Por irresponsabilidade do Lula, para não dizer algo mais suspeito, o Brasil gastou tudo aquilo que não poderia gastar ao trazer para cá a farra da Copa do Mundo de 2014. O que se gastou supera, em termos proporcionais, o montante do atual ajuste fiscal. Portanto, não será exagero dizer que a semente do problema germinou lá. Isso agora precisa ser apurado em detalhes, mesmo sendo irremediável, no mínimo por seu caráter didático: é preciso aprender com os erros. O detalhe é que errar com dinheiro público, em valores astronômicos, deixa de ser erro e vira crime. Na lei, isso se chama prevaricar.
Só não entendo algumas expressões de espanto quanto à prisão dos bandidos da Fifa. Demorou muito. Até meu cachorrinho, que prefere dormir a ver futebol, sabe de longa data que a Fifa sempre foi um antro do crime organizado.
Como estamos em fase de vacas magras, tirando recursos até da educação e saúde, que deveriam ser imexíveis, como diria o finado Magri, seria bom começar a investigar também as verbas públicas canalizadas anualmente para as escolas de samba. Há muito o Carnaval deixou de ser uma festa autenticamente popular, como foi no passado, e se tornou um nicho da classe media e rendoso negócio, controlado por contraventores do jogo do bicho, entre eles um ex-torturador da ditadura. Entra nisso grana da União, estados e municípios.
Quanto? Como são controladas essas verbas? Que critérios definem seus valores? Existe prestação de contas? E mais: numa fase tão crítica, em que os hospitais públicos registram cenas chocantes, com gente morrendo no chão, o país pode continuar se dando ao luxo de gastar com Carnaval?
Os contribuintes, que pagam farras como futebol e Carnaval, jamais são consultados. Nenhum momento será melhor do que o atual para se fazer um debate sobre tais gastos a fundo perdido. Caso contrário perdidos estaremos nós.
* Milton Saldanha, 68 anos, gaúcho, é jornalista desde os 17 anos. Trabalhou na imprensa de Santa Maria (RS) e Porto Alegre. Vive em São Paulo há mais de 40 anos. Passou por muitos empregos, entre eles Rede Globo, Estadão, TV Manchete, Diário do Grande ABC, Jovem Pan, revista Motor3, Ford Brasil, IPT, Conselho de Economia e vários outros, inclusive na Ultima Hora. Ao se aposentar, criou o jornal Dance, já com 19 anos. É autor dos livros “As 3 Vidas de Jaime Arôxa” (Editora Senac Rio); “Maria Antonietta, a Dama da Gafieira” (Phorte Editora) e “O País Transtornado” (Editora Movimento, RS) onde conta 60 anos da recente História brasileira. Participou da antologia de escritores gaúchos “Porto Alegre, Ontem e Hoje” (Editora Movimento)
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