quarta-feira, 27 de maio de 2020

CHUMBO GORDO.
Por Carlos Brickmann*

ROUBANDO O REMÉDIO DO DOENTE


Bolsonaro tem suas culpas – tantas, tão graves, que não é preciso inventar culpas novas para falar mal dele. No caso da busca e apreensão no Rio, em que o governador e sua esposa foram atingidos, ele até que gostaria de ser o responsável pela Operação Placebo da Polícia Federal, mas o comando é outro: quem pediu ao Superior Tribunal de Justiça que autorizasse a busca, a apreensão e a quebra dos sigilos foi a Procuradoria Geral da República. O procurador-geral, Augusto Aras, foi indicado por Bolsonaro, mas se o STJ autorizou a ação é que havia motivos para realizá-la. A coisa no Rio parece mesmo brava: dos sete hospitais de campanha, só três foram entregues. Um hospital, dado como pronto, só tinha as paredes: o equipamento, já pago, lá não existia. A empresa terceirizada que cuida da construção e manutenção dos hospitais já gastou um terço da verba total para seis meses, sem concluir sequer metade das obras de construção. E a manutenção?

Mas, se o responsável pela operação não é Bolsonaro, que tanto queria mudar a direção da PF no Rio que por isso até demitiu Sergio Moro, se a operação ocorreu logo após a mudança por pura coincidência, resta explicar uma coisa. Na véspera da operação, a deputada ultrabolsonarista Carla Zambelli disse à Rádio Gaúcha que a Federal iria agir contra governadores. Era verdade – mas como é que ela soube? Quem, e por que, violou o sigilo?

Cadê o sigilo?


Carla Zambelli é uma parlamentar pronta a defender o presidente, mas não está no primeiro escalão bolsonarista. Além dela, quem mais sabia da operação? Ela sabia de mais coisas: na entrevista, disse que a PF tinha outras operações "na agulha", que acabaram não sendo feitas.

De novo a pergunta: como é que sabia? O senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, garante que começou o tsunami. É só palpite ou sabe de algo? Se sabe, como?

De tudo um muito


O Ministério Público diz ter provas de que houve fraude no orçamento até dos geradores dos hospitais de campanha do Rio. Mais: que, no topo da organização que fraudou o orçamento, está o governador Wilson Witzel.

Primeiro o deles


Há gente arriscando a vida para cuidar de quem contraiu o coronavírus. Há gente que se mobiliza para ajudar os que, por causa do coronavírus, estão precisando de dinheiro, comida e roupas. Há empresas que fizeram pesadas doações para ajudar a combater a pandemia – entre elas, louve-se enfim, a sempre criticada JBS, que também não demitiu funcionários. E há gente que, mesmo sabendo dos problemas que os vários governos enfrentam para pagar os custos do combate ao coronavírus, dão de ombros. E daí? Não é com eles.

Na Bahia, um lúgubre retrato do que pode acontecer. No Tribunal de Justiça, saiu uma listinha de salários. Lembre: diz a lei que nenhum salário pago por cofres públicos pode ultrapassar o de ministro do Supremo, algo como R$ 40 mil mensais. Nos Estados, são cerca de R$ 36 mil. Na lista de 19 nomes do TJ da Bahia, o menor salário é de Itabuna, de um diretor de Secretaria de Vara, R$ 39.722,80. O maior é de Salvador, de um subescrivão de gabinete de desembargador, R$ 54.563,22. No miolo da lista, há um escrivão, com R$ 45.1448,29; um atendente de recepção, R$ 50.305,29; um técnico de nível médio, R$ 47.298,65. Tudo deve estar bem explicadinho, com certeza. E ajuda a encontrar a explicação da falta de dinheiro para pagar funcionalismo.

Alô, alô, colegas!


Não existe "protesto a favor". Existe "manifestação a favor". Protesto é uma manifestação contrária. Portanto, "protesto a favor de Bolsonaro" é uma contradição em termos: ou é protesto, ou é a favor. Segundo: na manifestação deste final de semana na avenida Paulista, em São Paulo, havia pelo menos uma bandeira da Pravy Sektor, a milícia fascista da Ucrânia. Deve ter sido falha deste colunista, que não viu menção a esta bandeira, nem entrevistas com quem a transportava. Só vi uma menção à Ucrânia, que talvez seja fake news: uma entrevista atribuída a Sara Winter, ex-feminista que hoje lidera um grupo radical de bolsonaristas. Segundo o áudio que lhe é atribuído, ela diz ter sido treinada na Ucrânia e que chegou a hora de ucranizar o país.

Tem de saber puxar


John Foster Dulles, o secretário de Estado do presidente Eisenhower (1953-1961) disse que os Estados Unidos não tinham amigos, mas países com interesses comuns. O presidente Bolsonaro, ingênuo ao ponto de achar que ele e seu filho tinham conquistado a amizade do presidente Trump, já enfrentou problemas mais de uma vez (como na indicação para a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE). Agora Trump proibiu a entrada nos EUA de pessoas que tenham passado pelo Brasil há menos de 14 dias, já que aqui o coronavírus cresceu exponencialmente.

Até aí, vá lá; mas as palavras de Trump foram duras, "não quero ninguém entrando aqui para infectar nossos cidadãos". Muy amigo.


Carlos Brickmann é Escritor, Jornalista e Consultor, diretor da Brickmann & Associados Comunicação
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