quinta-feira, 24 de julho de 2025

ZAMPA, PRESO PELAS “GAIVOTAS”. Por chicolelis*

A proliferação de novos carros com suas portas em forma de asas de gaivota trouxe à minha memória uma das muitas histórias, eu diria centenas delas, tendo como protagonista, o jornalista especializado em automobilismo, Marcus Zamponi, o querido Zampa, que nos deixou em 2013.

Na época, anos 70, repórter da revista Auto Esporte, Zampa pegou, para testar, um HOFSTETTER Turbo, em fibra de vidro, um design inspirado no Mercedes-Benz 300 SL, com as suas portas se abrindo em forma de asas de gaivota. O carro chamava atenção pela sua aparência esportiva e a forma inusitada de abertura de suas portas.

Pois, bem, com seus mais de 120 kg de peso, Zampa já encontrou dificuldades em entrar e sair do carro, que era muito baixo. Mas, o pior veio na sua viagem ao Rio de Janeiro, quando não conseguiu abrir a porta para fazer pagamento do pedágio.

- Só então percebi que a porta não abriria – me contou Zampa alguns anos atrás, antes de nos deixar em 2013 – quando parei no pedágio e que não havia uma janelinha para fazer o pagamento. Só abrindo toda a porta e isso era impossível. Tive que parar depois da cabine, sair do carro e ir pagar. (posteriormente o fabricante fez a adaptação de uma pequena janela).

 A viagem prosseguiu sem maiores problemas, a não ser aqueles relacionados a descer e depois subir do carro para um pequeno descanso e lanche.

Jornalista Marcus Zamponi

No Rio, o problema maior

Chegando ao Rio de Janeiro para visitar sua mãe, sentiu que iria “morrer assado, como um leitão”, contou-me ele, rindo como sempre fazia quando contava, com seu forte e delicioso sotaque carioca, uma de suas histórias, sempre divertidas.

Os amigos do Zampa, quando o ouviam, sabiam que nem tudo era exatamente como aconteceu. Mas todos reconheciam nele a capacidade de contar uma verdade, “rodeada” por comentários que levavam todos ao riso.

Bem, voltando a Copacabana, onde morava a mãe do Zampa. Parou o carro bem defronte ao prédio dela, na avenida Atlântica. Desligou o HOFSTETTER Turbo, asas de gaivota e apertou o dispositivo para fazê-las “voar”. Mas, qual o que, elas não abriram. Deu partida e, nada!

- Meu amigo, eu pensei que fosse morrer. Imagine só - contava ele – eu, em pleno verão carioca, com uns 40°C, de calor, sem janelas no carro e portas que não abriam. Tentei de todas as maneiras abri-las. Chutei, dei socos, e nada.

- As pessoas passavam e viam um gordo, já sem camisa, todo vermelho de raiva e de calor, se debatendo dentro daquele carro estranho, mais parecendo um leitão prestes a ser assado, do que uma pessoa desesperada de salvar sua vida.

Contou ele que, quando achava que tudo estava perdido, que passava muito mal, transpirando abundantemente, apareceu alguém que conseguiu abrir a porta por fora e ele subiu para o apartamento da sua mãe, onde passou o final de semana.

O HOFSTETTER Turbo

O engenheiro Mario Richard Hofstetter foi quem conseguiu realizar o sonho de criar um esportivo brasileiro que se destacasse pelo sua diferença do que havia no mercado nacional. Usou a mecânica VW e carroceria em fibra de vidro.

Outros modelos projetados ou fabricados no Brasil também “voaram” com suas asas de gaivota, como o Lavínia FEI-X3, entre eles o protótipo da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e o Fibrax Fiera. Mas só o “carro do Zampa” se destacou.

Já o Mercedes-Benz 300 SL Coupé, considerado um super-esportivo, tornou-se um ícone no setor automotivo. Ele foi apresentando, pela primeira vez no Salão do Automóvel de 1954, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, chocando os visitantes com suas portas asas de gaivota.

Mercedes-Benz 300 SL Coupé

Modelos com as “asas”

Hoje são vários modelos com portas asas de gaivota, um deles, inclusive, nas portas traseira.

  • Mercedes-Benz 300 SL Gullwing
  • Mercedes-Benz SLS AMG
  • DeLorean DMC-12 : “Atuou” no filme "De Volta Para o Futuro" 
  • Tesla Model X
  • GAC Hyptec HT
  • Pagani Huayra
  • Bricklin SV-1
  • Gumpert Apollo


*chicolelis - Jornalista com passagens pelos jornais A Tribuna (Santos), O Globo e Diário do Comércio. Foi assessor de Imprensa na Ford, Goodyear e, durante 18 anos gerenciou o Departamento de Imprensa da General Motors do Brasil. Fale com o Chico: chicolelis@gmail.com.

Nenhum comentário: