MINHA
CASA DA JUSTIÇA
Durante as visitas que fiz a quase todo
o Estado de São Paulo, enquanto na Corregedoria Geral da Justiça, verifiquei
que há deficiências na estrutura física do Judiciário. Estamos na mais
desenvolvida e rica unidade da Federação, mas há Fóruns instalados em
depósitos, estações rodoviárias desativadas e até velórios. A deficiência é
muito democrática: cidades grandes e pequenas ostentam os mesmos problemas
quanto à falta de acomodação condigna para o funcionamento da Justiça.
O orçamento do Judiciário não comporta
a legítima pretensão de prover todas as localidades de instalações à altura da
relevância desse serviço público estatal imprescindível: a missão de solucionar
problemas e de pacificar a sociedade.
Existe um substancioso trabalho que
estabeleceu prioridades, realizado na gestão do Presidente Ivan Sartori. Elas
significam que a edificação a cargo da Secretaria da Justiça poderá atender uma
pequena parte das demandas. O mais, ficará para o futuro. Talvez um futuro
remoto e incerto.
Por isso a conclamação das comunidades
para que se articulem e procurem soluções criativas. A Prefeitura de Barueri,
por exemplo, encarregou-se de construir o seu Fórum. Itapetininga e Lorena
cuidaram de ampliação de seus prédios de atendimento judicial. Louveira
reformou uma antiga escola e já está a funcionar seu Foro Distrital. Outros
municípios também prometem soluções locais, como é o caso de Carapicuiba.
O Judiciário estadual é aquele que
atende à maioria da população. Proporcionalmente poucos os que necessitam da
Justiça comum Federal. Como o município não dispõe de Justiça Municipal, embora
entidade da Federação, seu dever é colaborar com o Judiciário a que acorre seu
munícipe. Lembro sempre o saudoso Professor André Franco Montoro: o indivíduo
não mora na União, nem no Estado. Mora na cidade. Esta é que deve cuidar de
seus habitantes.
Se a economia estatal periclita,
conforme se lê em todas as mídias - e quem está antenado não pode deixar de
constatar o desalento dos empresários e de todos aqueles que sobrevivem sem
aporte do Erário - há negócios que prosperam. O sistema bancário, as
concessionárias de serviços públicos, o setor das comunicações e outros. Basta
acompanhar a publicação dos balanços e relatórios com os resultados obtidos no último
ano.
Não é impossível que os setores
poderosos auxiliem cada município a dispor de um Fórum compatível com as
necessidades locais. Não é preciso construir palácios, nem recorrer a projetos
mirabolantes. Basta alguma coisa digna. Uma construção decente. Por que não
obter, junto aos empreendedores imobiliários, quanta vez a lançar nichos
urbanísticos de excelência, o compromisso de entregar também uma sede para a
Justiça?
Harmonizar o convívio é interesse de
todos, não apenas do Governo. Já existe uma política pública denominada "Minha Casa, Minha Vida". Por que
não aproveitar o momento e lançar um "Minha
Casa da Justiça", que é destinada a atender a todos e que poderá se
converter num polo transformador da comunidade local?
Confio na ousadia das lideranças locais
e o Tribunal de Justiça não recusará apoio para estimular toda iniciativa que
reduza as carências de um Poder que, embora independente na retórica da
Constituição, é inerme e não detém condições materiais de fazer face a todas as
demandas.
* José Renato Nalini é desembargador, preside o Tribunal de Justiça de São Paulo e é integrante da Academia Paulista de Letras. Visite o blog: renatonalini.wordpress.com.
* José Renato Nalini é desembargador, preside o Tribunal de Justiça de São Paulo e é integrante da Academia Paulista de Letras. Visite o blog: renatonalini.wordpress.com.
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