E ainda, um "Sampa-canção"
José Pastore, o mais lúcido intérprete da situação laboral brasileira, é também músico e apaixonado pela disseminação da música. Junto com Antonio Ermírio de Moraes, fundou o Instituto Baccarelli, que exporta talentos brasileiros para todo o planeta. Recebeu seu prêmio sob os trinados de Jean William, o garoto cada vez melhor, descoberta de João Carlos Martins.
A Agência Mural, outra premiada, é exitoso experimento de mídia focada na realidade e nas necessidades de regiões negligenciadas pela grande máquina da imprensa. O jornalista Leonardo Sakamoto fez bela referência sobre o trabalho de Paulo Talarico e sua equipe, que se manifestou com a voz de Priscila.
Nando Bolognesi foi um show à parte. Este sim, um case exemplar de superação. Acometido há 30 anos por esclerose múltipla, encontrou fórmula eficiente de continuar a espalhar alegria e sua peça faz todo o sucesso e merece que toda São Paulo a prestigie.
Fui privilegiado ao entregar o prêmio a Rachel Oliveira Braun, professora do Colégio Visconde de Porto Seguro, onde, além de coordenar a área de Ciências, coordena pedagogicamente a Escola da Comunidade. Testemunho eloquente de que a sociedade pode e deve participar do processo comum a todos de propiciar a todo jovem e criança uma educação de qualidade.
O show foi leve, edificante e gratificante. Além da música da Big Band EMESP e do Instituto Baccarelli, fomos todos premiados com Toninho Ferragut, o mago do acordeon. Gilberto Dimenstein, o idealizador, idealista e entusiasta, funcionou como simpaticíssimo Mestre de Cerimônias e deixou para o final uma surpresa. Comentou que todas as músicas paulistas continham uma gota de tristeza, assim como há uma gota de sangue em cada poema. É maloca destruída, trem que se perde, Iracema atropelada, cena de sangue num bar da Avenida São João.
Então lançou um repto ao sambista Toninho Gerais, mineiro carioca e este, um amante de São Paulo, junto com Chico Alves, dialogou com Caetano Veloso, autor de Sampa e com Paulo Vanzolini, que nos legou a maravilhosa Ronda. Produziu o "Sampa-Canção", pela primeira vez apresentada no MASP, naquela noite de 25.1.2018, na voz de Irene Atienza, cantora espanhola radicada nesta megalópole.
Vale a pena divulgar a letra, que precisa entrar na memória de todos os paulistas, paulistanos e agregados a esta insondável e encantadora urbe:
"Confesso que ao ver o seu rosto
Não vi o mau gosto, nem sei o que vi
As tardes de agosto invernado
O andar apressado no afã de ir e vir
Seu jeito de anjo noturno
Tocou no soturno boêmio que sou
E sem perceber, fui em frente
Displicentemente você me ganhou
Aí pude ver seu oposto
O luar sobreposto adoçando a acidez
Seus beijos na boca da noite
Sopraram pra longe minha timidez
E assim que aprendi seus caminhos
Provei dos carinhos que vêm de você
E me apaixonei
Viver sem você, não sei
Hoje é meu cais mais seguro
Meu ponto futuro
Onde quero chegar
Já não hesito um segundo
Em dizer que no mundo
Encontrei meu lugar
Se estou longe é um desassossego
E o sossego só volta a acalmar o meu ser
Se encontro São Paulo sorrindo
E os braços abrindo pra me receber".
* José Renato Nalini é secretário da Educação do Estado de São Paulo, Imortal da Academia Paulista de Letras, Membro da Academia Brasileira da Educação e docente da Uninove.
* José Renato Nalini é secretário da Educação do Estado de São Paulo, Imortal da Academia Paulista de Letras, Membro da Academia Brasileira da Educação e docente da Uninove.