O Brasil insiste numa aberração jurídica e institucional: ter dois presidentes da República, ao mesmo tempo. Isso já ocorreu muitas vezes e volta a acontecer agora, de 22 a 24 de setembro, enquanto a presidente Dilma viaja a Nova York para a Assembléia Geral da ONU. O vice, Michel Temer, se mandou para o Uruguai, para não precisar assumir, o que lhe traria embaraços eleitorais. E os presidentes da Câmara e Senado se licenciaram, pelo mesmo motivo.
Resumindo: Ricardo Lewandowski, presidente do STF – Supremo Tribunal Federal, fica na cadeira de Dilma até ela voltar.
Isso tinha algum sentido no passado, quando uma simples ligação telefônica internacional demorava horas para ser estabelecida. Um presidente no exterior ficava realmente distante do seu país.
Mas hoje, meus caros, com internet e celulares, e todas as facilidades para comunicação em tempo real, inclusive com imagens, essa formalidade de ter um presidente interino, enquanto o verdadeiro está no exterior, tornou-se uma piada de mau gosto. Ora, de qualquer ponto do mundo o presidente e seu staff podem ser imediatamente informados sobre qualquer anormalidade que exija sua ação. Podem tomar decisões. Em nenhuma hipótese o presidente estará isolado e sem possibilidades de comunicação. Inclusive durante seus vôos.
Essa aberração, um país com dois presidentes, precisa acabar. Alguém tem que avisar o Brasil: o mundo agora é rápido e pequeno. Qualquer presidente, como qualquer pessoa, pode estar longe e perto ao mesmo tempo. Sem necessidade de clone.
* Milton Saldanha, 68 anos, gaúcho, é jornalista desde os 17 anos. Trabalhou na imprensa de Santa Maria (RS) e Porto Alegre. Vive em São Paulo há mais de 40 anos. Passou por muitos empregos, entre eles Rede Globo, Estadão, TV Manchete, Diário do Grande ABC, Jovem Pan, revista Motor3, Ford Brasil, IPT, Conselho de Economia e vários outros, inclusive na Ultima Hora. Ao se aposentar, criou o jornal Dance, já com 19 anos. É autor dos livros “As 3 Vidas de Jaime Arôxa” (Editora Senac Rio); “Maria Antonietta, a Dama da Gafieira” (Phorte Editora) e “O País Transtornado” (Editora Movimento, RS) onde conta 60 anos da recente História brasileira. Participou da antologia de escritores gaúchos “Porto Alegre, Ontem e Hoje” (Editora Movimento)

Nenhum comentário:
Postar um comentário