A KOMBI NÃO MORRE E PRONTO!
18/12/2013
Ontem o governo federal deu o primeiro passo no sentido de desistir de adiar a obrigatoriedade de airbags e freios ABS para 100% dos carros fabricados no Brasil. Com isso, a regra, definida pelo Conselho Nacional de Trânsito em 2009, passa mesmo a valer em 1º de janeiro de 2014. Este ano, 60% dos carros nacionais já saíram de fábrica com estes equipamentos de segurança.
Digo “primeiro passo” porque a lambança ainda não terminou. Por exemplo: uma reunião marcada para o dia 23 pode decidir por uma exceção à Kombi, cuja estrutura não permite a instalação (ou não justifica o custo) dos equipamentos. De acordo com o ministro Guido Mantega, o governo estudará beneficiar o utilitário da Volks por não ter similar no mercado.
Em outras palavras, seria assinada a sentença de morte se o modelo não escapasse à obrigatoriedade de airbags e ABS. E, de novo, o ministro falou ao invés de ficar calado: "Não houve resistência das montadoras em criar um perdão para a Kombi porque o produto não tem concorrência. Não é caminhonete, não é automóvel. Não é veículo. É um produto diferente, sem similar", disse Mantega.
Entre atitudes e reações trágicas e cômicas, a população boquiaberta e incrédula se pergunta por que uma terra com tantos predicados positivos como o Brasil é governada (sic) por uma legião de incompetentes safados, corruptos e mal intencionados?
Em nome de uma agremiação autointitulada partido político, Guido Mantega está barganhando vidas humanas por 4 mil empregos da linha de produção da Kombi. O que mais há de se esperar de gente que está rifando o país em causa própria?
Para quem falou o que não deveria ter falado, é bom lembrar que um estudo elaborado pelo Cesvi Brasil (Centro de Experimentação e Segurança Viária) apontou que 3.426 mortes de condutores de automóveis e camionetas poderiam ter sido evitadas pelo uso do airbag. O relatório considerou o período compreendido entre os anos de 2001 e 2007, ou seja, 489 vítimas fatais salvas por ano. Esse volume é 1,4% do total de 35 mil mortes decorrentes de acidentes de trânsito brasileiro por ano.
Ainda de acordo com o levantamento, o airbag poderia proteger 71.047 pessoas de ferimentos leves - 10.150 vítimas leves evitadas por ano -, desde que elas estivessem usando o cinto de segurança; e poupar R$ 1,58 bilhões em gastos relacionados a traumas sem gravidade. No caso das vítimas fatais, o impacto econômico seria de R$ 630 milhões - R$ 90 milhões por ano. Se somarmos os dois tipos de vítimas, o impacto total seria de R$ 2,2 bilhões em sete anos.
De acordo com o Cesvi Brasil, as estimativas econômicas consideraram que, por meio do uso do airbag, a vítima fatal passaria a ser contabilizada como ferida e a vítima ferida, por sua vez, como ilesa, segundo critérios adotados pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O que representa 4 mil empregos diante desses números?
Há certos momentos em que o silêncio é a melhor declaração, senhor ministro.
* Percy Faro (percyfaro@gmail.com) é jornalista profissional há 38 anos. Especializou-se no setor automotivo há 23 anos, período em que atuou em diversos veículos do segmento específico, entre eles as revistas 4x4, Moto, Oficina Mecânica, O Mecânico e Jornauto. Integrou a equipe que fundou a Revista Carro e foi produtor e apresentador do Programa Carro, da TV Gazeta - SP, e editor do Jornal Veículos, do Diário do Grande ABC.
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