terça-feira, 11 de novembro de 2014

OS LÍDERES E O FANTASMA DE MAQUIAVEL.
por Renato Ladeia*

Maquiavel foi o primeiro pensador ocidental a refletir sobre a liderança, numa época em que ser líder era um papel exclusivo da aristocracia e não do homem comum.  O foco de preocupação de Maquiavel era o poder político, exercido pelos príncipes, mas seus ensinamentos se aplicam a todo tipo de liderança, seja no comando de um Estado Nacional ou numa empresa, exercendo um cargo de comando. Maquiavel é considerado até em nossos dias como o mal personificado.

Numa pesquisa realizada por alunos do curso de Administração da FEI, entrevistando cem profissionais que exercem cargos de liderança em empresas de variados ramos e atividades, foram colocadas vinte questões em que estão embutidas as visões de mundo do atribuídas a Maquiavel, sem a informação de que os conceitos foram extraídos do livro O Príncipe. O resultado indicou que 65% dos respondentes concordaram com as posições colocadas. Numa análise fatorial, cinco dos componentes da pesquisa, tem a capacidade estatística de explicar 63% do tema estudado.

Mas será que ele realmente era a personificação do mal ou apenas um intelectual, experiente em negócios de Estado, que pesquisou profundamente através da história as atitudes e comportamentos dos líderes em seus sucessos e fracassos e com isso criou um manual para um líder ser bem sucedido? Primeiramente é bom observar que conhecemos muitas pessoas, sejam políticos, líderes empresariais e várias categorias de gerentes, chefes e supervisores que praticam os ensinamentos contidos no livro O Príncipe sem nunca terem lido ou ouvido falar nele. Isso pode ser uma prova de que as lições do “Príncipe” não foram inventadas pelo pensador florentino, mas compiladas em suas pesquisas sobre vários líderes ao longo da história humana. Com as informações ele pode então formular uma teoria sobre como proceder para se manter no poder ou conquistá-lo.

A ética prognosticada em O Príncipe para os líderes bem sucedidos não era comprometida com valores, mas com os resultados obtidos.  De nada adiantaria ser um líder justo, ético, honesto, mas sem resultados relevantes para o fortalecimento do Estado e o bem estar da sociedade. Os aduladores merecem um capítulo específico no seu livro mais importante. Os bajuladores da corte podem se tornar uma ameaça se o líder não ter cuidados com a sua influência. Assim, o líder não deve dar ouvidos a todos, mas apenas a alguns em especial e somente deles ouvir conselhos, pois caso contrário poderá ficar a mercê de pessoas mal intencionadas ou incompetentes. Deve também o líder ouvir a opinião de alguns “amigos” confiáveis antes de tomar uma decisão importante, pois voltar atrás pode relevar um líder fraco, sem ideias próprias. Outra lição importante neste capítulo, é que a prudência do líder não deve depender dos seus conselheiros, mas os conselhos dependerem da sua prudência. Para ele o líder deve cercar-se de sábios, mas de nada adianta ter sábios conselheiros se ele não for sábio para avaliar os conselhos. Outra máxima é que o “líder” deve ser sempre justo e generoso, mas deve estar pronto para não sê-lo quando julgar isso conveniente.

Maquiavel escreveu O Príncipe como um receituário para se conquistar o poder ou mantê-lo tendo como alvo os mandatários dos pequenos estados italianos do século XVI, mas ele continua atual e não só para governantes, mas também para os líderes organizacionais, como mostrou a pesquisa.  Uma leitura atenta do livro poderia ser um conselho que ele  ainda daria para os modernos executivos contemporâneos.












* Renato Ladeia é professor do Departamento de Administração do Centro Universitário da FEI.


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Caroline Garcia
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