Arrumando
a casa. Novos Uno 1,0 e 1,3.
Não
é novidade aos leitores da Coluna. Os novos Uno foram por ela
descritos tanto nas modificações quanto na postura mercadológica, de portar
novidades estéticas, de composição no conteúdo – chegando ao controle de tração
-, marcados por novos motores, o GSM publicitariamente ditos Firefly.
Fiat
tem problemas internos com leque de produtos sob o peso dos anos, supressão de
alguns, e as vendas do Mobi, expectativa de ser o mais vendido da marca, sem
sê-lo. O Uno, mais vendido e agora visualmente mais careta, inicia processo de
renovação com alterações estéticas, incremento ao conteúdo, e novos motores.
Para
entender, todas as marcas devem substituir motores em função das novas regras
europeias e norte americanas de consumo e emissões. Sua mescla permeia ao
Brasil e a globalização exibe padrão. Assim, os GSM são os Fire dos atuais
dias, e sobre ele, com expansão de cilindrada, aposição de um turbo ou dois -,
será unidade de força da maioria dos Fiat nacionais nas próximas duas décadas.
Uma
olhada percebe liberdade conceitual. Desde as folgas mínimas internas nos
motores concedendo utilizar óleo lubrificante 0W20, o uso de corrente sem
manutenção acionando o comando de válvulas; sua capacidade de atrasá-lo em até
50 graus quando a velocidade está estabilizada; bombas de óleo e água
funcionando sob demanda; alternador sem operar quando a bateria está carregada;
sistema stop/start; bielas longas.
Vê-se,
mudou o objetivo. Não se persegue potência mas torque, dado verdadeiramente
influente em 90% do uso do automóvel.
Motores
com bloco e cabeçote em alumínio e duas válvulas por cilindro para aumentar torque
em baixas rotações e reduzir custo de produção. Família é modular, as peças
internas – bielas, pistões, pinos, anéis, válvulas et coetera, são
iguais, e o motor de quatro cilindros 1,3 é um três 1,0 com um terço a mais.
Direção elétrica para economizar combustível. No conjunto, o motor 1,0 faz 10,4
ou 10,9 m.kgf de torque com gasácool ou álcool, maior dentre os 1.0 disponíveis
no Brasil. Não buscando potencia, esta ficou entre 72 a 77 cv com os dois
combustíveis.
1,3
gerando 13,7 a 14,2 m.kgf de torque e potencia de 101 a 107 cv.
Pesando
pouco mais de uma tonelada, a fórmula promete bons resultados dinâmicos em
capacidade de acelerar.
Preços
entre R$ 42.970 e R$ 53.690 para o 1,3 com transmissão automatizada Dualogic.
Considerando o Mobi inicial oferecido a R$ 29.900 vê-se, a Fiat criou espaço
para separar os produtos por aplicação e conteúdo. O Mobi mantém o motor Fire
em última geração de quatro cilindros, fim do ciclo.
Sem
incentivos, mas com projetos
Nos
últimos 50 anos de operação, a atividade de fazer veículos a cada crise juntava
seus agentes e aplicava fórmula desequilibrada. Empregados e empregadores iam
ao governo e pediam soluções para impedir demissões. Como a maioria dos
governos não tem projetos, não utiliza a atividade alheia para alicerçar seu
crescimento, resolvia de maneira prática: reduzia impostos. A opção satisfazia
três partes e era confortável, pois jogava nas costas de um quarto
participante, o contribuinte, sem consultá-lo sobre a redução da arrecadação em
nome de favorecer um segmento – e desfavorecer os outros.
Nunca
se saberá, efetivamente, a verdade da fórmula e dos números apresentados. Era
mais elaborada quando de sua primeira edição, em 1965. Ao tempo, ao governo
militar foi apresentada a primeira queda de vendas nos quase 10 anos de
indústria nacional. Revendedores deram a sugestão, e governo complementou. Deu
no Carro Econômico.
A
fórmula se repetiu sem o componente de caráter popular, no governo Itamar
Franco e os carros 1.0. Os Econômicos eram desequipados, pelados,
desconto de 75% nos 25% do IVC, o imposto de então, e financiados em 90% pela
Caixa Econômica Federal. Nos 1.0 IPI quase a Zero %. Ambos re engataram vendas.
As
soluções mais recentes são superficiais, apenas reduzindo o IPI de algumas
faixas de cilindrada do motor.
Agora,
com queda monumental, a fórmula estressada não dá mais resultado. Phillip
Schiemer, 52, presidente da Mercedes-Benz, o fabricante mais tradicional do
país e quem anota 60% de queda de vendas 60% e as maiores dificuldades para
reduzir o pessoal ocioso, foi o primeiro a dar o recado nas Páginas Amarelas da
revista Veja: Subsídio é um modelo falido e com ele a indústria
brasileira poderá sumir.
Empresas
pensam em décadas, governos apenas na próxima eleição, a cada 2 anos. Empresas
tem que vender e fazer lucros para pagar contas ao final do mês. Governo nem
sempre paga as dívidas, emite precatórios, vende títulos, e rola as contas para
os próximos. Indústrias são tocadas por executivos treinados por décadas. Ao
interlocutor oficial não há exigências de preparo. Listados alguns recentes
titulares do Ministério que mais troca de nome na Esplanada, serão lembrados
como ativos apenas Luiz Fernando Furlan e Armando Monteiro. Os demais, sem
conhecimento, vivência ou respeitabilidade, não se impuseram.
Antonio
Megale, presidente da Anfavea, associação das montadoras, entrou na mesma
trilha com objetividade de engenheiro: para ele indústria quer projeto
para saber para onde e como vai o país. Stephen Ketter, brasileiro,
apesar do nome, presidente da FCA, gerindo queda da liderança para terceiro
lugar em vendas, autor da mais moderna das fábricas nacionais, endossa a tese.
Agora
resta ao governo mostrar o caminho. Talvez ocorra. Marcos Pereita, bispo,
ministro do Desenvolvimento, de quem os ajustes políticos caparam o comércio
exterior, não foi aos EUA vender esperanças e projetos. Terá tempo para fazer o
dever de casa.
Surpresa,
Picape Mercedes no Salão de Paris
Mercedes-Benz
em corrida para mostrar no Salão de Paris, final do mês, picape a ser produzido
na Argentina, sobre base do Nissan Navara - foi antecipado mundialmente
pela Coluna.
Morfologia
conhecida, chassi por longarinas e travessas, cabine dupla, tração nas 4 rodas,
transmissão automática de 9 marchas e, para o mercado brasileiro, um dos bons
clientes, motor diesel de sua produção.
Fase
de definição, nome oscila entre GL-T Class e X-Class. Pelo insólito, produto
surpreendeu quando anunciado, mas o conceito depurou e a MB dos EUA agora quer
produzi-lo, onde picape é o carro mais vendido. Vendas demoram – agosto de
2017. Motores a gasolina, diesel, e versão híbrida, caminho natural destes
tempos. Quer ter uma noção? Enfeite e equipe um Amarok.
Roda-a-Roda
Tecnologia – Ganhos tecnológicos
em projeto, desenvolvimento e construção levam fabricantes de automóveis a se
aproximar da tecnologia de impressão 3D. Difícil imaginar automóveis feitos com
painéis produzidos por impressora chique, mas é o caso.
PSA – Após Ford e
Opel entrar no negócio, fabricante de Peugeots e Citroëns fez acordo com a
californiana Divergent 3D, desenvolvedora de processo para impressão de peças
complexas. Busca-se construir veículos mais leves por processos reduzindo
custos, poluição, consumo.
Lei
- Promessa
nunca efetivada pelo governo de Christina Kirchner, aprovar projeto da Câmara
dos Deputados legalizando as pequenas fábricas de automóveis na Argentina, deve
se tornar a lei de Autos Artesanales Argentinos. Permitirá
patentear, construir, vender a mercados interno e exportar.
ACIARA – Associação de
Construtores Independente de Automóveis da República Argentina, é o nome da
entidade, já acordou protocolo com o governo para circulação dos veículos após
homologação.
Produto – Argentina tem
talento no setor, obrigado a mágicas e firulas para sobreviver. Mais conhecido
dos veículos, o Pur Sang, cópia de Bugatti type 35, incluindo mecânica e motor.
Gentileza – Associação
participará ativamente da restauração do Cadillac 55 conversível, ex Perón,
desejo do Presidente Mauricio Macri em tê-lo no Museu da Casa Rosada. Macri é
do ramo: construiu Peugeots.
Creta – Nome do
utilitário esportivo, próximo da Hyundai do Brasil suscitou dúvidas. Porque não
outro, identificado com o Brasil, como o faz na pequena República Dominicana,
onde é chamado Cantus?
Fica – Diz Cassio
Pagliarini, diretor de marketing: “ O nome Creta já é aplicado nos
mercados próximos ao Brasil e teve grande sucesso na Índia e Rússia, com vendas
muito expressivas já no seu primeiro ano de vida. A nomenclatura ix25 é válida
apenas para a China. Aqui no Brasil, o nome Creta foi testado sem
rejeições pelos potenciais clientes e vai colaborar na construção da marca
global do produto, mesmo que existam diferenças específicas de país para país.
Naturalmente, eu acho a nossa versão a melhor delas!”
Mercado – Maior segmento
no mercado nacional é o de SAVs, os Sport Activity
Vehicles, detentores de aparência e valentia pela posição superior para
dirigir e maior distância livre do solo. Usam motores de tamanho e potência
contidos e tração apenas em duas rodas.
Padrão - No Creta
Brasil, inicialmente, motor L4, 1,6 litro e 123 cv, 15,4 m.kgf de torque,
transmissão mecânica e automática de 6 velocidades. Preço deve ser abaixo dos
pouco críveis pedidos por Honda HR-V e Nissan Kicks.
Renascer – Chegando ao
fim do problema e iniciando a solução para motores diesel leves acusados de
emitir poluentes acima da lei. VW caminhões e ônibus, um dos 12 braços do
império VW AG, fez festa de abertura do IAA, maior salão de transporte no
mundo.
Evidência – Estava reclusa,
quieta em divulgação, e o melhor sinal da volta é retomar oportuna tradição por
ela aberta em recepcionar convidados e jornalistas de todo o mundo em avant
première. Nome ajuda a imagem, foi Start up Night, tipo
voltamos com tudo. Comando pelo brasileiro Roberto Cortes, apresentação do
sistema Volksnet, de monitoramento, desenvolvido no Brasil, e do caminhão
Constelation 25.420.
Fechou – Quem quiser
entrar no negócio de vender e assistir Porsches, deve esperar. Stuttgart
Veículos, uma das duas redes do país, completou plano de expansão com loja em
Florianópolis, a sétima em seis cidades: S Paulo, Rio, Curitiba, Porto Alegre,
Campinas, Recife. Stuttgart detém 25% da Porsche Brasil, representante
nacional.
Marca – Porsche Brasil resolveu
auditar todos os re-call da marca. Quantidade pequena, 139
veículos. Chamou os proprietários por telefone e convenceu-os aos reparos
gratuitos. Moral da história, 100% de atendimento – média nacional é a metade.
Outro – Ministro das
Cidades – onde se alojam os assuntos do trânsito -, e diretor do Denatran,
anunciaram formação do Comitê Empresarial de Segurança Viária. Querem ouvir
sugestões para implementar medidas capazes de deter a ascensão de acidentes e
perdas no trânsito.
Faróis
– Aproveitando
a Semana Nacional do Trânsito Bosch destaca a importância do
sistema de iluminação como item de segurança. Sugere sejam verificados
periodicamente para garantir boa visibilidade aos condutores e não ofuscar
visão de outros motoristas.
Moto – Moras
no Paraná? Vais passar em Curitiba entre 7 a 9 de outubro ? Gosta de
motos? Vá ao Brasil Motorcycle Show. Será no Espaço Renault, dentro do
Parque Birigui. Boa parte das presentes no mercado, e atrações como
personalizadores. Aproveite e visite o museu do automóvel nas proximidades.
Paulistanidades – És
antigomobilista? Votas na capital de S Paulo Duas chapas
não tem passado recomendável quanto à atividade. Se o conceito pesa para ganhar
seu voto, considere. Por cronologia.
Erundina - Quando o
Ministério das Relações Exteriores colocou dois Itamaraty Executivos à venda, o
Museu Nacional do Automóvel foi ao chefe de gabinete de Luiza Erundina, então
Ministra da Administração, ponderar sobre a venda de automóveis raros, ligados
à história do país, por quantia rala. Resposta foi de ser questão inexpressível
– e que o Museu, privado, preocupado com patrimônio público, comprasse os
automóveis.
Mais
– Quando
Prefeita da capital paulista foi inflexível em questão com o Veteran Car Club,
levando-o a fechamento.
Matarazzo – Andrea, antes
candidato e agora vice na chapa Marta Suplicy, era Secretário de Cultura em S.Paulo, e o mesmo Museu denunciou vandalismo e sumiço do acervo tombado do Museu
Paulista de Antiguidades Mecânicas, o Museu Lee em Caçapava, SP, sob sua
jurisdição.
…
2 -
Em vez de fazer auditoria e apurar responsabilidades, como requerido,
acertou-se com sua prima, a responsável pelo Museu, para doação à Prefeitura de
Caçapava, apagando o passado, os danos, a lesão ao patrimônio cultural, pois os
veículos estavam tombados por sua Secretaria.
Marta – Querendo o
prédio para finalidade menor, Ministério dos Transportes conseguiu lacração do
Museu Nacional do Automóvel, em Brasília. A então senadora foi nomeada Ministra
da Cultura, e imediatamente a entidade solicitou audiência, buscando apoio para
solver a questão diretamente com o Ministério dos Transportes. Nunca a Ministra
teve interesse ou agenda, omitindo-se a salvar o Museu na Capital Federal. De
falsas culturas e interesses sociais o país – e agora as prisões – estão
cheios.
Há sessenta anos Mercedes começava o diesel no Brasil
Última semana de
setembro de 1956 a Mercedes-Benz fez profunda e pioneira marca na história da
indústria automobilística brasileira. Superou o esquema consentido à época, a
montagem de partes importadas – onde se incluía o motor - e apresentou o
caminhã0 312, com motor feito no Brasil. O evento dividia a história e
indicava, o fabricante com origem na criação do automóvel dava o aval para o
futuro da atividade no Brasil.
A empresa havia quebrado
o estigma do sub desenvolvimento da América Latina – onde não se fabricavam
motores sob a alegação técnica norte-americana de ser impossível garantir
estabilidade dinâmica aos blocos vasados sob calor tropical. Em dezembro do ano
anterior, através da Sofunge, depois adquirida, mesclando sonhos, utopias, as
esperanças para o chegante governo JK, e o conhecimento de engenheiros alemães
da Mercedes e brasileiros, havia fundido, usinado e dado como operacional o
primeiro motor feito no Brasil.
Era um seis cilindros
em linha, diesel, em ferro fundido, produzindo pelas medidas de época 110 hp,
com ignição por vela térmica e pré câmara de combustão – o pico de tecnologia
para melhorar a queima do combustível e expelir menos fumaça preta.
Pioneiro L-312, apelidado
Torpedo, Pescocinho, com referência
ao motor projetado fora da cabine,
transportava entre 5 e 6 toneladas de carga bruta, surgiu apoiado em
campanha publicitária e pintada no para choques dianteiro a frase O que é bom já nasce diesel, alusão ao
caminho que iniciava abrir – então apenas 2% da frota utilizava variadas marcas
importadas e os montados localmente, Ford, Chevrolet, International,
Studebaker, operava a gasolina,.
Do pioneiro L-312
Torpedo foram produzidos 6.054 unidades até 1958, quando substituído pelo 321,
com cabine avançada. Até hoje a Mercedes-Benz produziu 1.450.000 caminhões no
Brasil.
* Roberto Nasser, edita@rnasser.com.br, é advogado especializado em indústria automobilística, atua em Brasília (DF) onde redige há ininterruptos 42 anos a coluna De Carro por Aí. Na Capital Federal dirige o Museu do Automóvel, dedicado à preservação da história da indústria automobilística brasileira.
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