Fênix Ferrari
Um feliz Daniel Sielecki deixa a
Ferrari com seu 225E revivido
Na
gradação da atividade de preservar veículos antigos, árduo trabalho de
particulares para resgatar – às vezes exumar – referências para gerações
posteriores, há degrau superior: o resgate à originalidade de exemplares a
nível de pré sucateamento. Está ligado ao perverso ciclo capitalista, iniciado
com período áureo de Cinderela, quando novo, brilhante, de proprietários
abonados, indo ao ocaso plúmbeo, dias de gata borralheira, de carro surrado,
não elegível para corridas, de proprietários sem orçamento e/ou glamour.
A
valorização mundial dos automóveis antigos, o decolar de valores, o superior marketing da marca, o despertar do
mercado com investimentos para salvar unidades antes desprezadas, fez a Ferrari
entrar na janela de negócios e criar área específica, o Ferrari Classiche, para restaurar carros da marca. Tem referências,
desenhos, artífices, expertise de época, capacidade de recuperar ou fazer
peças, encomendar acessórios. Enfim, por soma nunca divulgada, pois quem tem
meios para tal não comente montante, revive sucatas, realiza sonhos.
Vizinho
É
o caso da Ferrari 225E, unidade 0178, de 1952, então comprada diretamente na
fábrica pelo argentino Conde Antonio Sterzi. Gentleman Driver Sterzi fez o esperado a comprador de Ferrari nesta
época. Era carro de corridas, e a aplicação foi esta. Com o italiano Nino
Rovelli estreou-o na Mille Miglia. Em
seguida, motor amaciando, com Bruno Sterzi ganhou a Coppa Della Toscana, e correu a
Subida de Montanha Bolzano-Mendola; a
Coppa Intereuropa de Monza.
Sterzi
o vendeu e a 225E/0178 passou por incontáveis proprietários, desgastes, perdas
e, caminho sem glória, chegou próximo ao vale da morte: ter-se incendiado indo
à destruição quase completa.
Fênix
Mitológica
ave grega define o processo. Base e motor se salvaram, mas aos critérios das
décadas anteriores, era apenas um carro velho, diferente, de uso quase
impossível em rua - e incendiado. Nos anos ’80 alguém cometeu uma reforma. A
argentinos, serviço media boca. A
italianos mezza bocca ... Na prática,
inutilizável.
Destino
adiado, e o passar do tempo deu-lhe direção ascendente, valorizando, evoluindo
de sucata a investimento para resgate. Tais restos automobilísticos foram
adquiridos por Daniel Sielecki, abonado colecionador argentino – único sul
americano já premiado no festejado Pebble
Beach Concours d’Élegance. Comprou, fechou a gaveta das emoções, abriu a de
providências executivas, mandou-o ao Ferrari
Classiche.
Disse
o Riparto Classiche – como dito com
intimidade na empresa mãe -, a maior dificuldade não estava em restaurar a
carroceria, pois para isto o triângulo Maranello, Turim, Milão inclui incontáveis
artesões capazes de moldar portas, capôs, para lamas, e muitos etccc com tasso
e calço em chapas de alumínio. Nem sequer a parte mecânica, com itens residuais
concedendo ser copiados. Problema estava
no interior, instrumentação, painel, e detalhes do revestimento. A empresa
fabricava carros de corrida, e componentes de acabamento e decoração,
fornecidos por terceiros, escapavam ao interesse maior, incluindo projetos,
desenhos e arquivo.
Sem
referência, a Ferrari fez pesquisa mundial em coleções e museus para apurar a
maior constância de tais itens entre os carros sobreviventes, e escolher, à
base do maior percentual, a ser reproduzido. Teve sorte na messe: há três anos
restaurara exemplar de 225S, do mesmo ano, para colecionador brasileiro,
sucesso no Encontro de Araxá, pico da elegância antigomobilista tupiniquim.
Restante
foi fácil, encomendando e fazendo itens de composição, painel, instrumentos,
bancos, etccc, desviando-se do vermelho, óbvio no imaginário mundial, caindo na
realidade do azul escuro na parte inferior e branco sujo no teto, o
saia-e-blusa praticado à época. Daí finalizou com estofamento em couro.
A
ser lembrado na história de tal resgate, em 1952 a Ferrari tinha apenas 6 anos
de operação, era quase uma garagem velha, dedicada à tosca construção de carros
de corrida – monopostos e bi postos conversíveis, as Barchetta, e os de teto rígido, as Berlinetta, como no caso. Eram carros para competição, duros,
desconfortáveis, carrocerias moldadas artesanalmente por fornecedores externos,
acabamento sem preciosismo, concedendo, ás vezes, andar na rua. O 225 foi feito
apenas no ano de 1952, e em quantidade reduzida. Seu número indica, era o 178o
produto desde o início da empresa.
Não
se sabe o custo da operação fênix, entretanto como referência, meses atrás, uma
225S Barchetta, atingiu em leilão
nunca imaginados 6M de euros.
De Lorean, a volta
Um
automóvel cuja história daria movimentado romance. Bem se adapta ao De Lorean,
projeto e entusiasmo do engenheiro John Zachary De Lorean, ex enfant gatée da GM, criador do Pontiac
GTO, festejado Muscle Car. Saiu da
corporação para ter marca e carro próprio carro na Irlanda, em incentivado
processo.
O
automóvel era, por si só, atrativo pela carroceria em aço inox, portas abrindo
para cima, como asas de gaivota, e motor V6, 130 cv, de custos divididos entre
Peugeot, Renault e Volvo, de performance aquém do pretendido.
Apesar
da maciça divulgação pelos filmes De
Volta Para o Futuro, complicações, como uma nublada armação para prendê-lo por tráfico de entorpecentes, foi mais um
componente na história e acelerou o fim da aventura.
Mas
há novidades. Rex Parker, californiano de mãe e passaporte brasileiros,
residente em Huntington Beach, próxima a Los Angeles, Califórnia, maior
concentração de veículos por qualquer medida, surpreendeu-se com chegada da De
Lorean à sua vizinhança. E mandou este texto para a Coluna. (RN)
POR MAIS INCRIVEL QUE SEJA, TUDO
AQUI PARA O SEU DE LOREAN!
Difícil imaginar, mas aqui mesmo em
Huntington Beach, há uma revendedora De Lorean. Isso com o último carro
tendo sido produzido em 1982!
Disponíveis
são carros completos e operações de serviço para quem já é dono de alguma
unidade. E, claro, os "Flux Capacitor" para quem não tem carro.
Acessório importante, não é?
E
para quem quer um 0km, no ano que vem eles vão começar produzir carros novos.
Não com o velho motor V6 PRV, mas com novo, atualizado. Ainda em
plástico (fibra + carbono) e chapas de aço inox. Do estoque remanescente
quando a fábrica fechou na Irlanda, sobraram peças para fazer mais uns 3000
carros (a produção entre 1981-1982 foi de uns 9 mil De Lorean).
Quantos
dos originais sobrevivem? Uns 6.500-7.000 no mundo inteiro. Depois do passar do
tempo e ganhar ares de celebridade, há dezenas de recentes Barn Finds todo ano.
(Rex Parker, de Huntington Beach, California).
Nota do Editor: No Brasil há 3
unidades. Flux Capacitor era engenhoca mostrada nos filmes, capaz de fazer o
automóvel mover-se no tempo......
Depósito, revendedor e futura fábrica dos renascidos De Lorean
Roda-a-Roda
Xing ling – Próximos carros
pequenos GM em países emergentes terão base chinesa, produto da aliança com a
SAIC, marca de lá.
Substituto - É Projeto GEM - Global Emerging Markets -, plataforma de
baixo custo, substituindo Sonic, Aveo, Classic/Sail, Onix/Prisma, única para
América Latina, África, Ásia e Oriente Médio. Foca economia de escala.
Papel – Para 2018,
projeta, apenas no Brasil, fazer 510 mil unidades.
Questão – Processo não está
claro e liso. Precisa de resposta do governo federal. Presidente da GM pediu à
Presidente Dilma estabilidade política e econômica para manter investimentos e
a produção no Brasil. Pelo momento atual talvez tenha que mudar para a
Argentina ou aguardar cenário clarear.
Nova plataforma
global Subaru
Global – Subaru exibiu
primeiros dados de sua nova plataforma global. Manterá motor de cilindros horizontais contrapostos, tração
All-Whell Drive, e tecnologia Eye Sight identificadora da proximidade de
obstáculos e pedestres.
Resultados – Quer dobrar a
rigidez torcional, conseguir melhor dirigibilidade, segurança, baixar o centro
de gravidade reduzindo a distância do solo e aumentar a estabilidade. Servirá a
todos os produtos.
Mobi – Mais novidades sobre
o Mobi, menor e mais barato dos Fiat, com apresentação em abril: tampa traseira
em vidro; intocado motor Fire, 4 cilindros, 1,0. Sonhado motor de 3 cilindros e
12 valvulas não ficou pronto.
Vai bem - Mobi pesa entre
80 e 100 kg menos relativamente ao Uno, e por isto tem resultado dinâmico,
emissões e consumo bem ajustados, dispensando intervenções. Três Cilindros no
Salão do Automóvel, outubro.
Aliás – Fabricantes e
importadores preocupados com o Salão do Automóvel. Promete-se mudar de lugar na
edição deste ano, deixando o mal instalado Anhembi, indo à São Paulo Trade,
área do antigo Espaço Imigrantes.
Questão – Problema é não
tê-lo pronto, com reforma dos 40.000 m2 de área expositiva; construção de
50.000; ar condicionado geral; centro de convenções; e estacionamento
com 4,5 mil vagas. Falta muito.
Elétrico – Correios
testarão, por três meses, furgão elétrico chinês BYD. Capacidade para 800 kg,
tocado por baterias de lítio-fosfato de ferro, autonomia de 200 km, superior à
média das entregas postais.
Meta - Aferirá
resultados de custos no transporte de cartas e encomendas, e na difícil meta de
reduzir, até 2020, de 20% nas emissões poluentes.
Cliente – Maior comprador
de veículos à indústria automobilística, 15% do volume, setor de locação de
veículos crê, para ele, números serão menos ruins ante os da economia e do
setor. Compras caíram 18,4% e o mercado 24,2%.
Quem – Fiat mantém
liderança vendendo 16,5%. Renault, antes terceira, cresceu de 7,9 para 12%; VW
caiu a terceira, de 16% a 10,5%. Ford saltou, de merréticos 3,2% a 7,9%, e GM
desceu à 5ª. posição, de 8,3% a 7%.
Qualidade – FPT Industrial,
fabricante dos motores diesel utilizados por Fiat e Iveco padronizou em sua
área técnica, em Sete Lagoas, 70 km ao norte de Belo Horizonte, MG, todas as
metodologias de análise e sinergia com o mercado.
Na prática – Diz, reduziu o
índice de falhas e, no campo pesquisa entre clientes demonstrou os motores F1C
Dual Stage de 170 cv, NEF 6, de 280 cv, e Cursor 10, com 420 cv, como os
melhores do mercado em suas categorias.
Jogo duro – Shell aumentou a
família Rimula, de óleos lubrificantes para motores diesel para serviços
pesados. É o R3 Multi SAE 15-40W. Pela multi viscosidade promete reduzir
consumo de lubrificante em até 30%. Será ?
Ação – Proteste, Associação de Consumidores,
e Consumers International, reunindo consumidores de 140 países, levaram
jornalistas ao Autódromo de Interlagos para demonstrar e eficiência do controle
eletrônico de estabilidade.
Pressão – Querem apoio
institucional para pressionar o Conselho Nacional de Trânsito e, antecipar ao
segundo semestre de 2017 a obrigatoriedade de os veículos nacionais portarem
tal equipamento. Pelo Contran obrigação é 2022.
Hermanos – 10 de abril, nova
edição da Expo Auto Argentino, a
veículos argentinos, no Clube de Campo La Tradición, em Moreno, beiradas de
Buenos Aires. Esperados mais de 200 veículos, clubes, associações.
Tema - Festeja 50º
aniversário do ícone argentino, o IKA Torino. Ocasião para compra de peças e
automobilia. Organização pelos editores dos sítios Autohistoria e Coche
Argentino, com apoio do Rotary Club de Francisco Alvarez.
Gente – Laurent Barria, francês, diretor de
marketing da Citroën e DS no Brasil, promoção.OOOO Diretor de marketing na matriz francesa. OOOO Em seu lugar, Nuno Coutinho, 40, administrador,
português. OOOO Planejava produtos e
preços para a América Latina. OOOO De uns anos para cá descobriram talentos
lusos. OOOO O líder da PSA, holding
de PSA para o Mercosul, Carlos Gomes, é de lá. OOOO Em âmbito maior, Carlos Tavares, presidente da PSA mundial, patrão
geral, também. OOOO Mário Guerreiro,
Vice Presidente de comunicações da VW na America, no centro do furacão da crise
com motores diesel, idem. OOOO Outro
Mário, Rodrigues, engenheiro, 51, também português, chefe de produção na fábrica
VW de São Bernardo do Campo, SP. OOOO Rogério
Leite e Marcelo Ghigonetto, jornalistas especializados, mudança. OOOO Foram para o time Honda de
relacionamento com a imprensa. OOOO Honda dispensou agencia SP2Publicom
para concentrar esforços sob o mesmo teto. OOOO
60 anos entre o sonho e a realidade
Mercedes
começaria no Brasil com o 190
Mercedes-Benz inaugurou fábrica moderna em
Iracemápolis, SP, Capacidade de 20 mil unidades/turno/ano, produção inicial dos
sedãs Classe C, motor 1,6, turbo, injeção direta, 186 cv.
É uma espécie de cumprimento de desejo após seis
décadas. Em novembro de 1956, pela Resolução 9, o GEIA, grupo encarregado de
implantar a indústria automobilística no Brasil, aprovou o projeto da
alemã Mercedes-Benz de produção de caminhões e automóveis, o 190 sedan. Motor
1,9, cerca de 85 cv de potência. Era o modelo W 121. Nunca o fez. À época era
mais importante revolucionar o mercado de ônibus, inovando com o monobloco, com
suspensão dianteira por molas helicoidais, alterando o projeto constando da
Resolução 9, de novembro de 1956.
Posteriormente a Mercedes criou fábrica em Juiz de
Fora, MG, para fazer o Classe A. Automóvel futurista, o melhor tecnologicamente
dotado no Brasil do fim do século passado, não se viabilizou por questões de
nacionalização de componentes. Após encerrar-se, a Mercedes, para adequar-se
aos incentivos da operação, montou unidades da Série C em versão cupê, mas
durou apenas o período incentivado, transformando a fábrica para produzir
partes de caminhões.
Voltou agora, fábrica específica e, como produto,
o mais vendido da marca.
... questões paralelas atrasaram 60 anos, mas
agora faz o Série C
* Roberto Nasser, edita@rnasser.com.br, é advogado especializado em indústria automobilística, atua em Brasília (DF) onde redige há ininterruptos 42 anos a coluna De Carro por Aí. Na Capital Federal dirige o Museu do Automóvel, dedicado à preservação da história da indústria automobilística brasileira.
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