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sábado, 14 de julho de 2018

EDUCAÇÃO.
Por José Renato Nalini*

O INCRÍVEL ESCRITOR ROBÔ.


Embora seja claro que subsistirão as carreiras criativas, providas por pessoas empreendedoras e flexíveis, aptas a compreender o semelhante e, portanto, o mundo, a 4ª Revolução Industrial nos reserva muitas surpresas. 

Algo que parece impossível é a substituição do escritor pelo robô. Já existe uma automação de narrativa muito eficiente. Para Klaus Schwab, que criou o Fórum Econômico Mundial, “algoritmos sofisticados podem criar narrativas em qualquer estilo apropriado para um público específico. O conteúdo soa tão humano que um teste recente, efetuado pelo jornal The New York times mostrou que, ao ler duas peças semelhantes, é impossível dizer qual delas foi criada por um autor humano e qual foi produzida por um robô”.

É tão veloz e surpreendente essa tecnologia, que Kristian Hammond, cofundador da Ciência da Narrativa, empresa especializada em geração automatizada de narrativas, prevê que, ainda na década de 2020, 90% das notícias poderão ser geradas por um algoritmo, a maior parte delas sem qualquer intervenção humana, ressalvada a criação do algoritmo. 

Durante o Fórum Econômico Mundial, solicitou-se que os diretores de RH dos maiores empregadores atuais em dez indústrias e quinze países imaginassem o impacto ao emprego, trabalho e competências até 2020. Concluíram que a demanda recairá muito mais sobre as habilidades de resolução de problemas complexos, competências sócio-emocionais e de sistemas e menos sobre as habilidades físicas ou competências técnicas específicas.

Esse recado precisa surtir efeito na cabeça de todas as pessoas. Tudo aquilo que o ser humano fazia como senhor absoluto da criação, hoje pode ser realizado por máquinas. A Inteligência Artificial é uma realidade presente, não é mais ficção científica. As criaturas têm de se convencer de que é impossível permanecer parado, enquanto o mundo muda e nós mudamos com ele.

Não haverá lugar para a “decoreba” na escola, nem como parcela exigível nos concursos para ingresso em carreiras ainda ambicionadas. O talento é requisitado para revisitar funções que não podem prescindir de humanidade e encontrar atividades prazerosas, gratificantes e rentáveis é o desafio posto para todos os que pretendam viver melhor nos próximos anos. 

Quanto àquele romance que você escreveria, saiba que o algoritmo poderá fazê-lo mais rapidamente e com êxito maior do que se você mesmo o elaborasse. É o mundo novo, que chega para o homem velho. 









* José Renato Nalini é desembargador, reitor da Uniregistral, palestrante e conferencista. Visite o blog: renatonalini.wordpress.com.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

EDUCAÇÃO.
Por José Renato Nalini*

NÃO É FICÇÃO CIENTÍFICA


Toronto, no Canadá, vai se transformar num bairro futurista. A Sidewalk Labs, uma subsidiária de inovação urbana da holding do Google, a Alphabet, se propôs a erguer ali o primeiro conjunto de convívio construído a partir da internet.

O projeto custará cinquenta milhões de dólares e fará com que aquele espaço se torne plataforma de teste em relação ao poder que as novas tecnologias já possuem de facilitar a vida das pessoas. 

Promete-se um grupo de robôs para fazer entrega de pacotes e retirar lixo doméstico percorrendo túneis subterrâneos. A energia elétrica será fornecida sem depender de combustíveis fósseis. Os edifícios terão módulos passíveis de mudança de uso do residencial para o comercial e vice-versa. Os passeios serão feitos de tal forma que derreterão a neve sem necessitar do trabalho insano do morador a cada nevasca de inverno. 

Não haverá veículos particulares. Os coletivos serão autônomos, não necessitarão de motoristas e atenderão a todas as necessidades. 

O plano prevê sob a superfície do bairro uma “camada digital” com sensores que vão capturar e monitorar absolutamente tudo. Desde como os bancos de parque são usados, aferindo o nível de ruído e o uso de água nos banheiros públicos e particulares. 

A coleta de dados tornará o lugar muito eficiente e sustentável. As informações serão atualizadas pelos próprios moradores, que reconhecerão as vantagens de residir num lugar em que os problemas são previstos e evitados e em que tudo funciona. Para isso, terá de haver confiança absoluta na coordenação do convívio, pois as equipes de trabalho poderão entrar em qualquer residência para fazer reparos ou para qualquer outro tipo de atuação com vistas ao bem comum.

Já existem outras “cidades inteligentes” no mundo, como Masdar, nos Emirados Árabes Unidos, ou Songdo na Coreia do Sul. Evidentemente, há críticas daqueles que defendem a privacidade. Mas quem é que não percebe que intimidade e privacidade perderam a “queda de braço” com a transparência e publicidade. Principalmente quando se pensa em segurança e no aproveitamento mais eficaz de tudo aquilo que a ciência descobriu, a tecnologia produziu e ainda é destinado a muito poucos neste sofrido planeta.








* José Renato Nalini é desembargador, reitor da Uniregistral, palestrante e conferencista. Visite o blog: renatonalini.wordpress.com.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

PARENTE SERPENTE.
Por José Renato Nalini*

Compreendo perfeitamente o que deve sentir Pedro Parente, após dois anos de Petrobrás. Sua competência técnica e sua idoneidade foram postos a serviço da ressurreição de uma estatal conspurcada pela pior política, saqueada e arremessada ao mais abjeto lixo moral. Sem credibilidade, deficitária, caso perdido.

Empenhou-se e tirou a empresa do inferno. Recobrou a credibilidade. O déficit passou a superávit. Mas daí, era hora de se livrar de quem levava as coisas a sério demais. A política não se interessa por seriedade. Ela quer ibope, quer ganhar as eleições, quer faturar.

Como se a Nação tivera memória fraca, voltemos aos tempos idos e vividos em que todos se fartavam e deu certo durante tantos anos. Uma empresa estatal precisa ser “sensível” aos reclamos da política. Esses “tecnocratas” são desalmados. Não ouvem o clamor de quem precisa fazer bonito no próximo pleito.

Essa tática ocorre em todos os níveis. Quando a situação inspira cuidado, quando a reputação está abaixo da crítica, é preciso encontrar alguém acima de qualquer suspeita. Recorramos a esse personagem e o iludamos. Prometamos convergência de esforços. Digamos a ele que é imprescindível ofereça a sua honorabilidade e a sua experiência em favor da Nação. Enganemo-lo. Há mais ingênuos entre os que nunca adentraram à sordidez da política partidária do que se imagina. Aqueles que optaram por uma vida modesta, de estudo e de atividade intelectual, não têm ideia do que seja o ambiente dos políticos profissionais.

Devotam-se, entregam-se, procuram fazer o que sabem: fazer o que é preciso. Enfrentam os desafios. Dialogam. Abrem espaço para os renegados que a política abomina, pois conhecem a vulnerabilidade do setor. Percebem que o demônio não é tão feito quanto se apregoa. E que do lado da “santidade” há muito sepulcro caiado.

Não esperam reconhecimento. Só se assustam ao tomar contato com aquilo que o antropólogo Antonio Risério bem definiu: “Um país pirado, com elites podres e população perdida”. Reconhecem sua impotência contra a máquina carcomida, contaminada e convicta de que não há Lava-Jato suficiente para atingi-la. 

Sabem que serviram a desígnios muito diferentes da sedutora promessa à época do convite. Que era mais um pedido de socorro, uma conclamação ao patriotismo. Percebem que tudo voltará a ser como antes, pois é assim que as coisas no Brasil funcionam.  (PS: o título do artigo não tem a ver com o episódio. É o filme que bem retrata a ética moribunda deste século que conseguiu, em duas décadas, sepultar a discreta esperança em dias melhores).








* José Renato Nalini é desembargador, reitor da Uniregistral, palestrante e conferencista. Visite o blog: renatonalini.wordpress.com.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

EDUCAÇÃO.
Por Renato Nalini*


AFOGADO EM DADOS


O excesso de informações é causa de uma das angústias do homem contemporâneo. O dilúvio de dados disponíveis, a velocidade das rupturas e a celeridade das inovações mantêm a humanidade em permanente tensão. O mundo está sob incessante e crescente demanda. 30 bilhões de mensagens de WhatsApp são endereçadas a cada dia e 87% dos jovens americanos disseram que nunca abandonam seus smartphones. 44%  tiram fotos com seus celulares todos os dias. E o compartilhar de imagens, clips, discursos e shows?

O usuário não apenas reparte tudo aquilo que acha interessante – peer-to-peer – como produz também material para ser distribuído. Todos são capazes de fazer um filme e de encaminhá-lo para o rol de amigos, ou disponibilizá-lo nas redes sociais. 

Tudo tem de ser “já”. O “depois” já não interessa. O “agora” é que tem valor, não mais o “amanhã”. A corrida é frenética em ambos os sentidos. O consumidor busca as melhores ofertas na internet, os fornecedores procuram seus clientes mediante agressiva tática de venda.

E isso não ocorre apenas nos Estados Unidos, o campeão no comércio online. A China foi uma gigante desperta para essa realidade. Em 11.11.2015, o Single Day (Dia Único), realizado pelo grupo Alibaba, de comércio eletrônico, faturou mais de 14 bilhões de dólares online. 68% das vendas foram realizadas com uso de dispositivos móveis. Na África subsaariana, a região de maior número de assinaturas de celulares, os telefones fixos restaram superados. Mais de 240 milhões de usuários de internet móvel são esperados na África Subsaariana nos próximos cinco anos. 

Tudo se encontra na internet. Para o bem e para o mal. Quem tiver curiosidade passará a vida aprendendo coisas, visitando países, lendo biografias e se encantando com a exuberância do gênero humano. O conhecimento nunca esteve tão disponível e tão acessível a quantos queiram dele se apoderar. O risco é o indivíduo ficar tão assustado com a imensa exuberância das informações e se desinteressar por aprender, sob argumento de que não sabe o que deve guardar ou o que deve descartar.

O uso saudável das redes sociais é pedagógico. A par de disseminar conteúdo importante para quem está de mente aberta para recolher e abrigar novos conhecimentos, serve para ajudar o eleitor a escolher em quem votar. Lembrando que ainda não existe outra fórmula viável de se gerir uma sociedade, senão mediante eleição de representantes. Até nos convençamos de que depende de cada um de nós implementar a Democracia Participativa, de gradação mais relevante em cotejo com a combalida e desacreditada Democracia Representativa.








* José Renato Nalini é desembargador, reitor da Uniregistral, palestrante e conferencista. Visite o blog: renatonalini.wordpress.com.

domingo, 3 de junho de 2018

EDUCAÇÃO.
Por José Renato Nalini*

NÃO DÁ PARA FUGIR.


Um dos paradoxos da sociedade contemporânea é o discurso do apreço à privacidade e a “surra de lavada” que ela está levando de sua concorrente, a transparência. A Constituição de 1988 é pródiga em acolher antagonismos que vão reclamar imaginação criadora e malabarismos hermenêuticos para conciliar ordem e liberdade, propriedade e sua função social e o nosso tema de hoje: privacidade (ou intimidade) e publicidade (ou transparência).

Uma primeira constatação é a de que as pessoas gostam de aparecer, de se mostrar, de se exibir. Aqueles minutos de fama no “fogareiro das vaidades” continua a funcionar e a atrair milhões de seres humanos ávidos por não serem esquecidos.

Já é um contrapeso à defesa da intimidade. Em seguida vem o argumento da segurança. Todos têm medo e este justifica uma certa perda de privacidade. Pais seguem os filhos durante todo o tempo em que os não têm sob suas vistas. Cargas são acompanhadas pelos interessados em não perdê-las de vista. Os espaços que abrigam valores, tangíveis ou intangíveis, têm de estar sob a proteção de esquemas cada vez mais sofisticados.

Isso decreta o fim do anonimato. Há poucos dias, Filipe Oliveira anunciava que o anonimato está com os dias contados. Hoje, entrar em loja, hotel, escola, ônibus e estádio de futebol sem ser reconhecido será quase impossível. A inteligência artificial ajuda a identificar as faces e não adianta tentar fazer plástica para mudar a fisionomia. Há outros caracteres indestrutíveis e esses bastarão para reconhecer quem quer fugir. 

Há um acerto de 99% na identificação por imagem. As câmeras não só identificam, mas são hoje capazes de detectar a emoção da pessoa. Prato cheio para o comércio, que saberá como lidar com sua potencial clientela, diante da reação fotografada pela câmera de segurança diante de um produto. Outra tecnologia já disponível: ao identificar o rosto do cliente, a empresa pode em seguida chama-lo pelo nome. Tratamento individualizado, em abono à vontade de ser prestigiado que se detecta na maioria dos viventes neste quarto de século.

Para as escolas, o sistema servirá para avisar os pais de que o filho não entrou em sala de aula. Ou que está em companhia daquele colega que não é bem visto pela família. 

O sistema está mal começando. Pensem na disseminação disso e no ousado exercício de futurologia bem possível: ninguém mais será um desconhecido daqui a alguns anos.










* José Renato Nalini é desembargador, reitor da Uniregistral, palestrante e conferencista. Visite o blog: renatonalini.wordpress.com.




quarta-feira, 16 de maio de 2018

FICAR PARADO É ANDAR PARA TRÁS.
Por José Renato Nalini*

Os efeitos da 4ª Revolução Industrial já nos atingem. Vejam como os mobiles já adivinham o que vamos escrever em nossas mensagens eletrônicas. Isso é Inteligência Artificial, a mágica transformadora do mundo neste século surpreendente.

Os Países que têm juízo – e são muitos, embora não façamos parte desse clube – sabem que o poder dos algoritmos do mundo digital não respeita fronteiras, acaba com negócios e muda profundamente a vida. É mais do que urgente levar a educação a sério. Ensinar o que melhora o convívio e atrai uma criança que já não consegue ser enganada com aquele conteúdo chocho das aulas tradicionais.

Os grandes centros do pensamento estão se preocupando há muito tempo com a educação do amanhã. Ela é toda condicionada a temas que parecem ficção científica para muitos nossos educadores. Mais preocupados com avaliações em relação à capacidade cognitiva e à habilidade de memorizar informações, não se apercebem que o mundo mudou e não voltará a ser o que já foi.

A receita para garantir sobrevivência às gerações que hoje estão nos seus anos iniciais é pensar de outra maneira os desafios da força de trabalho do século 21. Mais da metade dos empregos existentes é hoje destinada à extinção. Surgirão outras atividades, é óbvio. Mas o drama é: Primeiro, serão necessárias menos seres humanos do que aqueles que serão descartados em suas profissões. Segundo: as necessidades não coincidem com a baixíssima formação hoje propiciada a praticamente toda a juventude. Só terão o que fazer, de forma prazerosa e remunerada, aqueles que estiverem preparados. 

Indústria sucateada, pesquisa pouco desenvolvida, incapacidade de ler, escrever e se exprimir, baixa criatividade, generalizado desalento. Este o cenário em que os jovens de hoje estão, sem perspectivas reais de uma subsistência digna daqui a algumas décadas. 

Reinventar a educação, abrir espaço à ousadia, ser audaz na mudança de rumos, alertar família e sociedade, tudo isso depende mais da cidadania do que do Governo. Este continuará atento ao calendário eleitoral, ao Fundo Partidário, às coalizões, ao tempo de TV e ao marketing que terá de convencer o eleitor de que estará a fazer a melhor escolha.

Se a sociedade lúcida não acordar e não assumir as rédeas do convívio consciente e solidário, tudo ainda será pior.










* José Renato Nalini é desembargador, reitor da Uniregistral, palestrante e conferencista. Visite o blog: renatonalini.wordpress.com.



Leia> O Brasil Sobre Rodas.  

sexta-feira, 13 de abril de 2018

EDUCAÇÃO.
Por José Renato Nalini*

A RESSURREIÇÃO DA ESPERANÇA

A civilização que se autodenomina "cristã" tem de conhecer a ressurreição de Lázaro. Amigo de Jesus, morreu enquanto o Cristo pregava em lugar distante. Marta e Maria, as irmãs de Lázaro, foram à procura do Mestre para lamentar o infortúnio e pedir sua intercessão. O episódio da ressurreição de Lázaro é uma parte muito eloquente dos Evangelhos.

Baseando-se nele foi que o Padre José Carlos Spinola criou o "Reciclázaro" em São Paulo. Uma Organização da Sociedade Civil que, além de reciclar vidro, latinhas e material PET, também procura ressuscitar para a dignidade algumas existências condenadas a um sobreviver indigno.

10% da população de rua da capital paulista é cuidado pela Reciclázaro. Mais de 30 mil pessoas já foram atendidas, desde recém-nascidos até idosos com idade superior a 90 anos. Mas a maior faixa etária entre os atendidos está entre os 18 e 45 anos.

Os programas são transitórios, não permanentes. A filosofia é fazer com que o ser humano receba um estímulo e depois possa caminhar de forma autônoma. Um dos exemplos do trabalho do Reciclázaro: sob o viaduto do Gasômetro, oferece-se um programa de atividades sócio-educativas. Ali se desenvolve o Programa de Intervenção Comunitária no Brás. Outra unidade é a Casa de Simeão, com acolhimento de 150 idosos em situação de vulnerabilidade e encaminhados para oficinas de capacitação e geração de renda.

O Centro Dia Guadalupe conta com equipe multidisciplinar para atender 30 pessoas com idade superior a 60 anos e que necessitam de atenção e cuidados pessoais. Atua em conjunto com o Programa de Atenção à Pessoa Idosa – PROGAP, que tem por objetivo aprimorar a qualidade de vida do idoso.

Também funciona a Casa de Marta e Maria, para cuidar das mulheres vítimas de violência. 82 mulheres recebem o apoio e, se tiverem filhos, as crianças continuam com as mães enquanto atendidas.

A criação de novas oportunidades de convívio social está na Casa São Lázaro, que acolhe 100 homens e oferece oficinas como fusing glass, o vidro fundido, papelaria artesanal, corte e costura e outras atividades que geram renda. Mas é importante mencionar que não é apenas o ser humano aquele que merece carinho e atenção da Reciclázaro. O Centro de Formação Profissional e Educação Ambiental – CEFOPEA ensina a preservar sob a forma de diversão. Também há programas de coleta seletiva e geração de renda, especialmente implementado para atender carroceiros e pessoas em situação de risco social. A coleta de resíduos sólidos concilia o cuidado de âmbito social e ambiental e também o intuito econômico, pois os cooperados recebem pelo trabalho prestado.

É mais um exemplo de protagonismo cidadão que reverte em melhoria do convívio social, cujas fissuras não podem se aprofundar, sob pena de não se atingir o propósito do constituinte de 1988: edificar uma Pátria justa, fraterna e solidária.  










* José Renato Nalini é secretário da Educação do Estado de São Paulo, Imortal da Academia Paulista de Letras, Membro da Academia Brasileira da Educação e docente da UninoveVisite o blog: renatonalini.wordpress.com.


Leia> O Brasil Sobre Rodas.  

sábado, 31 de março de 2018

EDUCAÇÃO.
Por José Renato Nalini*

VONTADE FAZ ACONTECER

A participação da família e da sociedade na escola pública é uma exigência constitucional. A vida republicana implica em direitos e deveres e um destes, bem explícito no artigo 205 da Constituição Federal, é o de oferecer educação de qualidade às crianças e jovens brasileiros.

Se alguém se detiver exclusivamente na leitura da grande mídia espontânea, terá uma impressão falaciosa do que ocorre na Rede Pública da Educação. Exemplifique-se a estrutura gigantesca da Secretaria da Educação de São Paulo, com mais de 5 mil escolas, 4 milhões de alunos, 400 mil pessoas a depender da folha de pagamentos, numa sequência de anos críticos para a economia bandeirante.

Ao visitar, recentemente, o município de Guará, tomei conhecimento daquilo que se realiza na Escola Estadual Marechal Rondon, com o idealismo ativo de sua equipe gestora, do Grêmio Estudantil e do programa Escola da Família.

O histórico da escola mereceu artigo escrito por aluna da 2ª série em 2017 e publicado no jornal local, nas comemorações do aniversário da cidade. A história do patrono também é divulgada entre os alunos, que precisam ter justificado orgulho de eternizarem a memória de um brasileiro que respeitou as nações indígenas, tão cruelmente dizimadas no início da colonização, a refletir a ignorância à época.

Quando da visita do Secretário da Educação à Escola, uma aluna youtuber elaborou um vídeo com a apresentação de todas as ações ali realizadas. Evidenciou desenvoltura e habilidade verbal para falar sobre a feira de profissões, aulas diferenciadas, gincana escolar, sarau literário, prevenção também se ensina, gestão democrática, projeto sala limpa, plantio de árvores, participação no I Encontro Paulista de Grêmios, Projeto Ler é Bom, experimente!, Livro de crônicas, projeto Boca de Cordel, Pastoral da Educação, dia da leitura, jornal na sala de aula e tudo o mais que aconteceu na Escola da Família.

O resultado é que muitos alunos da EE Marechal Rondon de Guará já adentraram à Universidade, com destaque para aqueles que conseguiram vaga no ensino público. São eles Carlos Henrique da Silva Furtado, Daniel Henrique Dias, Rodrigo Henrique Mortari e Paulo Roberto Júnior. Estão de parabéns, assim como os responsáveis por esse sucesso, que inclui a família, a equipe gestora e os docentes, além de toda a comunidade que faz funcionar a dinâmica unidade escolar. 

Não é só dentro da escola que Guará faz a diferença. A Câmara Municipal tem um projeto chamado "Escola na Câmara", para estimular crianças e adolescentes a acompanharem as atividades o Legislativo. Elaborou uma cartilha legislativa, recebe visitas dos alunos e vai alicerçando um dos objetivos da educação, que é a capacitação para o exercício consciente da cidadania.

Não por acaso, a Presidente da Câmara de Guará é uma professora: Bibi Seribeli, que nutre especial carinho em relação à educação. Por isso é que as coisas ali acontecem.

E só acontecem porque há consciência e vontade. Que outros municípios aprendam a lição. Não há quem não possa fazer algo para aprimorar o grau qualitativo da educação pública no Brasil.










* José Renato Nalini é secretário da Educação do Estado de São Paulo, Imortal da Academia Paulista de Letras, Membro da Academia Brasileira da Educação e docente da UninoveVisite o blog: renatonalini.wordpress.com.


quarta-feira, 21 de março de 2018

EDUCAÇÃO.
Por José Renato Nalini*

SE ESSA RUA FOSSE MINHA

A morte é inevitável. Viver, já diziam vários filósofos, é preparar-se para morrer. Ela é a mais democrática e certa das ocorrências para todos os vivos. O homem é o animal que sabe que vai morrer, daí a sua corrida louca em busca de iludir-se. Mas ela chega, mais dia menos dia.

Isso não quer dizer que se deva encarar com naturalidade a morte desnecessária de tantos jovens por causa do trânsito. Os acidentes por ele causados geram a morte de crianças e jovens e no doloroso ranking das perdas vitais, ele é o segundo. A cada 57 segundos ocorre um acidente de trânsito, a cada 7 minutos alguém é atropelado, a cada 22 minutos uma pessoa morre. Além disso, a cada ano, 350 mil pessoas ficam mutiladas.

Por que tudo isso?

Falha humana. A educação nunca foi uma preocupação consistente para grande parte da humanidade. Quem não tem educação na vida, muito menos terá educação consistente no trânsito. A irresponsabilidade é a regra. Há uma explicação psicológica para aquele condutor que transfere sua vocação de onipotência para o volante. O motorista presunçoso se considera imbatível. Transfere para a máquina a sua vontade de sobrepujar os demais. A velocidade é um vício equivalente à droga.

Quem não conhece alguém que morreu atropelado, ou à direção, quando voltava de uma balada, quase sempre junto com outros jovens? Quem não sabe de um episódio em que um motorista zeloso, na sua mão de direção, em velocidade compatível, é abalroado e morre por insensatez de um louco à direção?

Não é possível que o Brasil sacrifique o melhor de sua juventude nessa guerra do trânsito. Por isso a urgência de educar a criança desde a mais tenra idade, de maneira continuada, para que ela aprenda a respeitar a vida e nossas cidades e estradas sejam um retrato da civilização com a qual sonhamos. Mas que é hoje muito distante dessa utopia.

O Programa "Se essa rua fosse minha" é um projeto exitoso de formação continuada propiciada ao aluno, com material exclusivo para professores e pais. Não é mais uma disciplina, mas implementado na transversalidade pedagógica. Há uma coleção para o Ensino Fundamental com nove livros, cada qual para um dos anos escolares: "Meus caminhos seguros", "Viver em uma comunidade mais feliz", "Eu cuido da qualidade de vida", "A cidade tranquila", "Eu sei conviver em harmonia", "Novos caminhos", "Muitas conquistas", "Depende de nós", "Todos têm direito à vida", "Todos têm direitos iguais" e "Aposte nessa ideia".

O programa já atingiu mais de dois milhões e meio de alunos, com doze mil professores formados e já foi aplicado em 150 municípios. Mas precisa continuar e convencer mais e mais pessoas.

Os acidentes de trânsito não são tragédias naturais. São resultado de imprudência, negligência, imperícia, quando não, o que é pior, da vontade predeterminada e deliberada de matar ou ferir alguém.

Somente a educação poderá coibir esse recorde nefasto. Enquanto não tivermos os veículos autônomos, que dispensarão motoristas descuidados, embriagados ou temerários, vamos insistir em programas como este. Para salvar vidas. É o que justifica todo o investimento que nele se faz. 










* José Renato Nalini é secretário da Educação do Estado de São Paulo, Imortal da Academia Paulista de Letras, Membro da Academia Brasileira da Educação e docente da UninoveVisite o blog: renatonalini.wordpress.com.


sábado, 17 de março de 2018

EDUCAÇÃO.
Por José Renato Nalini*

Gol do Brasil: uma ótima!

Fui conhecer pessoalmente o Projeto "Gol do Brasil", que a CBF e WTC implementaram em Ribeirão Pires, com apoio da prefeitura. Vale a pena verificar o que se realiza naquele município que é uma estância turística tão próxima à capital. Ainda tem trechos de Mata Atlântica quase intactos, com manacás da serra colorindo o verde e mostrando o quão generosa é a natureza, se não for destruída.

Este é um "golaço". Os alunos da Rede Pública – tanto do Município como do Estado – têm treinamento futebolístico no contra turno. Aprendem não só a jogar futebol, a conhecer a história desse esporte, a trabalhar em equipe e de forma cooperativa. Muito mais do que isso, investe-se num conjunto de habilidades que são exatamente aquelas pelas quais se preocupa a UNESCO, órgão da ONU encarregado da cultura, de disseminação dos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O arcabouço de atributos humanos sem os quais a Humanidade poderá regredir, em lugar de avançar no rumo utópico da busca de perfectibilidade.

Respeito, companheirismo, empatia, autoconhecimento, criatividade, cidadania, civismo, tudo isso é vivenciado pelos jovens monitorados por outros jovens, especialmente capacitados para um convívio que não é continuidade de aulas prelecionais, mas prazerosa prática do aprender com alegria.

Conversamos com alguns dos estudantes que manifestaram, com espontaneidade, o seu contentamento por fazerem parte da pioneira iniciativa. Os relatos constituem o atestado do êxito desse projeto, que, de certa forma, antecipa aquilo que é necessário para observância das regras do Novo Ensino Médio. É a faixa etária em que existe evasão e a juventude não aceita mais o velho esquema de aulas expositivas, com quinze disciplinas, todas elas compartimentadas e sem vínculo aparente com a vida real.

Por deferência de Walter Feldman, nosso paulista à frente da CBF, veio para uma exposição bem eloquente sobre o projeto o Gerente de Desenvolvimento Técnico do setor de Responsabilidade Social e Sustentabilidade, Diogo Cristiano Netto. Forneceu todas as informações que convenceram os presentes da relevância de um programa que envolve o jovem com o esporte mais sedutor para os brasileiros, que é o futebol, mas oferece um componente saudável e ético de reforçar os valores dos quais a nacionalidade se ressente nesta quadra histórica.

Conheço inúmeros Prefeitos Educadores que seriam parceiros ideais para a disseminação dessa proposta alvissareira e não só promissora, mas verdadeiramente exitosa, pois os frutos colhidos em Ribeirão Pires podem se espalhar por todos os outros 644 municípios bandeirantes. Tento para a CBF – Confederação Brasileira de Futebol e para a Estância Turística de Ribeirão Pires.









* José Renato Nalini é secretário da Educação do Estado de São Paulo, Imortal da Academia Paulista de Letras, Membro da Academia Brasileira da Educação e docente da UninoveVisite o blog: renatonalini.wordpress.com.


domingo, 11 de março de 2018

EDUCAÇÃO.
Por José Renato Nalini*

ARMEMO-NOS PARA A PAZ

Se queres paz, arma-te para a guerra. Essa a ordem longeva, que parece ter ressuscitado na América do Norte. Pois a receita para evitar chacinas como a da Flórida, onde um ex-estudante matou dezessete alunos há algumas semanas, é fazer com que cada professor carregue uma arma. Carregue uma arma carregada, é claro.

Não é crível que a resposta à violência seja a incitação a maior violência. Mas é o que acontece quando o setor armamentista consegue convencer os impulsivos, os raivosos, os que "não levam desaforo para casa", a investir ainda mais na fabricação desses instrumentos de morte.

Sou radical em relação a isso. Arma não deveria sequer ser fabricada. Algo que existe para tirar a vida, não deveria existir.

Quem é que não enxerga a realidade evidente: os homicídios que chocam a população, o assassinato de várias pessoas ao mesmo tempo, as "balas perdidas", tudo isso não existiria se houvera abolição da arma de fogo.

O Brasil já se posicionou no tema. Votou o Estatuto do Desarmamento, ora sob ameaça. Como tudo o mais que é bom no País e que tende a ser mutilado ou a desaparecer.

Em lugar de se investir na estrita observância do Estatuto do Desarmamento, pretende-se liberar o uso de arma de fogo. Quantas vidas ceifadas ainda serão necessárias até que o discernimento prepondere e se faça uma grande apreensão de armas de fogo em nosso território?

Quem possui arma, dia mais, dia menos, vai usá-la. No mundo da ira, da violência, do desentendimento, do estranhamento e do egoísmo, quem carrega um revólver, pistola ou fuzil, é um potencial utente desse instrumento de matar.

Surreal a proposta ianque: armemo-nos para a paz. O mundo não anda bem e a consciência dos governantes menos ainda.









* José Renato Nalini é secretário da Educação do Estado de São Paulo, Imortal da Academia Paulista de Letras, Membro da Academia Brasileira da Educação e docente da UninoveVisite o blog: renatonalini.wordpress.com.



Ouça> SP/RIO 101,5 FM.

quarta-feira, 7 de março de 2018

EDUCAÇÃO.
Por José Renato Nalini*

O ALGORITMO NOS AMEAÇA?


O mundo nos surpreende a cada instante. Quem diria que a inteligência artificial viesse a ocupar espaço tão considerável e crescente, a ponto de superar a ficção científica? 

Não está longe a experiência de androides examinarem humanos e elaborarem diagnósticos mais confiáveis do que aqueles produzidos pelos médicos. O tratamento correto pode também ser decidido por um algoritmo na nuvem.

Consulta menos dispendiosa, rápida e confiável se baseia em tecnologia já comprovada. A inteligência artificial baseada em "deep learning", um aprendizado por conta própria.

Mediante o uso de exames de imagem como raios -X e outros que mapeiam a retina, cientistas americanos, chineses e alemães provaram que a máquina pode superar o homem quando o tema é saber quem é doente e quem não é.

Tudo tem explicação científica. Um algoritmo foi treinado com um gigantesco banco de mais de 200 mil imagens de tomografia de coerência ótica, um exame propiciador da observação das camadas da retina, para identificar alterações geradas por doenças graves. Uma delas, muito comum, é a degeneração macular, proveniente do avanço na idade.

Por conta própria, o programa aprendeu a ler aspectos das imagens que julgou importantes para chegar ao diagnóstico. Esteve ausente o raciocínio humano e o algoritmo pode chegar sozinho ao veredito

O resultado: os especialistas em retina foram superados na obtenção de diagnósticos corretos. O algoritmo errou em 6,6% dos casos. Isso interessa ao Brasil, onde ao menos um milhão de pessoas, entre diabéticos e idosos, apresentam elevado risco de apresentar degeneração da retina.

A opinião do Dr. Rubens Belfort Júnior, professor de oftalmologia da Unifesp, o ganho em qualidade é evidente: "Mesmo em países ricos a qualidade da análise nem sempre é boa, seja por despreparo, falta de tempo ou por desleixo". Mas em outros países o estágio é bem adiantado. O oftalmologista Kang Zhang diz que esse caminho é irreversível: "A chegada dos sistemas de diagnósticos baseados em Inteligência Artificial é inevitável. A nós, médicos, resta trabalhar e interagir com ela para fazer o futuro da medicina mais custo-efetivo e, além disso, prover um melhor cuidado". Isso vale para outras profissões. Como o Direito, por exemplo.

O algoritmo não é uma ameaça, a não ser para quem não quer se atualizar e teima em ignorar que a 4ª Revolução Industrial mudou, de forma estrutural e profunda, a vida de todos nós.










* José Renato Nalini é secretário da Educação do Estado de São Paulo, Imortal da Academia Paulista de Letras, Membro da Academia Brasileira da Educação e docente da UninoveVisite o blog: renatonalini.wordpress.com.



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