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quarta-feira, 12 de agosto de 2020

CHUMBO GORDO.
Por Carlos Brickmann*

OS RATOS QUE RUGEM


Há malfeitorias absurdas que muita gente comete, mas nega. E há também os que a confessam com orgulho. O deputado estadual Douglas Garcia, do PTB paulista, condenado a indenizar uma pessoa que incluiu no dossiê de militantes antifascistas (como se combater o fascismo fosse crime), excedeu-se: disse que o dossiê – 56 páginas, com dados pessoais, incluindo fotografias, de aproximadamente mil pessoas – foi entregue à Embaixada dos Estados Unidos pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente Jair Bolsonaro.

Não que os Estados Unidos, ou China, ou Rússia, todos exímios na espionagem, precisem do auxílio do rapaz que disse ter sido fritador de hambúrguer numa lanchonete que não vendia hambúrgueres. Mas está dentro da lei entregar dossiês sobre cidadãos brasileiros a uma potência estrangeira? Os EUA são aliados do Brasil, Bolsonaro se considera meio que um genérico do presidente Trump, mas cada país tem interesses próprios – por exemplo, Trump ameaça taxar produtos brasileiros a menos que concordemos em importar etanol americano sem taxas. O Brasil, grande produtor de álcool, precisa comprar etanol americano tanto quanto precisa de açúcar de beterraba europeu ou de importar jabuticabas. Mas Trump quer votos de agricultores americanos e o Brasil é pressionado a pagar por eles.

Garcia diz que agiu em conjunto com o filho 03. Eduardo Bolsonaro não disse nada. Seu pai, Jair Bolsonaro, está quieto. “Brasil acima de tudo”?

 Quem fica parado é Posto


No serpentário do Congresso, o superministro Paulo Guedes, o Imposto Ipiranga do presidente Bolsonaro, é conhecido como “semana que vem”. Das três reformas que considerava essenciais para que o país se recuperasse e voltasse a crescer, uma foi aprovada – mas não sua versão, que ele não conseguiu emplacar, e sim a do Congresso, puxada por Rodrigo Maia. A tributária levou um ano e meio, foi enviada ao Congresso e até agora nenhum especialista de fora do Governo a considerou à altura da reforma que já está lá em análise, coordenada pelo economista Bernard Appy e apresentada pelo deputado Baleia Rossi, do PMDB paulista. A administrativa levou um ano para ficar pronta e o presidente Bolsonaro botou-a na gaveta.

Mas, por fim, tomou uma decisão: só vai enviá-la no ano que vem, talvez em fevereiro. A estratégia é esperar a eleição para a Presidência da Câmara e do Senado.

 A face oculta


Por que esperar a eleição? Ora, caro leitor, não faça perguntas difíceis.

 O jocoso e o ridículo


Orlando Morando, prefeito de São Bernardo, SP, um ex-socialista que virou liberal e hoje é tucano, assumiu seu lugar no time que não gosta de imprensa livre: resolveu interpelar um talentoso chargista, Luiz Carlos Fernandes, do Diário do Grande ABC, por charge publicada em 19 de julho. A charge trata de um assunto incômodo para Sua Excelência, uma empresa de sua propriedade denunciada à Polícia Federal por comprar imóveis beeem baratinhos, abaixo até do valor venal. Mas Morando não fala nisso: acusa o chargista de tê-lo desenhado “de maneira jocosa”. Curioso: Sua Excelência prefere charges “macabras”, “soturnas”, “mal-humoradas”? Ora, ou charge é engraçada ou não é nada. No pedido de explicações a Fernandes, Morando ameaça processá-lo por calúnia e difamação. E não se limitou a ele: acionou o editor de Política do jornal, Raphael Rocha, autor da matéria (nada como culpar o mensageiro quando a mensagem é ruim) e ainda citou o diretor de Redação, Evaldo Novelini, e o editor-chefe do jornal, Wilson Moço.

Resolvendo a questão


Este colunista sugere que o prefeito se dedique a cuidar melhor da cidade.

 Mais perseguição


O ataque à imprensa não se limita ao prefeito de São Bernardo: o famoso grupo JBS, de Joesley Batista, pressiona o ótimo repórter Cláudio Tognolli, que escreveu três livros sobre a empresa: “Nome aos bois”, “Traidores da Pátria” e “A CPI do BNDES” – no qual, além da JBS, ou JF, é citado também um grupo nacional que enquanto dava lucro era privado, e foi virando estatal à medida que os lucros caíam, até que, ao fechar, tinha o BNDES como sócio principal. O delegado Ronaldo Augusto Comar Marão Sayeg, da Divisão Antissequestro da Polícia Civil de São Paulo, pediu a prisão preventiva de Tognolli. O juiz Xisto Albarelli Rangel Neto rejeitou o pedido.

 Bolsonaro atende os trans


Um acordo entre a Advocacia Geral da União, a Secretaria do Trabalho e Previdência do Ministério da Economia e a Defensoria Pública da União vai permitir que travestis e transexuais incluam seu nome social na Carteira de Trabalho. O acordo foi celebrado em Roraima, mas valerá para todo o país, já que a Carteira de Trabalho digital é um sistema único, nacional. A partir de agora, a Secretaria do Trabalho e Previdência tem seis meses para tomar todas as providências necessárias para implementar a alteração.

Carlos Brickmann é Escritor, Jornalista e Consultor, diretor da Brickmann & Associados Comunicação
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Leia> O Brasil Sobre Rodas

domingo, 26 de julho de 2020

CHUMBO GORDO.
Por Carlos Brickmann*

COMO MATARAM NOSSO CACAU


Por volta de 1979, o Brasil estava entre os maiores produtores de cacau do mundo, com exportações de algo como US$ 1 bilhão. Em 89, uma grande praga de vassoura de bruxa devastou os cacauais. Desfez fortunas, destruiu o poder político dos cacauicultores, liquidou empregos. A Bahia, tradicionalmente PFL, caiu nas mãos do PT. A destruição do cacau foi um ato deliberado. Sempre se desconfiou do PT, mas aqui temos o comprovante:

Luiz Henrique Tenório, à época militante do PT, confessa ter colhido mudas da vassoura de bruxa em Rondônia para destruir as plantações baianas. Hoje, arrependido, diz que não imaginava tamanha devastação, tamanha perda de emprego: achava que haveria um susto e, em pouco tempo, órgãos técnicos ligados ao PT resolveriam o problema e sairiam como heróis. O Brasil levou pouco mais de 30 anos para dar um jeito na vassoura de bruxa. Luiz Henrique Tenório demorou mas confessou. Disse estar pronto para assumir a destruição ambiental. Mas quer que os demais envolvidos também paguem pelo crime. "Tinha de confessar. Não o fiz antes de tantas ameaças que sofri. E a terra onde nasci, onde minha família vive, teve a economia destruída".

A situação já melhorou: com cacau orgânico, plantado sob grandes árvores da Mata Atlântica, a produção se ampliou, e o cacau é de qualidade alta. A questão agora é tomar conta do cacau: já se sabe que há criminosos prontos a destruir grandes riquezas agrícolas do país por motivos partidários.

Eles são os bons

Nove milhões e meio de trabalhadores da iniciativa privada tiveram cortes pesados nos salários. Mas quem ganha mais manteve os salários em dia: Paulo Guedes, o feroz cortador de salários de trabalhadores, vetou qualquer possibilidade de reduzir vencimento de servidores públicos. E o Supremo vetou qualquer redução de verbas, tanto para o Legislativo quanto para o Judiciário, durante a pandemia. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pensou em reduzir as verbas, mas Paulo Guedes proibiu os cortes.

Mordoca da boa

A verba mensal de gabinete, de R$ 111 mil, e o cotão, que vai de R$ 30,7 mil a R$ 45,6 mil, continuam em pleno vigor.

Frase definitiva

A humanidade só é viável se conseguirmos manter a proporção dos idiotas militantes abaixo dos 20%.

Corrigindo

No domingo passado, esta coluna cometeu um erro: disse que, quando Fernando Henrique deixou o cargo para disputar a Presidência, quem liderou a implantação do Plano Real foi Ciro Gomes. Na verdade, foi o embaixador Rúbens Ricúpero. Ciro Gomes assumiu alguns meses mais tarde. Ricúpero não encheu a Fazenda de diplomatas: levou três ou quatro para trabalhar com ele, todos profissionais de alta qualidade técnica.

Me prende! Me prende!

Roberto Jefferson está em plena campanha para ser processado por algum ministro do STF. Dá entrevistas dizendo que são todos comunistas, que os dois que vieram da Justiça do trabalho são juízes meia-boca, que nove dos ministros têm o rabo preso e dois têm o rabo solto. Quer se colocar como vítima – o primeiro processo que sofrerá a não ser movido pela Lava Jato.

O horror aos comunistas

Roberto Jefferson, que nunca tinha sido disso, agora cismou que os ministros do Supremo são incompetentes, homossexuais, comunistas e sabe-se mais o que. Imaginemos, como diz Roberto Jefferson, que alguns sejam homossexuais. E daí? Isso anula sua capacidade de julgamento? Que tem a ver a eventual homossexualidade de algum ministro com sua capacidade de julgamento? Digamos que ser apanhado roubando seja algo mais grave. E o partido de Jefferson, o PTB, já circulou muito nos meios comunistas nos tempos de Brizola. Agora resolveram se afastar dos comunistas?

Em busca de proteção

O presidente Bolsonaro resolveu que, embora tenha contraído a Covid, deve circular pelas ruas como se infectado não estivesse.

E está: passa para outras pessoas vírus à vontade. E infecta pessoas que confiam em sua presença. Não usa máscara, e seus partidários pegam o que for preciso.
Quando se diz que para ele tanto faz a saúde dos outros, ainda fica bravo.

A hora da vacina

A Covid ganhou nova força – e, ao mesmo tempo, há muita gente na rua, se amontoando. É torcer para que as vacinas ganhem força e sejam colocadas à disposição do povo. Sejam chinesas, inglesas, americanas, serão vacinas que nos ajudarão a sobreviver.

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domingo, 21 de junho de 2020

CHUMBO GORDO.
Por Carlos Brickmann*

OS NOTÁVEIS JÁ COMANDAM


Há um importante grupo no Governo Federal (chamado genericamente de área militar, embora nem todos os militares que estão no Governo pertençam ao grupo, embora nem todos no grupo sejam militares) que se preocupa com o desgaste político do presidente. Quando até Olavo de Carvalho ameaça derrubar o Governo, quando a prisão de um tal Queiroz, confesso adepto de práticas pouco ortodoxas de arrecadação ameaça atingir a própria família do presidente, o grupo quer reverter a situação com um Ministério de Notáveis.

O nome foi criado no Governo Fernando Collor, com o mesmo objetivo, e houve a ocupação de ministérios por pessoas notáveis. Não adiantou: Collor sofreu impeachment (e mais tarde acusou os notáveis de traição).

Acontece que o presidente Bolsonaro já formou um Governo de notáveis. O ministro do Meio Ambiente assistiu a uma bela afrouxada na fiscalização ambiental, os dois ministros da Educação que se sucederam foram notáveis pela despreocupação com problemas educacionais, o ministro da Saúde não tem experiência no assunto – mas tudo bem, ele aprende, basta esperar algum tempo e assistir a mais alguns milhares de mortes na pandemia – e até agora só se cercou de militares, sem se contaminar com a presença de especialistas em saúde pública. E há a ministra Damares – querem figura mais notável?

O chanceler pediu o apoio dos EUA ao candidato brasileiro ao BID, para derrotar a Argentina. Trump não deu apoio e ainda lançou candidato próprio. O Itamaraty agradeceu. Perdoa-me por me traíres, diria Nelson Rodrigues.

Posto notável


Há Paulo Guedes, o Posto Ipiranga. Das três reformas que achava essenciais e urgentes, uma, a da Previdência, foi aprovada graças a Rodrigo Maia, e era diferente da que propôs. A administrativa está passando numa boa – uma boa temporada nas gavetas de Bolsonaro, onde estão há um ano. A tributária será proposta algum dia.

O tempo passa


A propósito, não botemos a culpa da pandemia: de janeiro de 2019 a março de 2020, houve tempo. Mas Bolsonaro preferiu, entre outras coisas, analisar esteticamente a esposa do presidente francês. E o Posto Ipiranga se calou, posto em sossego.

As notáveis consequências


As ações do notável Ministério provocam problemas também notáveis: um dos mais graves é dificultar o acordo Mercosul-União Europeia e colocar em risco o comércio já existente entre europeus e o Brasil. Menos pelas queimadas na Amazônia e mais pelas declarações de que isso não tinha importância, o Brasil sofreu bloqueio de recursos europeus destinados à preservação. Some-se a isso frases de Bolsonaro sobre reservas indígenas e o afrouxamento da fiscalização ao desmate ilegal (antes, equipamentos usados em desmatamento ilegal eram incendiados. Agora, são devolvidos), e há restrições de parlamentos de países europeus ao acordo. A Europa se beneficiaria com ele – estima-se que suas empresas poupariam € 4 bilhões ao ano.

Mas é fácil boicotar o acordo: a imagem internacional de Bolsonaro é ruim (basta ver como é tratado pela imprensa europeia), e o lobby dos agricultores europeus contra o agronegócio brasileiro, com o qual não conseguem competir, usa isso contra o Brasil. Tirando a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ninguém dialoga com os clientes.

Duvidar é preciso


Fabricio Queiroz, amigo de Bolsonaro, assessor de seu filho Flávio, foi preso na casa de Atibaia de um advogado de Flávio. Não estava escondido, mas hospedado: não havia nenhuma ação legal contra ele. Mas o advogado, em várias entrevistas, disse não saber onde ele estava. Aliás, se é do Rio e se tratava de câncer em São Paulo (onde Veja o entrevistou, no Hospital Albert Einstein), por que foi morar em Atibaia, a 60 km de distância? O presidente Bolsonaro disse que é porque a casa do advogado ficava perto do hospital onde se tratava. Enganou-se: o Hospital Nova Atibaia, onde ele disse fazer o tratamento, negou a informação. E o Einstein fica longe: dá uns 80 km, com o trânsito paulistano no caminho.

Outra dúvida: se Bolsonaro e Flávio não tinham contato com Queiroz, como o presidente sabia do hospital de Atibaia? E por que surgiriam a respeito dele tantas invenções? Questão de hábito?

O outro também


Boa parte da argumentação bolsonarista nas redes sociais se refere ao caso Queiroz como perseguição política. Havia 20 gabinetes parlamentares que, segundo o Coaf, tinham movimentação financeira atípica. Flávio Bolsonaro era o 19º da lista, com R$ 1,3 milhão (Queiroz era o operador). A lista era encabeçada pelo gabinete de um deputado petista, André Ceciliano, com 49,3 milhões. É natural que um assessor do filho do presidente eleito fosse mais citado que os demais. Mas o justo é que contra todos os envolvidos na lista haja um inquérito semelhante. Justiça é Justiça, sem perseguir ninguém.


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domingo, 24 de maio de 2020

CHUMBO GORDO.
Por Carlos Brickmann*

UM CALOR DE GELAR OS OSSOS


Prepare-se: a temperatura política deve subir a tal ponto nesta fria semana de outono que, mais que o clima, fará congelar as expectativas de que a crise termine pacificamente. Quem leu a transcrição do vídeo, preparada pela Advocacia Geral da União, pode imaginar o quanto é grotesco – e agora pode ser exibido, com exceção das menções a outros países. A linguagem é de cavalariça. As ideias não são ruins – nem boas, não existem. Existe xingação, inexiste qualquer pensamento sobre nosso grande inimigo, o coronavírus. E, fora da reunião, as ideias foram colocar um general na Saúde para hidroxicloroquinar o país. As associações médicas rejeitam o uso maciço do medicamento, pelos riscos de vida que oferece.

Só? Não: o PT e os partidos que sempre o apoiaram pediram ao STF o exame do celular do presidente. Não deve dar em nada: o ministro Celso de Mello enviou o pedido ao procurador-geral Augusto Aras, que dificilmente o aceitará. Mas o general Augusto Heleno já se manifestou, e disse, em outras palavras, que presidente é presidente, e um pedido "inconcebível" como este "poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional". Pois é: Bill Clinton precisou depor sobre um caso ruim e os EUA ficaram estáveis. O presidente, lá, não está acima da Constituição nem das ordens judiciais.

A Paraná Pesquisas informa que, para 35% do povo, Bolsonaro é culpado pelas mais de 20 mil mortes por Covid 19. A China é culpada para 4%.


E daí?


Bolsonaro fez piada: "Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda toma tubaína". Lula também foi mal: "Ainda bem que a Natureza criou esse monstro". Queria dizer que é preciso que o Estado seja forte para agir.

Nos dois extremos da política, ninguém tinha algo melhor para dizer?

Os homens do presidente 1


O general da Saúde se cercou de militares. Um é o major Angelo Martins Denicoli, novo diretor do Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS, muito ativo em redes sociais. Saúde? Defende a cloroquina, e só.

1 – Em 8 de abril, disse que a FDA (Federal Drugs Administration), dos Estados Unidos, tinha aprovado a hidroxicloroquina, e que a Novartis, uma das maiores indústrias farmacêuticas do mundo, iria doar 130 milhões de doses. Tudo falso: o site da Novartis informa que as pesquisas da empresa são favoráveis à hidroxicloroquina e que, com base nelas, pediria à FDA e à Comissão Europeia de Medicamentos que a aprovassem. Nesse caso, iria doar 120 milhões de doses. A notícia foi copiada de um site bolsonarista (que publicou o número errado). Era fácil apurar a verdade: bastaria procurar em www.novartis.com. Informou o Ministério da Saúde que o major não sabia que a notícia era falsa e que, quando soube, imediatamente a apagou. Não era bem assim: até 19 de maio, quando a Folha o procurou, estava no ar.

2 – Disse Denicoli, sobre o Supremo, que Ricardo Lewandowski é amigo de traficantes, Celso de Mello apoia pedófilos, Rosa Weber é a garantia dos estupradores, Marco Aurélio dos assassinos e que corrupto só precisa ligar para Gilmar Mendes. Havia fotos de cada ministro, com nome e legenda com a informação falsa: "Votou a favor de corruptos (ou assassinos, ou pedófilos, ou estupradores) nunca serem presos". Denicoli cuida hoje de Saúde.

Os homens do presidente 2


Responda depressa: por que, entre os integrantes da equipe de apoio do general que está na Saúde, foi contratado um advogado criminalista?

Lembrando o tempo petista


Um caso explosivo: o bilionário Beny Steinmetz, empresário do setor de diamantes, briga nos EUA para não pagar à Vale a multa de US$ 2 bilhões a que foi condenado pela Corte Arbitral Internacional de Londres. A Vale diz ter sido enganada por Steinmetz, seu sócio no projeto da mina de Simandou, na Guiné, uma das maiores do mundo. Steinmetz teria informado à Vale que a concessão da mina tinha sido obtida legalmente. Steinmetz não é uma pessoa comum: já foi condenado por corrupção pela Justiça de Israel, Suíça, EUA e Guiné. E continua lutando: seus detetives gravaram conversas com diretores da Vale da época do presidente Lula, e ele as apresentou no dia 19 à Justiça de Nova York. Um áudio é atribuído ao ex-diretor de Minério de Ferro da Vale, José Carlos Martins, que diz que o Conselho de Administração da empresa tinha conhecimento de tudo, mas concordou em correr o risco pela importância estratégica da mina. Na época, havia também o interesse do Governo Lula de estreitar laços com a África (nos processos do Mensalão, revela-se que o interesse era também dos governantes).

Dinheiro não tem cheiro


Atribui-se a Martins a recomendação de fechar o acordo "de nariz fechado pois cheira mal, para não deixar o negócio com os competidores". Roger Agnelli, presidente da Vale, teria dito "tem algo errado". Mas, no final, o Conselho decidiu: "OK, vamos nessa. Não digam mais nada. Vamos fechar".


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domingo, 10 de maio de 2020

CHUMBO GORDO
Por Carlos Brickmann*

O TOQUE DO MITO

Midas, rei da Frígia, nação situada onde hoje é a Anatólia, na Turquia, foi um grande mito dos tempos antigos. Tinha um filho famoso, ciumento do pai, de quem se considerava protetor; seu apelido era Ceifador de Homens, por decapitar aqueles de quem desconfiava (talvez Ceifador de Homens tenha ainda outro significado, mas como saber quase três mil anos depois?)

Midas, o Mito, pediu aos deuses o dom de transformar em ouro tudo o que tocasse. Dizem que os deuses, quando querem destruir alguém, atendem a seus pedidos. Midas ficou feliz: transformou uma árvore em ouro, tocou a espada e a tornou de ouro. De volta ao castelo, o primeiro problema: abraçou sua filha e ela se transformou em ouro. Toda a comida virou ouro e ele não conseguia alimentar-se. Os vinhos que apreciava ouro se tornaram. Sozinho, com fome e com sede, apelou novamente aos deuses, que pelo jeito jamais estavam muito longe dele; e a bênção foi retirada para que ele sobrevivesse.

Mas Mito é Mito: Pã, o deus do pé de cabra, desafiou outro deus, Apolo, para um duelo de flauta. O deus Tmolo foi o juiz e deu a vitória a Apolo. Midas se irritou e desafiou o supremo magistrado. Apolo, indignado, fez com que as orelhas de Midas se transformassem em orelhas de burro. Midas passou o resto da vida usando turbante, ocultando de seus súditos as orelhas de burro que ganhara. Estas, não houve milícia de deuses que as removesse.

Esta coluna não é só política. Trata também de História. Que se repete.

O Mito e os mitos


O Mito de Midas é lembrado até hoje. Britney Spears, no sucesso Radar, diz que procura "um homem com o toque de Midas". Em Act my Age, Katty Perry diz: "Dizem que tenho de perder meu toque de Midas". E o contrário também vale: cita-se muito o Rei Sadim (Midas ao contrário), que tudo o que toca vira lixo. Botou a mão, estraga. Nem a Namoradinha do Brasil escapou.

Regina, volte!


Este colunista jamais viu uma novela na vida (nem um capítulo inteiro de alguma). Sempre tive, porém, muita simpatia por Regina Duarte, reforçada em poucos contatos pessoais. Mas a entrevista à CNN, em que teve chilique ao receber mensagem amigável de Maitê Proença, em que menosprezou a tortura ("Sempre houve tortura". "Não quero arrastar um cemitério de mortes nas minhas costas. Sou leve, sabe? Tô viva!"), e usou estilo bolsonariano ao falar dos assassínios da ditadura ("Cara, desculpa, eu vou falar uma coisa assim: na Humanidade, não para de morrer. Se você falar 'vida', do lado tem 'morte'. Por que as pessoas ficam 'oh, oh, oh!'? Por que?!") não é digna da Regina Duarte que admiramos. Por que mudou, mudou por que?

O poder, mesmo sem mandar


Regina é hostilizada por uma ala do governo e foi desautorizada pelo próprio Bolsonaro, que manteve na sua Secretaria pessoas que ela quis demitir e não abriu caminho para seu diálogo com artistas. Entre a Secretaria e a imagem, escolheu perder a imagem. E vai perder a Secretaria.

Confessar...


Por que o presidente Bolsonaro resiste tanto em entregar ao Supremo o vídeo da reunião em que, segundo informação de Sérgio Moro, ele teria dito que iria intervir na Polícia Federal? Bolsonaro já disse que Moro mentiu. Não há melhor oportunidade de provar que o adversário é mentiroso.

Por que Bolsonaro resiste tanto a mostrar seus exames de coronavirus?

...jamais


Tancredo Neves, um sábio da política, dizia que um segredo só pode ser guardado se ninguém mais o conhecer. Se dois souberem, vai-se espalhar. E uma reunião de Ministério, fora o pessoal que grava o vídeo, fora os seguranças, tem bem mais que duas pessoas. Nunca falta um fofoqueiro.

Dizem que o problema não é exatamente o que Bolsonaro disse a Moro, nem o vocabulário que utilizou. Mas parece que se queixou da China, usando o mesmo vocabulário. E atribui-se a Abraham Weintraub a declaração mais perigosa: o ministro da Educação teria se referido aos onze ministros do STF com palavrões. E é precisamente um desses ministros que vai ver o vídeo.

Quanto aos exames de coronavírus, por que não? Questão de princípios?

Os campeões de audiência


Os internautas do mundo inteiro, menos os do Brasil, estão hoje focados na pandemia. O tempo médio gasto por assunto cresceu 40% (notícias locais), governo e política (37%), tecnologia (40%), estilo de vida (44%), entretenimento (15%), jogos (18%), negócios (33%) – em tudo se envolve o coronavírus. No Brasil, política e governo (64%) foram os campeões no aumento de tempo consumido pelos internautas. Tecnologia bateu em 121%, negócios ficaram em 46%. Comida e bebida cresceram 54% - e o Brasil foi um dos poucos países que ampliaram o tempo gasto neste item. As notícias locais cresceram 63%. Pesquisa: Taboola, multinacional de comunicação de conteúdo, com acesso a nove bilhões de page views no mundo.

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quarta-feira, 6 de maio de 2020

CHUMBO GORDO.
por Carlos Brickmann*

ACREDITE SE PUDER


A possibilidade de impeachment preocupa Bolsonaro – tanto que negocia o apoio do Centrão (que ele chamava de "velha política", lembra?), o que inclui Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto, ambos já condenados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ambos já tendo cumprido pena de prisão. Bolsonaro não precisaria se preocupar: o caro leitor pode acreditar que Lula também participa de sua sustentação política. Já se disse contra o impeachment. Grandes advogados que sempre estiveram ao lado de Lula (Celso Antônio Bandeira de Mello, Marco Aurélio Carvalho, Lenio Streck) pedem ao Supremo que processe Sérgio Moro por prevaricação, pois deveria ter denunciado o presidente quando achou que tentava manobras ilegais. Não, não pediram que Bolsonaro seja processado por ter tentado manobras ilegais, das quais o acusou Moro só agora. Rui Falcão, ex-presidente nacional do PT, pediu ao Supremo que ordene à Procuradoria Geral que investigue se Moro cometeu outros crimes. A propósito, há fotos de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, exultando ao saber que os petistas denunciaram Moro.

Parece estranho, mas se explica: 1) Bolsonaro quer o voto religioso, e o pessoal do Centrão é terrivelmente religioso, sempre em busca de um terço; 2) aqui é Brasil, e Brasil acima de tudo. A aliança entre Bolsonaro & Filhos, Lula, Centrão lembra a Oração de São Francisco, que louva a paz entre os inimigos: "É dando que se recebe. É perdoando que se é perdoado".

Blowing in the wind


Sergio Moro conseguiu uma façanha notável em seu depoimento de oito horas à Justiça: conseguiu repetir, sem um só acréscimo, aquilo que estava na sua carta de demissão, bem mais curta. Não há nada de novo, apenas mais do mesmo. Alguém esperava uma bomba? Há pouco menos de três mil anos, o poeta romano Horácio criou uma frase que, traduzida, é "a montanha pariu um rato". Este colunista é do Interior e lá usamos uma frase mais simples: "muito vento, pouca chuva".

Na verdade, a frase não é bem essa: o vento é vento, embora malcheiroso; e a chuva é de algo que não fica bem escrever.

Sangue latino


Horácio é hoje pouco conhecido no Brasil, já que até as aulas de latim não mais existem. Mas boa parte de nossos líderes segue até hoje suas lições:

"Ganha dinheiro honestamente, se puderes. Se não, como puderes".

"Vaiam-me na rua, mas em casa me aplaudo ao contemplar com afeto o meu dinheiro".

Medindo as perdas 1


A demissão de Sergio Moro custou sete pontos percentuais ao Governo Federal. A pesquisa é da XP, e seu objetivo é dar a operadores da empresa e a seus clientes uma avaliação do clima político que ajude a orientar seus investimentos. Ou seja, há dinheiro em jogo na precisão dos números. Após a demissão de Moro, a avaliação negativa do Governo Bolsonaro subiu de 42 para 49% - a maior até hoje. A avaliação positiva caiu de 31 para 27%, a menor até hoje. A margem de erro é de 3,2%.

Medindo as perdas 2


Em abril, o Brasil perdeu pouco mais de R$ 5 bilhões do dinheiro de investidores estrangeiros: trouxeram R$ 260 bilhões e retiraram R$ 265 bilhões da Bolsa. Coronavírus? Em parte, sim. Mas, de janeiro para cá, antes da pandemia, o balanço já era negativo. No total, saíram quase R$ 70 bilhões estrangeiros do mercado brasileiro de ações.

Hipótese


Todas essas crises repercutem na Bolsa. O cai-não-cai de Mandetta, a saída de Moro, as manifestações em que há pedidos de fechamento do Congresso e do Supremo, os pedidos de intervenção militar... não estaria na hora de autoridades competentes analisarem se não há gente saindo da Bolsa em determinados momentos, logo antes de crises causadas por problemas bobos, e entrando de novo quando as ações caem?

Entrevista sem perguntas


Novidade brasileira: o presidente Bolsonaro disse que não responderia a perguntas numa entrevista e só falaria sobre "esta patifaria da Folha de S.Paulo". A "patifaria" era a manchete, Novo diretor da PF assume e acata pedido de Bolsonaro – no caso, ter afastado o superintendente do Rio.

Uma repórter perguntou-lhe se ele havia pedido o afastamento. Aí vem a novidade: "Cala a boca! Eu não te perguntei nada!" Até a véspera quem perguntava era o repórter. Mas Bolsonaro estava irritado. Talvez porque as Forças Armadas tenham deixado claro, publicamente, que rejeitavam qualquer golpe – portanto, a história de que estavam a seu lado só vale enquanto não tentar ultrapassar esse limite.

Feliz, por que não?


Bolsonaro deveria estar feliz: tem a seu lado os bolsonaristas, o Centrão, Lula, todos contra Moro e o impeachment. É o triunfo da Nova Política.

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domingo, 5 de novembro de 2017

CHUMBO GORDO.
Por Carlos Brickmann*

TRABALHAR DÁ TRABALHO

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, disse o que todos que não estão implicados gostariam de dizer: o crime não teria tomado as proporções que tomou, no Rio, sem muita cumplicidade oficial e policial. Jardim sabe de coisas que muita gente deve saber, mas: a) tem informações do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, ou seja, do general Sérgio Etchegoyen; 2) como ministro, tem obrigação legal de agir. Portanto...

Portanto, não se sabe. O caro leitor deve lembrar-se de que vive sob o auriverde pendão de nossa terra. O presidente Temer já pediu ao ministro que aja com discrição, o máximo de discrição (se não agir, melhor ainda). Jardim é velho amigo, Temer espera dele que compreenda seus problemas.

O fato é que PMDB e PT tentam rearticular a velha aliança, só rompida pela inabilidade da presidente Dilma. Lula já mandou um recado: é hora de parar com o “fora Temer”. O PMDB de Temer (e de Sérgio Cabral, e do governador Pezão) enfrenta as mesmas dificuldades do PT do Mensalão, do Petrolão e do Quadrilhão; ambos ficariam felizes com medidas legislativas como a proibição da delação de réus presos, condução coercitiva só em caso de recusa ao depoimento e fim de prisões temporárias que, pela longa duração, funcionam sem julgamento como antecipação de pena.

Juntos, PT e PMDB, calcula a repórter Lydia Medeiros, de O Globo, ficam com ¼ do dinheiro de campanha. Esta linguagem ambos entendem.

O trabalho eleitoral

É cada vez menos lógico, portanto, imaginar a eleição polarizada entre Lula e Bolsonaro. Lula dificilmente será candidato, Bolsonaro dificilmente terá fôlego para ir muito longe. Há outros nomes possíveis, na perspectiva de uma chapa PT/PMDB: Luiz Felipe d’Ávila, por exemplo; ou, no caso de a economia crescer bem, Henrique Meirelles. Meirelles tem boa entrada na área empresarial, foi presidente do Banco Central com Lula, ministro da Fazenda com Temer (e Lula cansou de indicá-lo a Dilma, que o rejeitou). D’Ávila, professor respeitado, é genro do empresário Abílio Diniz (que há tempos mantém boas relações com o PT). Do outro lado, o nome provável é o do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Caso algo semelhante ocorra de fato, a campanha será muito mais tranquila do que se espera hoje.

O trabalho cansa

Todas as articulações estão ocorrendo nos níveis mais altos de cada sigla e provavelmente provocarão algumas exclamações de horror se, e quando, se confirmarem. E estão ocorrendo longe do Legislativo – até porque quem deveria trabalhar contra o acordo ou a seu favor optou pelo repouso. Não, nada a ver com as férias disfarçadas de diplomacia parlamentar oferecidas, com dinheiro público, às Excelências que viajaram à Europa e ao Oriente Médio; é coisa mais bem distribuída. A Câmara prepara um recesso branco de dez dias – agora, quando pouco mais de um mês nos separa do recesso oficial do fim do ano. Funciona assim: há sessões marcadas para a próxima semana, de segunda a sexta. Mas não é para valer: é só para que o número de sessões atinja o mínimo e seja possível folgar de 13 a 21, sem que haja qualquer tipo de desconto. O Senado deve seguir o exemplo da folga.

O trabalho pacífico

Um acerto entre PT e PMDB deverá provocar a queda de muita gente do PSDB instalada no Governo. O ministro Antônio Imbassahy, bom político, por isso mesmo caiu em desgraça junto à bancada franciscana (a que segue a oração de São Francisco, “é dando que se recebe”). Aloysio Nunes e Bruno Araújo não despertam grande emoção no partido; Luislinda Valois, no Governo, mais retira prestígio do PSDB do que lhe acrescenta. Mas o desembarque do PSDB deve ser ameno, com garantia de apoio às reformas econômicas, sem brigas – até porque, embora em menor escala, os tucanos enfrentem os mesmos problemas que PT e PMDB tentam resolver.

O trabalho escravo

Livrar-se de Luislinda Valois, a inacreditável ministra que escreveu 207 páginas para dizer que ganhar pouco mais de R$ 33 mil por mês, como ela, se assemelha a trabalho escravo, é tarefa urgente para o Governo e o PSDB. Justificar-se alegando que é preciso vestir-se com dignidade, alimentar-se e usar maquiagem já é escárnio. Se a ministra acha baixos seus vencimentos, ninguém a obriga a ficar no Governo: pode ir embora. E será aplaudida.


O trabalho necessário

Mesmo que o ministro Torquato Jardim se aquiete, atendendo aos apelos de Temer, a acusação ao Governo e à PM fluminenses deve gerar efeitos. O secretário da Justiça e da Segurança do Mato Grosso do Sul cobra também o Governo Federal, pelo frágil combate ao tráfico nas fronteiras. “O crime no Rio é diretamente ligado ao tráfico de drogas”, diz, em ótima entrevista ao repórter Paulo Renato Coelho Netto, do UOL. E que faz a União para combater o narcotráfico? O Ministério da Justiça não respondeu à pergunta.








Carlos Brickmann - carlos@brickmann.com.br - é Escritor, Jornalista e Consultor, diretor da Brickmann & Associados Comunicação - www.brickmann.com.br
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domingo, 24 de setembro de 2017

CHUMBO GORDO.
Por Carlos Brickmann*

RIO SEM LEI

Bandidos descem a pé da favela onde estão aquartelados, no Rio, carregando nas mãos, sem disfarce, armas de grande potência. Estão indo para invadir a favela ao lado, onde pretendem estabelecer nova base de fornecimento de drogas. Não que a favela que pretendem conquistar não tenha seus próprios traficantes armados, que fornecem todos os tipos de droga a quem quer que tenha dinheiro para comprá-la; o que os invasores querem é se apropriar do tráfico dos vizinhos, embolsando novos lucros.

Na luta pela conquista de novas áreas, as balas às vezes atingem seus alvos, às vezes matam seus inimigos. Mas boa parte das balas atinge casas de consumidores, ou de cidadãos que não têm nada a ver com o tráfico mas se transformam em vítimas. Algumas balas matam e ferem crianças, atingem mulheres grávidas, fazem vítimas que tiveram a má sorte de estar no lugar errado, na hora errada.

Os bandidos não se preocupam com isso: o problema é das vítimas, da família das vítimas, do governo que tem de atendê-las e isso num momento em que o Rio está totalmente sem verbas.

Há Polícia nas ruas, há Forças Armadas nas ruas. Os bandidos os ignoram. Sabem que são mais fortes; que dirigentes das Forças Armadas e da Polícia brigam entre si para ver quem manda mais. Parecem não perceber que quem manda mais são os bandidos. A propósito, a favela que tenta invadir as outras é a Rocinha. Bem em frente ao belo Hotel Nacional.

As ações oficiais

Mas ninguém imagine que o Governo (federal, estadual, municipal, seja qual for) esteja inerte. Não! Os governos mudaram o nome das “favelas” para “comunidades”, politicamente mais correto. Claro que “comunidade” não é a mesma coisa que “favela”: qualquer condomínio fechado, por mais chique que seja, é também uma comunidade. Mas vá lá: daqui a pouco poderão dizer que o número de favelas se reduziu, já que várias já favelas não são, mas comunidades. Os governos investiram também em unidades de polícia pacificadora, UPP; mas não é só de polícia que a favela precisa. Cadê os postos de saúde, as escolas, as quadras esportivas? Se a presença do Estado nas favelas se limitar à Polícia, à pura e simples repressão ao crime, não há como impedir os bandidos de comandar os homens de bem.

Dúvida pertinente

Há alguns anos, o repórter Gilberto Dimenstein perguntou que é que faríamos se a Argentina tomasse um pedaço do Brasil. Haveria protestos, conclamações à guerra, tudo o que fosse necessário para reaver o território ocupado. Perguntava: os bandidos tomaram uma parte de nosso país, na qual não permitem nem a entrada da Polícia. E completava: em que é que os traficantes, que ninguém incomoda, são melhores que os argentinos?

Mar mineiro

O deputado Jair Bolsonaro disse que, se for eleito presidente da República, o Brasil vai explorar suas riquezas – “quem sabe até abrindo uma saída para o mar para Minas Gerais”. Para que? Minas exporta minério de ferro em grandes quantidades, já exportou ouro até provocar inflação em Portugal, exporta manganês. Não tem saída própria para o mar, mas utiliza os portos de outros Estados, sem precisar cavar um rio salgado para chamar de seu. Bolsonaro acha que pode ganhar. Pretende levar os militares de volta ao poder, com eleições. Mas, se tentar construir um mar interior, não haverá no país quem não fique de olho nas concorrências públicas.

Os outros

João Dória e Geraldo Alckmin, um dos dois sai pelo PSDB. Lula não deve sair, mas não se sabe quem é o poste que escolherá para substituí-lo. Álvaro Dias é candidato pelo Podemos, novo nome do PTN. Joaquim Barbosa é disputado por vários partidos, já que, imagina-se, tem bom potencial eleitoral. Henrique Meirelles é do PSD; se sua política econômica continuar dando certo, pode ser o candidato do Governo (ele ou Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES). Ciro Gomes gostaria de ser o candidato de Lula, mas é difícil. Carlos Ayres Britto, ex-presidente do Supremo, não tem partido nem voto. Mas traria respeitabilidade à eleição.

As chances?

Ainda não dá para saber nem quem será candidato, quanto mais as possibilidades de vitória de cada um: falta um ano para as eleições.

Atrapalhado

Há políticos capazes de atravessar a rua para escorregar numa casca de banana na calçada oposta. Michel Temer, por exemplo, resolveu colocar em estudos o fim do horário de verão. Num país que paga contas de energia mais altas porque é preciso ligar as termelétricas, Temer acha razoável desperdiçar a economia de eletricidade trazida pelo horário de verão. Vale pelas piadas: por exemplo, Temer não quer que o por do Sol ocorra uma hora mais tarde porque, com sua aparência de vampiro, tem de evitar o Sol.








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