A prisão de dirigentes "de peso" da Fifa, nesta manhã, mostra que a complexidade do atual sistema capitalista. Se ao mesmo tempo, chegamos a isso tudo por causa da forma altamente mercantilizada com que os cartolas tratam o futebol, esse mesmo sistema não está mais tolerando os modelos "tradicionais" de gestão dos clubes e entidades esportivas: sem transparência, patrimonalista e exuberantemente permeável a múltiplas formas de corrupção.
Apesar de ser o início de uma investigação e ainda sem certeza de culpas e de eventuais punições, a notícia do dia é um fato que dá esperança. Sim, é algo que pode ser visto como positivo, pois mexe com a estrutura atual do futebol mundial e mostra que a modelo precisa de mudanças urgentes.
A diferença do fato atual em relação aos sucessivos escândalos que já vinham sendo feitos ao Sistema Fifa e parceiros é que, desta vez, as denúncias levaram a um processo nos EUA com a aplicação das atuais e bem rigorosas leis anticorrupção de lá. Isso realmente é um fato novo e pode gerar desdobramentos surpreendentes nos próximos dias.
É importante lembrar a pressão sobre a Fifa vem num crescendo há bastante tempo. A entidade saiu do Brasil com a imagem extremamente arranhada, pois a gestão da Copa de 2014 só foi benéfica para ela. O Brasil ficou com a conta para pagar. Os protestos não perdoaram a entidade.
Em nível internacional, a péssima imagem acentuou-se com a definição de Rússia e Catar para as Copas de 2018 e 2022. Há inúmeras suspeitas de irregularidades nessas escolhas. Pode ser que isso entre novamente no foco das discussões.
Sobre o Catar, ainda, a Fifa vem sofrendo grande pressão dos seus parceiros e patrocinadores por causa das denúncias envolvendo trabalho escravo e mortes no processo de preparação das arenas. Visa, Coca-Cola e Adidas estão seriamente preocupadas e já vinham pressionando a entidade. As marcas sabem que, no mundo de hoje, há corresponsabilidade e que os escândalos "colam" nas marcas-parceiras também.
O cenário de "tempestade perfeita" é completado com o fato de que, em alguns dias, haverá eleições na Fifa. Ainda que os dirigentes neguem, tudo o que está acontecendo levaram o modelo da entidade máxima do futebol "ao chão". A ver como e se a entidade conseguirá sair desse escândalo. Acho que dificilmente isso acontecerá sem perdas, ao menos do ponto de vista, da imagem pública.
* Anderson Gurgel é professor de Comunicação Esportiva da Universidade Presbiteriana Mackenzie e autor do livro "Futebol S/A - A Economia em Campo (Ed. Saraiva, 2006).
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