Quando os conheci, um era agitado, ligado à competições. Gostava e tocava bem os modelos que dirigia, ou melhor, pilotava. O outro era mais tranquilão, até no falar. Um verdadeiro cavalheiro. Nomes? Sei lá, acho melhor não falar em nomes. Vou chamá-los de “Piloto” e “Comportado”, assim todo mundo fica buscando na memória os verdadeiros nomes deles, certo?
Em comum: ambos trabalhavam na assessoria de Imprensa de uma montadora, sob o comando de Luiz Carlos Secco, um mestre do setor, com quem tive o prazer de trabalhar e aprender.
Piloto acompanhava as competições da marca pelo autódromos do País. E se deixava influenciar pelas velocidades das pistas quando dirigia os veículos comuns. Sabia tocar bem, mas exagerava um pouco. Às vezes, muito. Mas era muito boa gente e engraçado, amigo de todo mundo e conhecedor de mecânica como poucos.
Já Comportado era como diz seu nome. Sempre risonho e atencioso com os jornalistas. Sua voz grave e macia era logo reconhecida no telefone fixo, usado na época, em que não existia celular ou computador. Era tempo do fax, do telex.
Culpa do vermelho
Num determinado dia, uma revista de automóveis solicitou à fábrica dois carros para fotografar: um pequeno, como motor 1.4, GT, e um grande, com seu motorzão V8.
Os dois foram levar os modelos até o estúdio, onde as fotos seriam feitas. Seriam, porque no meio do caminho, um acontecimento impediu que os clics acontecessem.
E adivinhem quem foi “pilotando” o “V” “oitão”? Acertaram! O Piloto, claro! Comportado seguiu atrás, no frágil GT que não era, mas parecia um verdadeiro esportivo, com suas faixas pintadas sobre o capô, rodas esportivas e outros penduricalhos. Nada muito diferente do que ainda existem hoje.
O estúdio pedia um trajeto cheio de ladeiras “encorpadas”. Numa delas, no cruzamento com uma grande avenida, o semáforo/sinaleira/farol (depende do lugar onde está o leitor) deu vermelho. Parado na pole position, o Piloto preparava-se para a largada, acelerando fundo para pular na frente. Acontece o carro tinha um ligeiro problema de trambulador e, muitas vezes, a ré entrava no lugar da 1ª marcha.
E lá está o Piloto acelerando com a marcha engatada. Mas, como o problema se repetiu, tacou a ré. A luzinha de ré acendeu e o Comportado adivinhando a m.... que ia dar, começou a buzinar. Isto só exacerbou o espírito de competição do Piloto. Quando verde surgiu, Pé direito no fundo e...... adivinhem o que aconteceu.
A fotos não foram feitas.
Claro, o Maverick do Reinaldo Lavia voou para trás e “atropelou” o Corcel GT do Carlos Roberto Costa (o Carlão, que passou pela Ford e também, mais recentemente, pela Citroën. (Pronto revelei os nomes. Mas vocês já sabiam, né?).
* chicolelis - chicolelis@gmail.com Jornalista com passagens pelos jornais A Tribuna (Santos), O Globo e Diário do Comércio. Foi assessor de Imprensa na Ford, Goodyear e, durante 18 anos gerenciou o Departamento de Imprensa da General Motors do Brasil. Assina a coluna “Além do Carro”, na revista Carro, onde mostra ações do setor automotivo nos campos Social e Ambiental.