quinta-feira, 7 de março de 2019

A MAGIA DA MÁQUINA DE ESCREVER.
Por Chico Lelis*


Ouve só.

A gente esvaziando a casa da tia neste carnaval. Móvel, roupa de cama, louça,  quadro, livro. Aquela confusão, quando ouço dois dos meus filhos me chamarem.

 - Mãe!

 - Faaala.

 - A gente achou uma coisa incrível, mágica! Se ninguém quiser, pode ficar para a gente? Hein?

 - Depende. Que é?

Os dois falavam juntos, animadíssimos.

 - Ééé... uma máquina, mãe.

 - É só uma máquina meio velha.

 - É, mas funciona, está ótima!

Minha filha interrompeu o irmão mais novo, dando uma explicação melhor.

 - Deixa que eu falo: é assim, é uma máquina, tipo um... teclado de computador, sabe só o teclado? Só o lugar que escreve?

 - Sei.

 - Então. Essa máquina tem assim, tipo... uma impressora, ligada nesse teclado, mas assim, ligada direto. Sem fio. Bem, a gente vai, digita, digita...

Ela ia se animando, os olhos brilhando.

 - ... e a máquina imprime direto na folha de papel que a gente coloca ali mesmo! É muuuito legal! Direto, impresso na mesma hora, eu juro!

Eu não sabia o que falar. Eu também juuuro que não sabia o que falar diante de uma explicação dessas, de menina de 12 anos, sobre uma máquina de escrever.

Era isso mesmo?

 - ... entendeu mãe?... zupt, a gente escreve, muda de linha e a gente até vê a impressão tipo na hora, e não precisa essa coisa chata de entrar no computador, ligar, tipo esperar hóóóras, entrar no word, de escrever olhando na tela, mandar para a impressora, esse monte de máquina, de ter que ter até estabilizador, comprar cartucho caro, de nada, mãe! É muuuito legal, e nem precisa de colocar na tomada! Funciona sem energia e escreve direto na folha da impressora!

 - Nossa, filha...

 - ... só tem duas coisas: tipo não dá para trocar a fonte nem aumentar a letra, mas não tem problema. Vem, que a gente vai te mostrar. Vem...

Eu parei e olhei, pasma, aquela máquina, tipo velha. Eles davam pulinhos de alegria.

- Mãe. Será que alguém da família vai querer? Hein? Ah, a gente vai ficar torcendo, torcendo muito para ninguém querer para a gente poder levar lá para casa, isso é o máximo! O máximo!

Bem, enquanto estou aqui, neste 'teclado', estou ouvindo o plec-plec da admirada máquina, que, claro, ninguém da família quis mas que, aqui em casa, já deu até briga, de tanto que já foi usada. Está no meio da sala de estar, em lugar nobre, rodeada de folhas e folhas de textos "impressos na hora" por eles. Incrível, dizem, plec-plec-plec, muito legal, plec-plec-plec.

Eu e o Zé já estamos até pensando em comprar outra, ficando uma para cada filho.

Mas, pensa bem se não é incrível mesmo para os dias de hoje: sai direto, do teclado para o papel, e sem tomada!

Obseste brilhante texto não é meu e nunca descobri sua autoria. Mas seria muito egoísmo de minha parte, não dividi-lo com quem não o conhecia.








chicolelis - chicolelis@gmail.com - Jornalista com passagens pelos jornais A Tribuna (Santos), O Globo e Diário do Comércio. Foi assessor de Imprensa na FordGoodyear e, durante 18 anos gerenciou o Departamento de Imprensa da General Motors do Brasil. Assina a coluna “Além do Carro”, na revista Carro, onde mostra ações do setor automotivo nos campos Social e Ambiental.