quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

DE CARRO POR AÍ.
Por Roberto Nasser*

O fundo do poço e a mola

Ditado popular garante, fundo de poço tem mola. Ou seja, há reação rápida quando se atinge o ponto mais baixo da escala. No caso da indústria automobilística há anos se busca o fundo do poço e sua imaginada mola, porém sem resultados. Vendas vem caindo ano após anos, crendo fechar o ano com pouco mais de 2M de unidades comercializadas. Na prática marcha à ré de 10 anos.

Há, entretanto, previsões otimistas. Da Anfavea, associação dos fabricantes de veículos, imaginando choque no fundo do poço, trava na queda e reação da suposta mola, fazendo vendas crescer em 5 ou 6%. Carlos Zarenga, presidente da GM no Mercosul, com olhar de CFO – ele é o chefe de finanças da marca no sul do continente – é mais otimista. Para ele a mola é mais forte e reativa. O impacto contra a base do poço ocorrerá ao fim do primeiro trimestre, com previsível crescimento de vendas a 10% sobre os números de 2016.

Os vindos do poço
Indústria automobilística funciona olhando horizontes distantes e daí os resultados do dia são apenas componentes da conta. Influenciam investimentos, mas não os impedem. E por conta disto, mesmo com problemas, mercado e suas vendas devem ser aproveitados. Muitas novidades previstas para 2017.

Renault
Primeira das francesas a se mexer, terá em fevereiro a apresentação do Captur, SAV e mais elegante de seus produtos nacionais. Ficará acima do Duster e preços a partir de R$ 80 mil. Logo à frente também SAV, o pequeno Kwid, motor 1,0 de três cilindros, baixo peso para surpreender com performance e consumo. E início das importações do Koleos, com a mesma morfologia utilitária, entretanto com decoração refinada.

Captur, fevereiro

GM
Terá a reedição do Tracker, melhorias de meio do ciclo de vida, com implementos de estilo, frente e traseira, alteração no painel de instrumentos, e ênfase em conectividade, um dos atrativos da marca para vendas. Motor deve ser o novo 1,5 turbo, 16 válvulas, injeção direta.

Citroën
Outra francesa corre a aprontar versão de seu produto mais vendido, o bem formulado C 3. No caso, uso da plataforma e arquitetura mecânica vestidos com nova carroceria, a Cactus, marcada por grandes almofadas externas nas laterais.

Citroën C3 Cactus

VW
Marca alemã antecipará surgimento de nova família sobre plataforma mundial, a MQB-A0 – hoje aplicada para fazer o Golf, e Audis A3 e Q3. Será base para evolução de produtos ainda sem nome e, por movimento pantográfico, suceder a Gol, Voyage, Saveiro e novo SAV pequeno. Crê-se Gol manter-se-á como veículo de entrada, com o novo produto em preço e posição superiores. Ideia para o convívio, sem usar desgastado adjetivo Novo, é batizar sucessor como Polo, bom nome mundial e o melhor dos Volkswagen pré Golf produzido aqui.

Voyage, insosso e inodoro, cederia lugar a sedã com pretensões de maior participação no mercado, e picape situar-se-á acima da posição ocupada pelo Saveiro, e abaixo do Amarok. Projeto é usar Saveiro contra Fiat Strada e o novo modelo como concorrente no segmento criado por Renault Oroch e Fiat Toro.

Quando ao SAV pretensão é conter medidas para deixar espaço superior às versões de Tiguan e ter concorrente a Ford EcoSport, Nissan Kicks, Honda HR-V.

Toyota
11a edição da série Corolla com novidade de empregar motor BMW – mesma família aplicada aos modelos de entrada da marca alemã e nos Mini. É acordo entre as empresas, e na prática motores serão três cilindros, 1,2 e 1,5 litros de deslocamento, turbo, também opção do quatro cilindros 1,8 VVT-i Toyota.

O turbo 1,5 tracionará versão de topo e quer mudar os olhares sobre o carro, visto como carro de Uber e do tiozão careta, como a Honda fez com o concorrente Civic.

Roda-a-Roda

Papo – EUA estudam exigir veículos equipados com sistema de comunicação para falar carro-com-carro. Na prática ver ante a aproximação nos cruzamentos. Ideia é reduzir acidentes pela obrigatoriedade de metade da produção norte americana de veículos leves assim equipada nos dois primeiros anos de vigor.
Correto – Governo canadense prepara medida proibindo comerciantes de vender automóveis e comerciais leves que não atenderam a chamada de re callNo Canadá calcula-se, um a cada seis veículos chamados não compareceram aos reparos. Aqui, a grosso modo, 50%.
Tempo – Ford sustou produção na Venezuela, a exemplo de GM, Hyundai, Mitsubishi, FCA. País com mau projeto de industrialização permite montagem com baixa agregação de componentes locais. E como o governo Maduro tomou a direção do caos, não libera moeda para pagar contas das peças estrangeiras.
Nada - Sem peças não dá para montar veículos. Ford manterá pagamento aos funcionários ociosos. Pelo visto espera mudança de governo em curto prazo.  
Cautela – Em 2016 Brasil fez acordo comercial de automóveis com Colômbia e Uruguai. Preparava avença com o Paraguai, mas adiou a finalização. Vizinho país toca agressivo projeto de atração de indústrias de autopeças e montadoras. Tem única: monta chineses J2 JAC por representante.
Receio – Há medo nacional: facilidades podem atrair forte operação chinesa para produzir e exportar ao Brasil. Aqui as duas principais marcas, incluindo a JAC, não decolam. Paraguai oferece perspectivas, legislação trabalhista amena e, item fundamental esquecido no Brasil do governo PT/Dilma, segurança jurídica.
Futuro – Relação com automóveis mudará muito em breve. Precedendo elétricos, compartilhados, autônomos, haverá geração turbo nos próximos anos, 30% da frota leve. Na prática, carros e motores menores.
Caminho – Mercado de novos caiu, de semi novos cresceu. E junto a preferencia por aquisição através de consórcio. Último ano volume de adesões à poupança coletiva evoluiu 300%.
Talento – Sérgio Habib, maior revendedor Citroën do país e da JAC Motors, prepara empreendimento paralelo: central de usados para fazer negócios de venda e troca com os carros dados como entrada em suas lojas – e de mais usados recebidos como parte do pagamento dos menos usados.
Trato – Assunto profissional, boas escolhas, revisão, garantia. Quer ser dos maiores do país secundando as locadoras – Localiza, Movida e Hertz -, líderes na venda dos semi novos. Habib é um talento no mercado.
Aliás, - JAC Motors criou programa de atenção aos proprietários da marca seguidores do programa de manutenção programada para os 5 anos de garantia: revisões graciosas aos 50 mil km e seus múltiplos. Válida a todos modelos JAC.
Fica – Valentino Rossi, nove vezes campeão mundial em motos, quer entrar no mundo das quatro rodas. Agressivo, ofereceu-se, sem remuneração, para ocupar o vago lugar de Nico Rosberg na Mercedes-Benz. Os alemães declinaram.
Fica, 2 – Montou empresa de personalização de veículos, fez acordo com a Ford, sua patrocinadora em rallyes, e produzirá 460 unidades da versão pessoal VR46 – suas iniciais + seu número mítico com base no picape Ranger.
Como –-  Rodas de 18”, pneus lameiros, revestimento interno em couro italiano, um descontrole na aposição de faixas decorativas. O toque e as iniciais custam 31 mil euros sobre os 42 mil do preço do Ranger 3,2 4x4 na Europa. Fica nas motos, Valentino.

Ranger VR46

Sanção – Mudança no Código Brasileiro de Trânsito deu mais peso à infração de estacionar em vaga para idosos ou pessoas com deficiência. Agora é falta gravíssima e gera 7 pontos na carteira.
Educação Cláudia Moraes, diretora da Procondutor, atuando no mercado de educação de trânsito enfatiza a necessidade de incluir, na formação dos candidatos a motoristas, a aproximação com a realidade do país.
ManutençãoMoras em cidade com céu limpo? Colha água de chuva e coloque-a no radiador do seu carro. Água de céu poluído é ácida e a de torneira é tratada, ambas danosas às galerias de água de circulação e refrigeração do motor. Use o aditivo orgânico na proporção indicada no manual do proprietário.
Antigos – Se colecionador de antigos, item mandatório. Adicione, pelo menos, um litro de aditivo orgânico utilizados pelos veículos modernos, para garantir bom fluxo, evitar ressecamento das mangueiras, preservar vedações e bomba d’água. Óleo solúvel é item polêmico, nem sempre amigável com as mangueiras.
GentePatrícia Fernandes, responsável por relacionamento com a imprensa, deixou a Dafra, montadora manauara de motocicletas de várias marcas. OOOO José Ricardo Siqueira e Mariana Gutierre assumem a função. OOOO

Sheik Nasser e Toyota

Rally Dakar. Nasser vai de Toyota

Nasser Saleh Nasser Abdullah Al-Attiya, 46, do Qatar, um dos pilotos de ponta nos rallyes de longa duração e esforços extremos, conduzirá um Toyota com base HiLux na versão do Rally Dakar agora realizado no Cone Sul. Nasser, ou Saleh, como gosta de ser chamado, é um vencedor. Aos 46 anos, primo irmão do Emir do Qatar e direito ao tratamento de Sheik, tem patrocínio da empresa aérea do país e considerado seu maior divulgador, e lastro esportivo sólido: venceu o Dakar em 2011 e 2015; segundo lugar em 2010 e 2016, terceiro em 2014. Vitoriou em 25 etapas. Adicionalmente tem medalhas olímpicas em tiro e arco e flecha. Divide participação com o francês Mathieu Baumei como copiloto no Toyota Gazoo Racing, equipe de rallyes patrocinada pela Toyota e comandada por Giniel De Villiers, vencedor do Dakar em 2009. Em 2016 venceram em Abu-Dhabi, Quatar, Itália, Espanha, Polônia e Marrocos, conquistando a Copa do Mundo de Rallye FIA Cross Country.

O genericamente chamado Dakar é a prova mais emblemática em resistência, contando com participação oficial ou oficiosa dos grandes fabricantes mundiais de veículos fora de estrada. Nesta edição aproximadamente 1/3 dos competidores utilizará veículos Toyota.

Envolvimento da Toyota é grande. Sua operação sul americana fornecerá parte da logística e 42 unidades de Hilux e SW4 para acompanhar a competição, transportando partes para reposição, 14 mecânicos da equipe e jornalistas.

O Dakar tem parte festiva, de envolvimento de comunidades, e envolverá três países, Argentina, Paraguai e Bolívia. Largada em frente ao Palácio Lopez, em Assunção, Paraguai, dia 1 de janeiro, e chegada em frente ao Automóvil Club Argentino, Buenos Aires, dia 14 após 10.000 km por trilhas demolidoras.







* Roberto Nasser, edita@rnasser.com.br, é advogado especializado em indústria automobilística, atua em Brasília (DF) onde redige há ininterruptos 42 anos a coluna De Carro por Aí. Na Capital Federal dirige o Museu do Automóvel, dedicado à preservação da história da indústria automobilística brasileira.


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