos do PT. É claro que o PT tem responsabilidades graves nisso tudo. Mas escândalo no Brasil não é novidade. Eles povoam nossa vida pública desde os tempos coloniais, como prova de forma consistente o estudo da História. E tiveram seu ápice nas duas ditaduras da nossa vida republicana, a primeira de 1937 a 1945, com Getúlio Vargas; a segunda de 1964 a 1985, com os cinco generais: Castelo Branco, Costa e Silva, Emílio Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo. Os períodos de arbítrio, com a castração legislativa e controle da mídia com a censura, foram altamente favoráveis à corrupção em larga escala.

Mas nos períodos democráticos ela também se reproduziu, com maior ou menor intensidade conforme o perfil de cada governo. A construção de Brasília, por exemplo, inaugurada em 1961 por JK como Capital Federal, sucessora do Rio de Janeiro, possibilitou que micros empresários se transformassem milagrosamente, em poucos anos, em donos de impérios empresariais. Um deles, que dirigia caminhão e morava em barraca, chegou a ser dono de companhia aérea de grande porte. Fora um ou outro caso pontual de suspeita, essas fortunas jamais foram investigadas. Basta ter neurônios em ordem para perceber que trabalho honesto pode até transformar alguém em bem de vida, mas jamais em bilionário. Isso jamais se comprovaria matematicamente. 

Logo, a pergunta que se impõe é esta: por que nunca se apurou antes a corrupção com disposição similar a atual? Há várias respostas, mas duas são preponderantes: a Polícia Federal foi liberada para cumprir uma das suas missões. Algo impensável, por exemplo, nas ditaduras ou em governos com viés autoritário. Sob outro olhar, os avanços sociais, acirrando a luta de classes, quebraram o consenso, tirando a oposição da letargia. O papel de qualquer oposição é o fiscalizador, benéfico ao exercício da democracia. Por pressão das suas bases, com as manifestações de rua recentes, mais resultados eleitorais expressivos, a oposição é forçada a exercer o papel que dela se espera. O mensalão, iniciado com Azeredo do PSDB, em Minas, e ampliado com o PT de Zé Dirceu, foi a tentativa de neutralizar esse papel que cabe à oposição. Como encheu os cofres de todos os partidos, exceto PSOL, a aposta era a de que nunca seria descoberto e denunciado. O absurdo é que as punições não tenham recaído sobre todos os envolvidos, não só quem pagou, mas também quem recebeu.

O governo Dilma, a despeito de qualquer crítica que a ele se possa fazer, justa ou injusta, certamente passará à História como aquele em que mais se investigou e mais se puniu. Sem ampla abertura democrática isso seria impossível.    



Milton Saldanha, 68 anos, gaúcho, é jornalista desde os 17 anos. Trabalhou na imprensa de Santa Maria (RS) e Porto Alegre. Vive em São Paulo há mais de 40 anos. Passou por muitos empregos, entre eles Rede Globo, Estadão, TV Manchete, Diário do Grande ABC, Jovem Pan, revista Motor3, Ford Brasil, IPT, Conselho de Economia e vários outros, inclusive na Ultima Hora. Ao se aposentar, criou o jornal Dance, já com 19 anos. É autor dos livros “As 3 Vidas de Jaime Arôxa” (Editora Senac Rio); “Maria Antonietta, a Dama da Gafieira” (Phorte Editora) e “O País Transtornado” (Editora Movimento, RS) onde conta 60 anos da recente História brasileira. Participou da antologia de escritores gaúchos “Porto Alegre, Ontem e Hoje” (Editora Movimento)  

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