SOLIDÃO APEQUENA A JAC.
Da posição corajosa de importar os
chineses JAC devidamente adequados ao gosto do consumidor brasileiro; de
vendê-los equipados a preço de carro pelado; de inaugurar 50
concessionários no dia do lançamento da marca; de anunciar fábrica na Bahia, o
pacote de iniciativas do empresário paulistano Sergio Habib foi atrapalhado por
condições estranhas ao seu negócio. Governo federal, por preocupação, ou
instigado pelos fabricantes concorrentes, criou imposto adicional de 30 pontos
percentuais, inviabilizando as importações e, evento paralelo, o Banco de
Desenvolvimento da Bahia não liberou financiamento prometido.
Resultado buscado, o mercado de
importados caiu e Habib cortou custos como pode; demitiu gente; fechou revendas
JAC e Citroën – é o maior operador da marca; e, com permissão da licença pouco
poética, comeu o pão que o diabo amassou com o rabo para
manter-se hígido economicamente.
Sem financiamento, fez sociedade com
a JAC chinesa para construir a fábrica, mantendo sua a distribuição. Entretanto
dois fatores novos levaram a nova e total alteração: a retração de vendas e a
insegurança jurídica no país, fizeram chineses deixar o negócio.
Simples
Sozinho na iniciativa, entre
escriturar o prejuízo e largar tudo para dedicar-se ao conforto de
aposentadoria precoce, o sangue hebreu de Habib instou-o a deter o prejuízo e
correr atrás do lucro: deu monumental freada no projeto, virou-o a 90 graus. Na
prática fará sozinho os carros chineses em Camaçari, Bahia, porém em escala
menor. Enxugará o processo industrial: em vez de fabricação, montagem CKD –
importação de veículos desmontados – para armar aqui; instalações modestas;
agregação de poucas partes nacionais. Seguirá a cartilha do programa oficial
Inovar-auto, de nacionalização mínima – pneus, rodas, mangueiras, correias,
bateria e pouca coisa mais. É marcha a ré industrial pois os aderentes a tal
regra fazem em 2016 menos que a Willys-Overland praticava ao iniciar operações
brasileiras no longínquo 1954, pré indústria automobilística nacional. Quer
reter custos a R$ 200M – aproximadamente US$ 50M.
Processo simplório, aumentando
lentamente as intervenções industriais e o desenvolvimento de componentes
nacionais. Volume, projetado em 100 mil unidades/ano contrair-se-á a 20 mil
anuais – 1% do mercado nacional. Fábrica em módulo inicial iniciará
construção em dias e pretende expelir as primeiras unidades em janeiro de 2017.
Habib tem pressa. Ajusta passos
iniciais com a JAC, incluindo mudar o produto, agora o T 5 um SAV focado nas
dimensões do Ford EcoSport. Do saco, a embira. E da embira, um
pedaço, dizia a minha avó, sábia macróbia. Este Habib é resiliente como
uma aroeira.
VW muda foco e apaga o Das Auto
Para mostrar ter
equacionado a crise das emissões dos motores diesel, além da apuração, da
catarse interna, da contratação dos melhores executivos em área jurídica,
de compliance, lobby, investigação, Volkswagen agora quer expor a
mudança a público. Começa mudando o inexplicável slogan, Das Auto –
em alemão O Carro -, objeto de ácidas críticas a partir da
imprensa considerada.
Está em campanha europeia e logo
chegará ao Brasil exibindo mudança mundial de enfoque, adotando linha
emocional. Como disse Jorge Portugal, VP de Vendas no Brasil, o slogan era
arrogante, e a marca quer dirigir sua comunicação às pessoas, ao povo, como
está em seu nome – Volks é povo, pessoas, em alemão. Texto enfatizará
qualidades em torno de frase criada para recuperar credibilidade e clientes: antes,
agora, sempre.
Carnaval acelera lançamentos
Mercado retraído, vida deve
continuar, alemãs Audi, BMW e Mercedes importaram novidades. Quantidades
contidas pois a trinca se concentrará em vender maior número possível dos
veículos em início de produção local pelas duas primeiras – Mercedes o fará a
partir de março. Traço comum, todos os modelos saltaram de preço, expondo a
correção do dólar e, imagina-se, um colchão para absorver futuros aumentos a
curto prazo.
Audi e Q7
Refez o Q7, maior de seus utilitários esportivos. Regras de consumo
ditaram as intervenções: reduziu 325! kg, por intenso uso de alumínio na
suspensão independente e na estrutura – há, apenas, duas pequenas vigas em aço
especial; motor V8 4,2 litros substituído por V6, vigoroso compressor mecânico
com embreagem para desligá-lo ao gerar 25 m.kgf de torque, gerando 333 cv de
potência, circa 45 m.kgf de torque. Menor, mais leve e mais
forte, vai de 0 a 100 k/h em 6,1s, velocidade final cortada a 250 km/h.
Seguiu a tendência mundial
agregando-lhe enorme relação de infodiversão – incluindo a mágica de diminuir
instrumentos no painel; do sistema de visão noturna percebendo obstáculos antes
da visão humana; tela de 31 cm conectada ao sistema multimídia, permitindo ver
de mapas a agenda telefônica.
Caixa automática com oito marchas,
tração permanente em todas as rodas na relação 40/60%, sistema de freio na
subida, de controle automático nas descidas. Enfim, pacote rico e à altura da
preocupação de liderança tecnológica da marca. Em relação aos concorrentes
Porsche Cayenne - com quem divide muitas peças -, e Land Rover Sport, disputa
parafuso a parafuso. Preços, R$ 400 mil versão de entrada, e R$ 490 mil com
opcionais.
BMW
e X1
Inicia importado, abrindo picada no
mercado do segmento, à produção nacional a iniciar-se próximos dias em
Araquari, SC. Embora a maioria dos condutores não perceba, espelha o uso da
arquitetura mecânica pelo degrau inferior dos BMW e o superior dos Mini.
Característica básica é ter tração dianteira, opcionalmente integral. Motor
transversal re arranjou espaços, e apesar do comprimento assemelhado à versão
anterior, obteve mais conforto em largura, altura, porta malas. Estilo deu-lhe
cara de SAV.
Duas versões na motorização, quatro
cilindros em linha, 2,0 litro: versão de entrada, 192 cv e 28,5 m.kgf de torque
a surpreendentemente baixos 1.250 rpm; e 231 cv e tração nas quatro rodas.
Ambas são de extremo agrado ao
conduzir, dóceis, ágeis, seguras, bem equipadas com ar condicionado em duas
zonas, faróis em LEDs e sistema multimídia. Três preços: X1 básico a
R$ 167 mil; sDrive2.0i X Line, intermediária, com teto solar,
bancos e tampa do porta malas elétricos, a R$ 180mil. Se o condutor dedicar-se
a leituras superiores ao Mobral mecânico, cometerá um suinocídio, quebrará o
porquinho da poupança, e dele retirará os R$ 200 mil para a versão de
topo xDrive25i, muito superior.
Mercedes
– os G
Padronizou seus produtos com
habilidades fora de estrada sob a letra G. Tem dois novos: GLE Coupé,
simbiose entre SUV e cupê, muito lembrando o estilisticamente polêmico BMW
X6; e o GLC, sucessor do GLK.
GLE – veículo de luxo, motor V6 bi
turbo, 3,0 litros, 333 cv e 49 m.kgf de torque a 1.600 rpm. Segue o
caminho mundial de muita força em baixas rotações, transmissões
automáticas com nove velocidades, permitindo girar em marchas altas – e
rotações baixas. Oferece cinco regulagens de motor e suspensão, de acordo
com a necessidade ou gosto, e interior tem toques da preparadora AMG, como
couro com pesponto vermelho e volante esportivo.
GLC – Substitui o
GLK, mal sincronizado com os compradores. Era baixo, perdendo a aparência
agressiva tão demandada pela clientela. Cresceu uns 12 cm na distância entre
eixos e perdeu 80 kg no peso. Motorização 2.0 Turbo, 211 cv, transmissão
automática de 9 velocidades, tração integral e o Dynamic Select, regulagem para
diferentes usos.
Preços de R$ 223 mil para versão
GLC250 4Matic, a R$ 265 mil para Sport.
Roda-a-Roda
Fim – Toyota dará fim à marca
Scion. Nome em tradução livre é filho, rebento, criada para modelos destinados
aos consumidores jovens. Descobriu, estes preferem dizer têm um Toyota. É a
força do nome.
Conjuntura – Outro
automóvel criado por advogados, o Polo Ameo, para mercado indiano. Não se
imagine profissionais do direito substituindo designers, pois agem
em plano superior, sugerindo ao governo molde legal para lei de incentivos a
veículos com menos de 4m de comprimento, motores até 1,2 litro.
Corte – É o Polo e
sua plataforma PQ 25 ao qual seccionaram o porta malas criando duas
versões, hatch e sedã de três volumes. Motor 1,2 de três
cilindros produzindo apenas 73 cv – no Brasil o 1,0 faz 80 cavalos. Extra
incentivo, opção diesel 1,5 litro e transmissão automática DSG de 7
velocidades.
Mudança – Foi-se o
tempo de carros definidos por técnicos, engenheiros. Agora o são pelos
advogados: os do governo estabelecem parâmetros de emissões, poluição,
segurança, tributação, e os das empresas sugerem os limites para a obediência à
lei. Daí, são feitos.
Tempo – Fábrica do
chinês Lifan no Uruguai – montada para fornecer Brasil -, fechou portas até
março. Contração de 45% no mercado de importados, detém produção até limpar
pátios da montadora e concessionários.
Situação -
Globalização é isto. Borboleta bate as asas no Cerrado de Goiás, e faz criar
fenda em montanha no Tibete.
Resgate – FCA foi a
Munique resgatar Roberto Fedeli, ex engenheiro chefe da Ferrari, trabalhando na
BMW. Para lugar especialmente criado, 2º. na marca, reportando-se ao CEO,
missão de botar ordem no processo de conformação, produção e lançamento do
multi prometido e atrasado Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio, cara do
renascimento da marca.
Causa – Razão do
atraso, dificuldades de aprovação nos testes de impacto. Ordem maior, iniciar
produção no 31 de março – curiosa quinta feira -, e venda em julho. Versões 2,0
Otto e 2,2 Diesel no Salão de Genebra, março.
Mais – Calendário
na Maserati, outra marca FCA renascida, também está lento. O SUV Levante,
prometido para o ano passado, foi reprogramado para julho.
Paraíso – Alfistas sonharão
com resultados da contratação e a nova intimidade de Fedeli com os métodos
alemães. Diz-se, melhor automóvel do mundo terá linhas italianas e construção
alemã. Pior, ao contrário ...
Tecnologia – Fábrica de pistões
Mahle desenvolveu tecnologia para reduzir consumo de óleo lubrificante nos
motores com bloco em alumínio e camisas em ferro: revestiu-as externamente com
níquel. Tecnologia nacional, do Centro Tecnológico da empresa, em Jundiaí, SP.
Problema – Causa é má
troca de temperatura entre cabeçote e bloco, causando distorção nas camisas e
irregularidades no espaço entre face interna e os pistões.
Solução – Sem saber,
resolveu dois problemas até então insolúveis de festejado fabricante nacional,
consumo de óleo e empeno dos blocos de motores. Drama caro para segundos donos
e seus carros sem garantia.
Razão – Em dois
anos grupo indiano Mahindra viu queda de vendas de 48% para 37% em seu país.
Pesquisou e descobriu, problema estava no design tosco dos
produtos– ou no amadurecimento dos compradores ...
Resolução – Pessoal
decidido. Foi ao mercado e, em vez de contratar um designer festejado
como talento e grife, comprou o top no setor, mítica Pininfarina, criadora de
Ferraris, Maseratis, Rolls-Royce...
Desafio - Italianos
terão trabalho. A linha de veículos, picape e SUV, derivam das antiga Rural
Willys. Como me disse um mecânico em Goiás, mais feios que bater em mãe
...
Festa – Mercedes-Benz
iniciou festejar seus 60 anos no Brasil. Aplicou enorme numeral em neon ao lado
da estrela, logo da empresa, sobre o prédio da administração maior, em São
Bernardo do Campo, SP. Tem muito a festar, incluindo marcas industriais como os
primeiros motor diesel, caminhão e ônibus feito no país.
Antigos – Paris, semana
passada, leilão da Artcurial, na Rétromobile, Ferrari 335 Sport
carroceria Scaglietti cravou US$ 35.807.096. Recorde no modelo.
Lamentável – Pilantras
que surrupiaram a Petrobrás, o erário publico, os sonhos e o futuro do país,
hoje gastando para se defender das grades, não aplicaram o fruto – ou o furto
... – em automóveis antigos. Poderiam ter trazido modelos referenciais, e
apreendidos ficariam aqui, melhorando nosso acervo. Sobrou rapina, faltou
cultura.
Gente – Pablo
Di Si, 46, graduado em finanças, com Harvard no currículo, novo presidente da
VW Argentina. OOOO Era chefe de operações e vp de finanças,
experiente na área, aqui foi diretor financeiro na Fiat. OOOO Nomeação
está no gabarito de controle por David Powel, presidente da VW do Brasil e
treinando para ser no. 1 na América Latina.OOOO Lá e
cá quer nos postos chaves quem fale a língua e entenda o país. OOOO Dr
Joseph-Fidelis Senn, 58, ex diretor de Recursos Humanos da VW Brasil, onde
fomentou a participação da empresa em usinas hidroelétricas próprias, e ex
presidente da VW Argentina, saída. OOOO Muda-se a
Paraty, RJ, - projetos sociais. OOOO Christine – Chrissy - Taylor,
mulher mais importante do segmento de locação de veículos, VP e COO da
Entreprise, National e Alamo Rent-a-Car.OOOO Empresa
familiar, é terceira geração no negócio. OOOO Iniciativas
anteriores fizeram empresa saltar em locações em aeroportos; pool em
vans; car sharing; e locação por hora, dia, semana, largos
períodos. OOOO O futuro do automóvel. OOOO
* Roberto Nasser, edita@rnasser.com.br, é advogado especializado em indústria automobilística, atua em Brasília (DF) onde redige há ininterruptos 42 anos a coluna De Carro por Aí. Na Capital Federal dirige o Museu do Automóvel, dedicado à preservação da história da indústria automobilística brasileira.
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