sexta-feira, 5 de julho de 2024

COCHE A LA VISTA! O RÁDIO IMPULSIONANDO O AUTOMOBILISMO ARGENTINO NO ANOS DE 1950. Por Luiz Carlos Secco*

Esta é a frase que o locutor esportivo Luís Elias Sojit exclamava para anunciar a passagem dos carros a cada volta completada e saudando em clima de comemoração com grande dose de emoção quando ocorria a vitória de um piloto em corridas na Argentina e, principalmente, as de Juan Manuel Fangio.

Luís Elias Sojit ganhou fama pela forma entusiasmada com que transmitia as corridas pelas emissoras em que trabalhou, principalmente nos anos de ouro em que a Argentina desfrutou quando acompanhou Juan Manuel Fangio nos anos de 1950 e transmitiu os cinco títulos de campeão mundial da Fórmula 1. Com esse slogan a cada volta completada nas corridas Luís Elias Sojit ficou famoso e sempre atraiu ouvintes sintonizados nas emissoras em que trabalhou.

Atualmente, a transmissão das corridas pela televisão mostra quase todos os momentos e lances mais importantes, inclusive com seguidas repetições dos fatos mais marcantes e em câmera lenta. Nos anos de 1950, o público acompanhava e imaginava o que estava acontecendo na pista somente pela narração dos locutores de rádio que, a cada passagem pela reta de chegada realçava com entusiasmo o momento. Assim, com muito entusiasmo e até imitação do som dos carros, Luis Elias Sojit materializava e dava imagem à transmissão de rádio.

Nos anos de 1950 a televisão estava no início, o rádio e o telefone eram precários, a internet nem existia. Lembro bem da dificuldade que os jornalistas enfrentavam para fazer a transmissão de um jogo de futebol, uma corrida de automóveis ou qualquer outro evento esportivo.

Com voz forte e vibrante Sojit elevava o nível de seu trabalho e a emoção que encantava os ouvintes pelo entusiasmo que transmitia. Era um profissional destemido e ousado, daqueles que inventam formas de transmitir as notícias com criatividade, às vezes usando as redes de outras emissoras ou escalando muros e postes por não conseguir credencial para ingresso nas pistas, como aconteceu nos Estados Unidos, quando decidiu transmitir a corrida 500 Milhas de Indianápolis.

Nos anos de 1940 e 1950, ele acompanhou a campanha de Juan Manuel Fangio e José Froilán González na Europa e também reportou o Grande Prêmio da América do Sul de 1948, conhecido por todos como La Buenos Aires-Caracas. Diz a lenda que durante esta corrida ele ficou acordado por 73 horas seguidas.

Perspicaz, Sojit sempre fez uso do sentimento patriótico e da vibração com o desempenho dos cidadãos argentinos e, com a amizade que desfrutava com Juan Domingo Perón, presidente da República, conseguiu apoio para acompanhar Fangio nas corridas internacionais. Com sua forma peculiar de transmitir tornou-se o profissional mais famoso do país.

Eu o conheci aqui São Paulo, quando acompanhou Fangio convidado pela Editora Abril para participar da primeira edição do Prêmio Victor, realizado durante alguns anos para reconhecer os que mais se destacavam nas pistas brasileiras. E mantive relações de amizade com ele nas vezes em que fui à Argentina para reportagens sobre automobilismo.

A visão de Perón e de sua equipe de governo, o desempenho positivo de Fangio e as transmissões entusiasmadas de Sojit promoveram a paixão esportiva dos argentinos e deram grande protagonismo no automobilismo esportivo a Argentina, que era referência internacional, com os cinco títulos mundiais que Fangio conquistou.

Com o desempenho nas corridas, as emocionantes transmissões de Sojit e com a visão do governo, Fangio tornou-se o símbolo do sucesso esportivo argentino.

Sojit faz a velha guarda de aficcionados por corridas de automóveis no Brasil lembrarem de Wilson Fittipaldi em suas transmissões pela Rádio Pan-americana, hoje Jovem Pan. Ele também empolgava em suas transmissões principalmente as corridas realizadas no circuito da Gávea, no Rio de Janeiro, e no Autódromo de Interlagos.

Sojit iniciou suas carreiras de jornalista e radialista acompanhando o futebol, mas foi atraído pelo automobilismo pelas corridas da categoria TC (Turismo Carretera), disputadas em estradas argentinas entre várias cidades. E o seu grito famoso surgiu porque ele idealizou uma forma de transmitir as corridas instalando-se no final do percurso e contando com a ajuda de companheiros posicionados ao longo dos percursos com informações sobre a posição dos principais classificados nas competições. Para criar o ambiente de emoção ele permanecia na meta e usava o seu famoso grito para anunciar o vencedor.

Nascido em Buenos Aires no dia 7 de maio de 1910, além de pioneiro radialista também foi ator de cinema e teatro, mas ganhou fama como pioneiro e famoso radialista esportivo.

Com forte relação com Juan Domingo Perón sempre manifestou sua preferência política, idealizando motes para realçar o carisma do presidente, em ambiente de muita rivalidade. Um deles era: Perón cumpre e Evita dignifica.

No governo de Pedro Aramburu, entre novembro de 1955 e maio de 1958, foi obrigado a exilar-se e viveu algum tempo no Brasil, como outros artistas e só regressou alguns anos depois. Foi preso, mas recebeu ajuda de um amigo, Augusto Bonardo, que tinha influências em áreas do governo de Aramburu.

Para uma pessoa de forte dinamismo, faleceu cedo, em 1972, aos 72 anos. Lamentavelmente o automobilismo argentino perdeu um forte promotor.

>> Esta e outras histórias vividas e narradas pelo jornalista Luiz Carlos Secco você pode ouvir no podcast Muito Além de Rodas e Motores
 Clique aqui e ouça agora

*Luiz Carlos Secco trabalhou, a partir de 1961 até 1974, na empresa S.A. O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde, além da revista AutoEsporte. Posteriormente, transferiu-se para a Ford, onde foi responsável pela comunicação da empresa. Com a criação da Autolatina, passou a gerir o novo departamento de Comunicação da Ford e da Volkswagen. Em 1993, assumiu a direção da Secco Consultoria de Comunicação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário