O fundo do poço e a mola
Ditado popular garante, fundo de poço tem mola. Ou seja, há reação
rápida quando se atinge o ponto mais baixo da escala. No caso da indústria
automobilística há anos se busca o fundo do poço e sua imaginada mola, porém
sem resultados. Vendas vem caindo ano após anos, crendo fechar o ano com pouco
mais de 2M de unidades comercializadas. Na prática marcha à ré de 10 anos.
Há, entretanto, previsões otimistas. Da Anfavea, associação dos
fabricantes de veículos, imaginando choque no fundo do poço, trava na queda e
reação da suposta mola, fazendo vendas crescer em 5 ou 6%. Carlos Zarenga,
presidente da GM no Mercosul, com olhar de CFO – ele é o chefe de finanças da
marca no sul do continente – é mais otimista. Para ele a mola é mais forte e
reativa. O impacto contra a base do poço ocorrerá ao fim do primeiro trimestre,
com previsível crescimento de vendas a 10% sobre os números de 2016.
Os vindos do poço
Indústria automobilística funciona olhando horizontes distantes e daí os
resultados do dia são apenas componentes da conta. Influenciam investimentos,
mas não os impedem. E por conta disto, mesmo com problemas, mercado e suas
vendas devem ser aproveitados. Muitas novidades previstas para 2017.
Renault
Primeira das francesas a se mexer, terá em fevereiro a apresentação do
Captur, SAV e mais elegante de seus produtos nacionais. Ficará acima do Duster
e preços a partir de R$ 80 mil. Logo à frente também SAV, o pequeno Kwid, motor
1,0 de três cilindros, baixo peso para surpreender com performance e consumo. E
início das importações do Koleos, com a mesma morfologia utilitária, entretanto
com decoração refinada.
Captur, fevereiro |
GM
Terá a reedição do Tracker, melhorias de meio do ciclo de vida, com
implementos de estilo, frente e traseira, alteração no painel de instrumentos,
e ênfase em conectividade, um dos atrativos da marca para vendas. Motor deve
ser o novo 1,5 turbo, 16 válvulas, injeção direta.
Citroën
Outra francesa corre a aprontar versão de seu produto mais vendido, o
bem formulado C 3. No caso, uso da plataforma e arquitetura mecânica vestidos
com nova carroceria, a Cactus, marcada por grandes almofadas externas nas
laterais.
Citroën C3 Cactus |
VW
Marca alemã antecipará surgimento de nova família sobre plataforma
mundial, a MQB-A0 – hoje aplicada para fazer o Golf, e Audis A3 e Q3. Será base
para evolução de produtos ainda sem nome e, por movimento pantográfico, suceder
a Gol, Voyage, Saveiro e novo SAV pequeno. Crê-se Gol manter-se-á como veículo
de entrada, com o novo produto em preço e posição superiores. Ideia para o
convívio, sem usar desgastado adjetivo Novo, é batizar sucessor como Polo, bom
nome mundial e o melhor dos Volkswagen pré Golf produzido aqui.
Voyage, insosso e inodoro, cederia lugar a sedã com pretensões de maior
participação no mercado, e picape situar-se-á acima da posição ocupada pelo
Saveiro, e abaixo do Amarok. Projeto é usar Saveiro contra Fiat Strada e o novo
modelo como concorrente no segmento criado por Renault Oroch e Fiat Toro.
Quando ao SAV pretensão é conter medidas para deixar espaço superior às
versões de Tiguan e ter concorrente a Ford EcoSport, Nissan Kicks, Honda HR-V.
Toyota
11a
edição da série Corolla com novidade de empregar motor BMW – mesma família
aplicada aos modelos de entrada da marca alemã e nos Mini. É acordo entre as
empresas, e na prática motores serão três cilindros, 1,2 e 1,5 litros de
deslocamento, turbo, também opção do quatro cilindros 1,8 VVT-i Toyota.
O turbo
1,5 tracionará versão de topo e quer mudar os olhares sobre o carro, visto como
carro de Uber e do tiozão careta,
como a Honda fez com o concorrente Civic.
Roda-a-Roda
Papo – EUA estudam exigir veículos equipados com sistema de comunicação para
falar carro-com-carro. Na prática ver ante a aproximação nos cruzamentos.
Ideia é reduzir acidentes pela obrigatoriedade de metade da produção norte
americana de veículos leves assim equipada nos dois primeiros anos de vigor.
Correto – Governo canadense prepara medida proibindo comerciantes de vender
automóveis e comerciais leves que não atenderam a chamada de re call. No Canadá calcula-se, um a cada seis veículos chamados não compareceram
aos reparos. Aqui, a grosso modo, 50%.
Tempo – Ford sustou produção na Venezuela, a exemplo de GM, Hyundai,
Mitsubishi, FCA. País com mau projeto de industrialização permite montagem com
baixa agregação de componentes locais. E como o governo Maduro tomou a direção
do caos, não libera moeda para pagar contas das peças estrangeiras.
Nada - Sem peças não dá para montar veículos. Ford manterá pagamento aos
funcionários ociosos. Pelo visto espera mudança de governo em curto prazo.
Cautela – Em 2016 Brasil fez acordo
comercial de automóveis com Colômbia e Uruguai. Preparava avença com o
Paraguai, mas adiou a finalização. Vizinho país toca agressivo projeto de
atração de indústrias de autopeças e montadoras. Tem única: monta chineses J2
JAC por representante.
Receio – Há medo nacional: facilidades podem atrair forte operação chinesa
para produzir e exportar ao Brasil. Aqui as duas principais marcas, incluindo a
JAC, não decolam. Paraguai oferece perspectivas, legislação trabalhista amena
e, item fundamental esquecido no Brasil do governo PT/Dilma, segurança
jurídica.
Futuro – Relação com automóveis mudará muito em breve.
Precedendo elétricos, compartilhados, autônomos, haverá geração turbo nos
próximos anos, 30% da frota leve. Na prática, carros e motores menores.
Caminho – Mercado de novos caiu, de semi novos
cresceu. E junto a preferencia por aquisição através de consórcio. Último ano
volume de adesões à poupança coletiva evoluiu 300%.
Talento – Sérgio Habib, maior revendedor Citroën do
país e da JAC Motors, prepara empreendimento paralelo: central de usados para
fazer negócios de venda e troca com os carros dados como entrada em suas lojas
– e de mais usados recebidos como parte do pagamento dos menos usados.
Trato – Assunto profissional, boas escolhas,
revisão, garantia. Quer ser dos maiores do país secundando as locadoras –
Localiza, Movida e Hertz -, líderes na venda dos semi novos. Habib é um talento no mercado.
Aliás, - JAC Motors criou programa de atenção aos
proprietários da marca seguidores do programa de manutenção programada para os
5 anos de garantia: revisões graciosas aos 50 mil km e seus múltiplos. Válida a
todos modelos JAC.
Fica – Valentino Rossi, nove vezes campeão mundial em motos, quer entrar no
mundo das quatro rodas. Agressivo, ofereceu-se, sem remuneração, para ocupar o
vago lugar de Nico Rosberg na Mercedes-Benz. Os alemães declinaram.
Fica, 2 – Montou empresa de personalização de veículos, fez acordo com a Ford,
sua patrocinadora em rallyes, e produzirá 460 unidades da versão pessoal VR46 –
suas iniciais + seu número mítico com base no picape Ranger.
Como –- Rodas de 18”, pneus lameiros,
revestimento interno em couro italiano, um descontrole na aposição de faixas
decorativas. O toque e as iniciais custam 31 mil euros sobre os 42 mil do preço
do Ranger 3,2 4x4 na Europa. Fica nas motos, Valentino.
Ranger VR46 |
Sanção – Mudança no Código Brasileiro de Trânsito deu
mais peso à infração de estacionar em vaga para idosos ou pessoas com
deficiência. Agora é falta gravíssima e gera 7 pontos na carteira.
Educação –
Cláudia Moraes, diretora da Procondutor, atuando no mercado de educação de
trânsito enfatiza a necessidade de incluir, na formação dos candidatos a
motoristas, a aproximação com a realidade do país.
Manutenção – Moras em cidade com céu limpo? Colha água de chuva e
coloque-a no radiador do seu carro. Água de céu poluído é ácida e a de torneira
é tratada, ambas danosas às galerias de água de circulação e refrigeração do
motor. Use o aditivo orgânico na proporção indicada no manual do proprietário.
Antigos – Se colecionador de antigos, item mandatório. Adicione, pelo menos, um
litro de aditivo orgânico utilizados pelos veículos modernos, para
garantir bom fluxo, evitar ressecamento das mangueiras, preservar vedações e
bomba d’água. Óleo solúvel é item polêmico, nem sempre amigável com as mangueiras.
Gente – Patrícia
Fernandes, responsável por relacionamento com a imprensa, deixou a Dafra,
montadora manauara de motocicletas de várias marcas. OOOO José Ricardo Siqueira e Mariana Gutierre assumem a função. OOOO
Sheik Nasser e Toyota |
Rally Dakar. Nasser vai de Toyota
Nasser Saleh Nasser Abdullah Al-Attiya, 46, do Qatar,
um dos pilotos de ponta nos rallyes
de longa duração e esforços extremos, conduzirá um Toyota com base HiLux na
versão do Rally Dakar agora realizado no Cone Sul. Nasser, ou Saleh, como gosta
de ser chamado, é um vencedor. Aos 46 anos, primo irmão do Emir do Qatar e
direito ao tratamento de Sheik, tem patrocínio da empresa aérea do país e
considerado seu maior divulgador, e lastro esportivo sólido: venceu o Dakar em
2011 e 2015; segundo lugar em 2010 e 2016, terceiro em 2014. Vitoriou em 25 etapas.
Adicionalmente tem medalhas olímpicas em tiro e arco e flecha. Divide
participação com o francês Mathieu Baumei como copiloto no Toyota Gazoo Racing,
equipe de rallyes patrocinada pela Toyota e comandada por Giniel De Villiers,
vencedor do Dakar em 2009. Em 2016 venceram em Abu-Dhabi, Quatar, Itália,
Espanha, Polônia e Marrocos, conquistando a Copa do Mundo de Rallye FIA Cross
Country.
O genericamente chamado Dakar é a prova mais emblemática
em resistência, contando com participação oficial ou oficiosa dos grandes
fabricantes mundiais de veículos fora de estrada. Nesta edição aproximadamente
1/3 dos competidores utilizará veículos Toyota.
Envolvimento da Toyota é grande. Sua operação sul
americana fornecerá parte da logística e 42 unidades de Hilux e SW4 para
acompanhar a competição, transportando partes para reposição, 14 mecânicos da
equipe e jornalistas.
O Dakar tem parte festiva, de envolvimento de
comunidades, e envolverá três países, Argentina, Paraguai e Bolívia. Largada em
frente ao Palácio Lopez, em Assunção, Paraguai, dia 1 de janeiro, e chegada em frente
ao Automóvil Club Argentino, Buenos Aires, dia 14 após 10.000 km por trilhas
demolidoras.
* Roberto Nasser, edita@rnasser.com.br, é advogado especializado em indústria automobilística, atua em Brasília (DF) onde redige há ininterruptos 42 anos a coluna De Carro por Aí. Na Capital Federal dirige o Museu do Automóvel, dedicado à preservação da história da indústria automobilística brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário