terça-feira, 27 de dezembro de 2016

EDUCAÇÃO.
Por José Renato Nalini*

A necessidade desconhece princípios.

Nada como a situação aflitiva para um choque de realidade. O Brasil legal parece desconhecer o Brasil real. Ouvi algumas vezes esta semana que o Brasil legal é um Paraíso e o Brasil real está mais para as últimas esferas daquele passeio de Dante na “Divina Comédia”. Uma coisa é o mundo do “deve ser”. Outro, bem diferente, é o mundo do “que é”. Vivencia-se uma fantasia multicolorida, quando o cenário está mais para uma tragédia.

Estou falando na gravíssima crise econômico-financeira que lançou o Brasil num fosso profundo. A situação é bem pior do que aquela experimentada em 1929. A recuperação da Bolsa de NY foi muito mais rápida. Os economistas comparam as duas afirmando que os infortúnios econômicos podem ser desenhados em “V”. Chega-se ao fundo e começa o retorno à superfície, símbolo da normalidade. Estes nossos dias só configuram um “U”. Ainda estamos a transitar pelo fundo, cada vez mais fundo e não se vê sinal de retomada do crescimento. Fatos que não deveriam ocorrer em nada auxiliam o reforço da confiança e da esperança. Por isso é urgente uma superdose de bom senso, de prudência e de compreensão. Os cortes na carne já foram sentidos. Agora chegou a hora dos ossos.

Tudo o que se puder evitar em termos de dispêndio é bem-vindo. Não alimentar utopias. A alternativa seria o caos e, nesse panorama, todos perderiam. Principalmente os inocentes. Isto vale para todos os setores, mas é primordial para a administração pública em todos os níveis. O Estado cresceu demais e não conseguiu oferecer à população as promessas de um bem-estar que só existe no plano ideal e é irrealizável quando a indústria não produz, reduz seus quadros e chega a encerrar atividades. Mas é mais urgente para o Direito, instrumento de solução de problemas, não de institucionalização deles. A realidade não respeita os princípios, embora não desacredite deles. Estamos aprendendo isso, a duras penas. Que a lição nos propicie mudança de rumos e de cultura.











José Renato Nalini, secretário da Educação do Estado de São Paulo, Imortal da Academia Paulista de Letras e Membro da Academia Brasileira da Educação.
Visite o blog: renatonalini.wordpress.com.

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