De Carro na República Dominicana
República
Dominicana fica no Caribe, meio caminho entre Américas do Sul e Norte. Pouco
lembrada, foi o ponto de inflexão do desenvolvimento mundial quando, em 1492,
Cristóvão Colombo aportou, logo instalando o primeiro Vice Reinado extra
europeu. Diego, seu filho, foi pioneiro Vice Rei a operar no Continente
Americano e seu palácio, o Alcazar de Colón, construído em 1512 até hoje
remanesce como atração no Centro Histórico, contando história com auxílio de
mobiliário e utilidades de época, auxiliado, em seu entorno pelos primeiros
prédios erigidos nas América: administração, igreja, forte, alguns ininterrupta
e secularmente ocupados pela gestão do poder. Como lembrança, o Brasil foi
descoberto oficialmente em 1500, mas os portugueses registraram e largaram. Os
franceses pilharam o país até 1565 quando expulsos por Estácio de Sá,
representando a Coroa. Na prática o Brasil começou em 1565 no Rio de Janeiro,
nas proximidades de onde hoje está o abandonado Hotel Glória.
Superfície do
país é de 48.500 km2, soma aproximada de Alagoas e Sergipe, e divide com o
Haiti a Ilha Hispaniola, segunda maior – primeira é Cuba. O dividir é ao pé da
letra. Haiti, primeiro país a tornar-se independente nas Américas, é o mais
pobre do Continente; população predominantemente negra; assinalado por
desastres naturais inexplicavelmente limitados às fronteiras. Sua população tem
melhor situação de educação, conhecimento e interpretação, e menor
acidentalidade com veículos. Os dominicanos são arrepiados com os vizinhos.
Pouca
industrialização, economia de base com criação de gado, plantio de cana, arroz,
produção de sal, os dominicanos demoraram a demarrar-se em integração pelo
deficiente sistema de ligação e transportes, tomando muitos anos evoluir dos
cascos dos animais, ferrovias, às estradas de rodagem. E destas apenas as
novas, de instigação turística, tem boa qualidade.
Sua economia
foi traçada como dependente dos gastos dos muitos turistas. Dados de 2015, país
teria imaginados 11 milhões de habitantes, e recebera quantidade quase igual de
visitantes, e facilita, sem necessidade de Visto e por pagamento de US$ 10 por
pessoa à chegada no Aeroporto. Na ocasião você entende a lógica da operação: há
duas pessoas para processar o tíquete de entrada: uma entrega, outra recebe ...
Nas localidades
dedicadas ao turismo estão, ao Norte, Punta Cana, com enorme quantidade de
hotéis no sistema all inclusive -
fácil entender: é um enclave americanizado, sem cidade dominicana nas
proximidades e, assim, os hotéis devem criar a própria ilha de serviços para
atender aos hóspedes. Estes, em sua maioria, norte-americanos de renda média e
baixa, brasileiros. Vai-se pela Ruta 3, a 250 pesos de pedágio.
Outro lugar
recente e demandado, a Leste, é Samaná, cercado por mar e lagoa, dividido com
Las Terrenas. Resorts novos, hotéis,
pousadas e a utilidade de apoio e turismo do comércio e serviços da
cidadezinha, simpáticos e descompromissados como o são os das cidades praianas
do Continente Sul. Poucos hóspedes brasileiros, outros de língua espanhola,
canadenses, italianos, franceses, alemães. Pela Ruta 7 e depois a Estrada da
Odebrecht... Punta e Samaná ficam a duas horas por rodovia.
Por lá
Sedãs, SAVs e
SUVs são mandatórios aos turistas demandando por Samaná e Las Terrenas.
Hóspedes em Punta Cana utilizarão o aeroporto da cidade, ou transfer de agências de turismo a partir
de Santo Domingo.
O país possui
cinco aeroportos e exceto Punta será mandatório alugar carro, havendo como
opcional ônibus de operadores de turismo e os Guagua, como se chamam os micro ônibus tropicalmente
desorganizados, com lotação superior à capacidade técnica, folclóricos e
desaconselháveis.
Folheto de
turismo distribuído nos hotéis enfatiza as belezas naturais, as praias,
estradas, florestas, grutas e faz curioso alerta quanto ao comportamento
social: o rápido é para amanhã. É
uma das cláusulas pétreas da operação dominicana: não há pressa – ou noção de
produtividade. Assim, quando você, por internet, faz e paga a reserva de um
eventual SUV para sete lugares em locadora internacional, chega ao balcão,
exibe o comprovante, nada garante a disponibilidade de tal veículo, e o fato
será problema exclusivamente seu. O atendente da locadora informa ter havido
erro no sistema; não haver o carro reservado; e que se quiser, procure em outra
– onde haverá, mas a preço duplicado. E cobram, por cinco dias, US$ 1,200 por
um SUV com mais de 100 mil km rodados – e dê-se por satisfeito, incluindo a
demora. Não adianta ficar valente. Restará como opção os carros de turismo –US$
200/pessoa/aeroporto-hotel !
Na República
Dominicana não procure por identidade física nacional. Eles se orgulham ser
produto de mescla entre índios, europeus e negros, e isto se espelha nas
lembranças turísticas: bonequinhas não tem rosto.
Cuidado
Conduzir na
capital, cidades periféricas, estradas, exige condicionamento de extrema
atenção, exercício de tensão. Tudo, mesmo o inacreditável, pode acontecer:
parar na alça de acesso para alguém descer; idem na via de velocidade deixando
a Capital, o Guagua para junto à
defensa para passageiro usar o micro ônibus como degrau para saltar sobre a
barreira e cruzar correndo a pista de velocidade; picapes com mais de dezena de
pessoas em pé na caçamba, são usuais e você reza para que nenhum caia no
asfalto à sua frente. Parar com meio carro na estrada; retornar entre as fila
do pedágio e sair na contra mão do acostamento; ultrapassagem sem visibilidade,
sobre faixa dupla; sobre pontes. O inimaginável no trânsito acontecerá.
Termômetro
Por hábito me
valho de embaixada brasileira para entender os lugares e ter referência em caso
de necessidade. Um dos nossos diplomatas recomendou: aconteça o que acontecer, não proteste, não buzine, não reclame. As
pessoas andam armadas e podem se sentir ofendidas com alguém querendo organizar
a desordem. Fique quieto e espere a confusão se diluir.
Convívio com
armas, coisa a nós inusual, faz parte do dia-a-dia. Nos postos de pedágio o
segurança é do Exército e usa uma arma longa, fuzil ou escopeta. Nas estradas o
policiamento é intenso: picapes com a sigla do Ministério de Obras Públicas e
Comunicações, guardas com coletes refletivos, e armas longas na mão.
Fiscalizam, ou fazem presença. Anda-se na velocidade definida: 80 km/h.
Abordado ouvi conversa mole de a polícia estar ali para garantir a segurança dos
viajantes, que o pagamento estava atrasado e por isto pedia uma colaboração.
Respondi em alguma coisa parecida com francês e, ante a falta de compreensão,
mandou seguir.
Na entrada do
estacionamento de supermercado, o guarda usa arma longa. Em compensação, se
você estiver armado, não será permitido, como informa o cartaz.
Vais estacionar na rua da ultra movimentada Santo Domingo? – um terço da
população ali habita. O flanelinha tem espaço definido por cones próprios. Ele
o remove para você estacionar... No desencontro de preços, quatro horas de
estacionamento custaram preço menor ao de uma garrafa de água italiana. Quase
tudo é importado.
O país é bonito
e variado, das grandes superfícies planas, às montanhas. O mar é matizado, azul
caribenho na faixa banhada pelo Pacífico, na direção de Punta Cana, e verde com
faixas azuladas na região banhada pelo Atlântico, onde está Samaná, servida por
estradas particularmente boas ligam-na a Samaná. Bem sinalizadas, limpas,
árvores plantadas nas laterais, capim cortado, placas visíveis. A via cruzando
o Parque Nacional dos Haitis, mescla plano e serra, com paisagens como festa
para os olhos, foi construída recentemente pela ora midiática Odebrecht. Dizem
os locais, o pedágio também é da companhia. É dos mais caros do mundo para
trecho sem telefonia de apoio ou serviço de socorro: 520 pesos – US$ 11, R$ 40
- para andar uns 17 km. Tenha-o em pesos. Se for pagar em dólares a cotação
variará de acordo com o cálculo do caixa, uns 35 pesos x dólar. No comércio praticava-se
46x1.
Como no Brasil
a Odebrecht responde a processo por corrupção para a conquista de obras
públicas.
Seleção
Poucos dados a
respeito da frota circulante, exceto o índice de motorização 3
habitantes/veículo, envolvendo o universo das motos. Como em todo país abaixo
dos EUA seria razoável ver unidades dos velhos e resistentes carros de tal
origem. Não os vi, exceto caminhões de marcas pouco lembradas no Brasil, como
International e Mack, muitos de frotas novas ou surradas unidades trabalhando
sem condições de segurança. Também velhos, remendados, japoneses dos anos 90.
E motos de pequena cilindrada, maioria chinesa, muitíssimas. É a condução do
pais.
Veículos de
produção brasileira, usuais em mercados de baixa cultura automobilística por
resistência e preço, vi apenas duas exceções: velho Fiat Marea e Ford EcoSport
da primeira geração. Automóveis caros, poucos: Mercedes 500, Audis RS8 e Q7, um
Ferrari entrado em anos.
As estradas
exibem a nítida separação de classes, privilegiando os estrangeiros.
Explicou o
mesmo diplomata, quando o país optou pela economia baseada no turismo, elevou
ou liberou o preço dos pedágios. Assim, os US$ 21 gastos entre Santo Domingo e
Samaná, quase 1.000 pesos locais, excluem os dominicanos. Na estrada veem-se
veículos novos com turistas, seus ônibus, as vans coreanas convertidas em micro ônibus Guagua, e motocicletas de baixa cilindrada, muitas e em estado a
ser imaginado como padrão dominicano: pelo menos duas pessoas, sem capacete,
falta de luz traseira, ausência de retrovisores. Motos não pagam pedágio.
País convive com o maior índice de acidentes
das Américas, empatado com a Venezuela, mais de 40 mortes/ano/100 mil
habitantes. Brasil, lamentavelmente líder na América do Sul, o índice é de
21,5% - e questiona-se a exatidão das estatísticas. Entendimento da Organização
Mundial da Saúde mostra a renda da população ligada diretamente à
acidentalidade. Menos renda, educação deficiente. A pouca vivencia com os
veículos deve ser considerada. Convívio com automóveis não se aprende em apenas
uma geração.
Vá
Vale a
pena ir à República Dominicana? Vale. O leque de atrações, seja
para o esportista – mergulho, snorkel,
nado, surf, golf -, seja para os
contemplativos, para os aventureiros em busca de lugares interessantes e de
acesso difícil, ou a pasteurização norte-americana dos hotéis all inclusive. Tudo há e a preços
inferiores aos praticados no Brasil. População amena, de trato sul americano.
Recomendações usuais. Se insistir ficar em Santo Domingo, prepare-se como se
fora passar uma semana na Baixada Fluminense, onde bobo vira estatística. Tenha
um bom veículo, um bom hotel, escolha bem o lugar e despreze acampar. Tenha
cuidado, paciência, seja zen, entre
no clima quando a sobremesa anteceder a salada.
* Roberto Nasser, edita@rnasser.com.br, é advogado especializado em indústria automobilística, atua em Brasília (DF) onde redige há ininterruptos 42 anos a coluna De Carro por Aí. Na Capital Federal dirige o Museu do Automóvel, dedicado à preservação da história da indústria automobilística brasileira.
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