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JOGO ESTÁ DADO
Espera foi bem longa – nada menos de 26 meses ininterruptos –
para finalmente o mercado brasileiro alcançar um número positivo na comparação
mensal com o mesmo mês do ano anterior. Isso aconteceu agora em março. As
183.850 unidades de automóveis e comerciais leves em 2017, que representam 95%
das vendas totais de veículos, subiram 6,1% em relação a março de 2016. No
primeiro trimestre, entretanto, o acumulado este ano ainda é 1,1% inferior ao
ano passado.
Pode-se contrapor que compradores individuais ainda estão
retraídos, pois o crescimento de março foi puxado por frotistas e pessoas
jurídicas. Mas os estoques aumentaram em relação a fevereiro. A boa notícia é a
média de vendas diárias, indicador mais preciso por compensar distorções
sazonais, ter subido 8,3% de fevereiro para março e atingido 8.000 unidades. Trata-se
de importante ponto de inflexão e deve marcar o início da recuperação este ano.
Pode ser um avanço tênue ou firme, a depender mais de fatores políticos do que
econômicos.
Que o cenário será de recuperação gradativa – em ritmo ainda
incerto – nos próximos anos não existem mais dúvidas. Interessante avaliar como
as marcas reagirão aos novos tempos, depois de a Chevrolet ter subido do terceiro
para o primeiro lugar em 2016 e, tudo indica, o manterá em 2017.
Fiat deve perder protagonismo, embora a FCA (ao incluir em
especial as vendas da Jeep) continue na expectativa de liderar o mercado como
grupo. A Volkswagen, porém, fará uma ofensiva de quatro lançamentos até 2019 na
faixa de preço em que se decide, atualmente, o vencedor, se não em vendas, pelo
menos em rentabilidade: R$ 45.000 a R$ 90.000.
Havia temor de que os maus resultados da economia brasileira
refletissem na atualização dos produtos. A marca alemã, porém, optou por
produzir a mais moderna de suas plataformas, iniciando pelo Polo em meados do
segundo semestre, apenas quatro meses depois da Alemanha.
Esse carro será seguido em 2018 por um sedã, já batizado de
Virtus, previsivelmente maior que o Polo, e de um SUV compacto ainda não
confirmado pela empresa, bem como uma picape. Hoje a VW vende aqui a primeira
geração do Tiguan, porém o de 2ª geração, avaliado pela Coluna na Alemanha
semana passada na versão cinco-lugares, revelou-se um produto mais refinado em
estilo e acabamento. Tem 6 cm
a mais de comprimento, espaço interno e porta-malas maiores. Motor de 2 litros,
220 cv e 35,7 kgfm até sobra no conjunto.
Apesar de dividir plataforma com o Golf 7 produzido no
Paraná, a VW descartou sua fabricação aqui. Continuará com o atual modelo até o
final do ano, quando trará do México o novo Tiguan Allspace de sete lugares,
SUV médio de dimensões maiores e preço competitivo por ser isento de imposto de
importação (II). Versão de cinco lugares do Tiguan de segunda geração está fora
dos planos de importação da Alemanha em 2018 em razão da sobrecarga fiscal.
Utilizar arquiteturas alinhadas ao que existe de mais atual
no exterior deixa concorrentes na obrigação de seguir essa estratégia ou perder
espaço no mercado brasileiro. O jogo está dado. E não será fácil vencer, quem optar
por produtos defasados.
RODA VIVA
Toyota não confirma os fortes rumores sobre importação do
México do sedã Yaris e produção de sua versão hatch no Brasil. Este compacto foi
desenvolvido, inicialmente, para o mercado europeu. Mas, o hatch já é fabricado
na Tailândia e a marca japonesa precisa de um modelo intermediário, mais
atualizado, entre Etios e Corolla. Especulações apontam para 2019.
Segunda geração do MINI Countryman, que chega agora ao País,
está cada vez menos mini em termos de dimensões e proposta, além de visual
ainda mais próximo de um SUV urbano. Nova arquitetura é bem maior: 20 cm mais
longo (4,29 m de comprimento) e 7,5 cm extras de entre-eixos (2,67 m). Porta-malas
oferece 450 litros. Há três versões, de R$ 144.950 a R$ 189.950.
Relação custo-benefício é destaque no Chevrolet Cruze Sport6
LTZ. Seu motor turboflex tem respostas vigorosas e suavidade. Um hatch de bom espaço
interno, mas de porta-malas limitado a 300 litros, como outros do segmento. Pacote
eletrônico de segurança, muito bom. Faltam botão de inibir start-stop e borboletas para troca manual de marchas junto ao
volante.
Exemplo de seguir a moda aventureira, sem exageros e
penduricalhos excessivos, vem do Ka Trail. Parte de R$ 47.690 e chega a R$
51.990. Em 2003 esse subsegmento representava 4% das vendas de todos os tipos
de compactos e no ano passado saltou para 16%. Ford seguiu fórmula tradicional
de aumentar altura de rodagem em 3,1 cm e utilizar pneus de uso misto.
Fiat completa a gama do subcompacto Mobi ao oferecer câmbio
automatizado de uma embreagem acoplado ao motor de 1 litro, 3-cilindros,
batizando-o de Drive GSR. Ao contrário da sugestiva sigla, o câmbio foi
desenvolvido para atingir o menor consumo de combustível no critério de medição
Inmetro, mas seu acerto também evoluiu. Preço competitivo: R$ 44.780.
* Fernando Calmon - fernando@calmon.jor.br - é jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna Alta Roda começou em 1999. É publicada no Coisas de Agora, WebMotors, Gazeta Mercantil e também em uma rede nacional de 52 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente para a América do Sul do site Just-auto (Inglaterra). Siga: www.twitter.com/fernandocalmon.