DIESEL: VANTAGEM OU
PROBLEMA?
Primeiro SUV compacto a diesel produzido no Brasil que pode
ser adquirido por menos de R$ 100.000 está no mercado. A partir do Jeep
Renegade reabre-se a polêmica proposta de liberar o combustível para todos os
veículos. Hoje, mesmo no segmento de utilitários esporte há obrigatoriedade de
tração 4x4 e caixa de redução, mas a segunda exigência na prática foi
contornada por vários fabricantes sem qualquer reação do Denatran.
Na realidade, o Brasil continua há décadas dependente de
importação de diesel e com o imbróglio das novas refinarias da Petrobrás (dois
projetos cancelados) o País voltou também a importar gasolina. Sempre se deve
lembrar que não existe alternativa economicamente viável ao diesel para
caminhões, ônibus e outros veículos pesados, enquanto etanol pode ser
adicionado à gasolina ou substituí-la em veículos leves.
Produção de biodiesel é cara demais e aqui, produzido
basicamente a partir de grão alimentício (soja). Apenas uma pitada de 3% (agora
está em 7%) e os marqueteiros logo nomearam a mistura de biodiesel. Mas a
gasolina padrão brasileira tem 22% de etanol há mais de 20 anos (no momento,
27%) e deveria se chamar de biogasolina por mais forte razão.
Veículo a diesel proporciona em média autonomia 20% superior
ao de um a gasolina, porém a diferença tende a diminuir com aplicação crescente
de injeção direta, turbocompressor e redução de cilindrada. No entanto, um
motor a diesel, mais pesado, tem custo até 50% maior do que um de ciclo Otto, o
que significa em torno de 10% no preço final. Dependendo do preço dos
combustíveis é preciso rodar bastante para amortizar a diferença ao comprar um
carro novo. Quanto mais caro o litro (caso da Europa) menor a quilometragem
necessária.
Alguns governos da União Europeia decidiram, recentemente,
que automóveis a diesel antigos e muitos poluentes precisam sair de circulação.
Na França e na Bélgica, por exemplo, dois terços dos automóveis novos usam o
mesmo combustível de veículos pesados. Não há propriamente a decisão de
bani-los de vez, mas incentivos dados no passado serão retirados. Carros
compactos de menor preço em geral rodam menos que os médios e grandes. Assim a
maioria vai optar por motores a gasolina.
Parece que fabricantes entenderam o recado, meio a
contragosto, pois diesel proporciona margens atraentes. A reviravolta surgiu
nos últimos salões de automóveis na Europa, pois praticamente todas as novas
famílias de motores são de ciclo Otto e de consumo bem menor. Emissões de óxidos
de nitrogênio são mais controláveis quando se usa gasolina.
No Brasil há outros complicadores. Motores a diesel modernos
só podem usar combustível de baixo teor de enxofre (S10) e exigem abastecimento
separado de solução de ureia quimicamente pura. Em caminhões há casos
comprovados de violação dos sistemas eletrônicos que anulam os recursos
antipoluição.
Controle de potencialmente cancerosas partículas inaláveis
finas (número e emissões/km), típicas do diesel, depende também de plano de
manutenção bem feito. Como a inspeção veicular continua emperrada – ao
contrário da Europa e outros países onde isto é levado muito a sério – teme-se
que avanços técnicos se anulem à medida que a frota envelheça.
RODA VIVA
SALÃO DO AUTOMÓVEL de
Buenos Aires termina no próximo domingo e teve poucos lançamentos de peso, a
maioria de produção argentina. Um deles é o novo Focus hatch, apresentado aqui
esta semana, que completa a atualização da marca na região só com produtos
globais. Versão sedã será mostrada em seguida e ambas estarão à venda ainda
este mês.
RENAULT
apresentou sua picape compacta de cabine dupla – primeira no mercado com quatro
portas – já na configuração de produção, a se iniciar no final de julho. Havia expectativa
de que o pouco sonoro nome Oroch (rima com Amarok) fosse mudado, mas está
confirmado. Sandero RS completa a linha de seu compacto anabolizado, prometendo
algo mais que decoração esportiva.
RETOQUES na
frente e na traseira do hatch 308 e do sedã 408, ambos argentinos, têm
potencial de animar um pouco suas vendas nessa disputada faixa de
médios-compactos. Apesar disso, não se trata do 308 francês que chegará
importado no final do ano em configuração mais cara. Peugeot alega ser caro fabricá-lo
no Mercosul, mas Golf e Focus novos estão entrando em produção na região.
PICAPE MÉDIA Frontier,
produto realmente novo, destacou-se em Buenos Aires. Fabricação não caberá ao
Brasil, que continuará com a versão antiga. Como a produção só começa em 2018,
resta importá-la por enquanto do México, dentro da (baixa) cota em dólares negociada
entre os governos. Argentina responderá não apenas pela Frontier, mas também derivações
Renault e Mercedes-Benz.
PREMIÈRE ainda no salão portenho do Honda CR-V atualizado, outro a vir do México. Mas, a partir de 2016, com inauguração da fábrica de Itirapina (SP), a marca japonesa ganhará espaço em Sumaré (SP) para produzir o CR-V que divide arquitetura com o Civic.
PREMIÈRE ainda no salão portenho do Honda CR-V atualizado, outro a vir do México. Mas, a partir de 2016, com inauguração da fábrica de Itirapina (SP), a marca japonesa ganhará espaço em Sumaré (SP) para produzir o CR-V que divide arquitetura com o Civic.
* Fernando Calmon é jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna Alta Roda começou em 1999. É publicada no Coisas de Agora, WebMotors, na Gazeta Mercantil e também em uma rede nacional de 52 jornais, sites e revistas.
É, ainda, correspondente para a América do Sul do site Just-auto (Inglaterra).
Escreva para Fernando Calmon: fernando@calmon.jor.br ou o acompanhe pelo Twitter: www.twitter.com/fernandocalmon.
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