Mostra é destaque na Temporada França Brasil 2025 e apresenta, ao público brasileiro, obras originais e provocativas de uma das primeiras mulheres a integrar a vanguarda artística do século XX
Foto: Leo Lara | Divulgação Casa Fiat
Visionária, provocadora e profundamente engajada, Niki de Saint Phalle marcou a arte do século XX com obras que desafiam preconceitos, rompem silêncios e celebram a liberdade das mulheres. Até 2 de novembro de 2025, a Casa Fiat de Cultura apresenta os trabalhos dessa artista franco-americana numa exposição inédita no Brasil, que revela a potência transformadora de sua criação. A mostra “Niki de Saint Phalle. Sonhos de Liberdade” reúne 67 obras, sendo 66 do acervo do MAMAC (Museu de Arte Moderna e Arte Contemporânea de Nice), na França, e uma obra da Pinacoteca do Estado de São Paulo, que sai pela primeira vez do museu desde que foi adquirida, em 1997. O público pode apreciar suas esculturas, assemblages e as icônicas Nanas, a maioria delas nunca exibidas no Brasil. A mostra, um dos destaques da programação da Temporada França-Brasil, conta com a parceria da Prefeitura de Nice e do MAMAC, e com a colaboração da Niki Charitable Art Foundation e do grupo 24 Ore Cultura, de Milão. Toda a programação da Casa Fiat de Cultura é gratuita.
Com curadoria de Olivier Bergesi e Hélène Guenin, a exposição propõe um encontro com a narrativa poética de Niki de Saint Phalle (1930–2002). Sua produção potente e imaginativa continua a inspirar novas gerações, não apenas por sua estética ousada, mas pela capacidade de transformar sofrimento em beleza, denúncia em esperança, exclusão em potência. Suas obras são um hino à liberdade, à alegria e à diversidade, e, por isso, seguem tão atuais. “Ela aborda temas sociopolíticos ‘antigos’, como a violência sexual, a opressão das mulheres, a guerra e as relações de poder — assuntos ainda extremamente atuais”, afirma o curador Olivier Bergesi, do MAMAC.
Em “Niki de Saint Phalle. Sonhos de Liberdade na Casa Fiat de Cultura”, o público é convidado a percorrer diferentes momentos da vida e da obra da artista, desde seus primeiros experimentos artísticos até suas esculturas de grande porte, passando por fases marcadas por dor, experimentação, cura, celebração e engajamento social. A mostra combina obras históricas, registros audiovisuais e ambientações, que dialogam com a vibrante linguagem visual da artista.
Para o presidente da Casa Fiat de Cultura, Massimo Cavallo, a trajetória e a obra de Niki ressoam com força e atualidade, intensificando o entusiasmo da Casa Fiat de Cultura em participar desse encontro cultural entre França e Brasil. “Ao realizar essa exposição, renovamos o compromisso com a diversidade e a inovação, e com a construção de pontes entre tempos, territórios e públicos. Mais do que apresentar obras que pela primeira vez chegam no Brasil, oferecemos um encontro transformador com uma artista que usou a arte para reescrever a própria história e desafiar o mundo a fazer o mesmo”, destaca.
A exposição Niki de Saint Phalle. Sonhos de Liberdade é uma realização da Casa Fiat de Cultura e do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Conta com o patrocínio da Stellantis, da Fiat, copatrocínio da Stellantis Financiamentos, do Banco Stellantis, do Banco Safra e da Sada. A mostra tem apoio institucional do Circuito Liberdade, além do apoio do Governo de Minas e do Programa Amigos da Casa. Tem parceria internacional com o MAMAC (Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Nice) e a Prefeitura de Nice, e com colaboração da 24 Ore Cultura (Milão) e da Niki Charitable Art Foundation.
Niki de Saint Phalle
Nascida Catherine-Marie-Agnès Fal de Saint Phalle, na cidade de Neuilly-sur-Seine, na França, Niki de Saint Phalle era filha de um banqueiro francês e de uma artista americana. Sua infância foi marcada por um ambiente familiar rígido e violento, e por um episódio de abuso sexual ainda criança, que a acompanhara por toda a vida. A pintura, descoberta após uma crise nervosa e um período de internação numa clínica em Nice, na França, tornou-se sua forma de cura, de expressão e libertação. A arte foi seu refúgio.
No início da década de 1960, ela se aproximou dos artistas do movimento Nouveau Réalisme (Novo Realismo), como Pierre Restany, Yves Klein, Arman e Jean Tinguely — que, mais tarde, tornou-se seu marido. O movimento buscava aproximar arte e vida, incorporando objetos e materiais do cotidiano, muitas vezes, com forte carga crítica e irônica sobre a sociedade de consumo e a cultura de massas.
Niki foi uma das primeiras mulheres a participar da vanguarda artística de meados do século XX. Como mulher, rompeu barreiras, ao ocupar um espaço de protagonismo criativo em um grupo amplamente masculino, abordando temas como feminilidade, sexualidade, maternidade e opressão, e por introduzir uma abordagem pessoal, performática e política no debate artístico.
O trabalho de Niki de Saint Phalle se estendeu por cerca de cinco décadas, do final dos anos 1950 ao início dos anos 2000. Suas obras integram importantes acervos internacionais, como o MAMAC (Museu de Arte Moderna e Arte Contemporânea de Nice), o MAM (Museu de Arte Moderna de Paris), o Museu Sprengel, na Alemanha, o MoMA (Museu de Arte Moderna, em Nova York), o Museu de Arte Moderna de São Francisco, além do Jardim dos Tarôs, na Itália.
A artista faleceu de pneumonia, aos 71 anos, em 21 de maio de 2002, na cidade de La Jolla, no sul da Califórnia, mas deixou grande legado: uma arte que tem o poder de transformar.
Tirs
Entre 1961 e 1962, Niki de Saint Phalle realizou cerca de vinte performances Tirs (Tiros) diante de um público de amigos, colegas ou convidados. Usando um rifle, a artista atirava, fazendo explodir sacos de tinta sobre a tela, liberando, nesse processo criativo e catártico, suas próprias emoções.
Os Tirs não eram apenas pinturas feitas com tiros, eram gestos de resistência que falavam alto sobre repressão, gênero, poder e expressão individual. Ao atirar nas obras, ela também "atirava" em seus próprios demônios pessoais. Vítima de violência sexual na infância, com os Tirs ela transformava a dor em criação artística.
Do ponto de vista artístico, os Tirs situam-se entre performance, arte corporal, escultura e pintura. Sua precocidade na história da performance e o gesto escandaloso de atirar revelam uma profunda sensibilidade crítica em relação à violência que caracterizava a sociedade ocidental no início dos anos 1960.
Nana power
Depois de movimentar o mundo da arte com os Tirs, Niki de Saint Phalle voltou seu olhar para o corpo feminino, e desse olhar atento e delicado nasceram suas esculturas mais famosas: as Nanas.
Figuras monumentais, alegres e multicoloridas, inspiradas na arte africana, na América pré-colombiana e nas Vênus paleolíticas, as Nanas propõem uma nova imagem da mulher: livre, poderosa, diversa e livre dos estereótipos impostos pela sociedade. Elas são, também, um tributo à pluralidade de corpos e raças. Negras, amarelas, brancas e rosas, elas formam uma comunidade colorida e inclusiva que desafia os modelos normativos.
Sua prática artística antecipa, por décadas, as iniciativas contra-hegemônicas atuais, que visam devolver voz àqueles que foram silenciados ou esquecidos pela História.
Espiritualidade
Entre as criações mais ambiciosas de Niki de Saint Phalle, está o Jardim dos Tarôs, construído na Toscana, na Itália. Inspirado nos 22 arcanos maiores do tarô, o parque começou a ser erguido em 1979 e abriga esculturas monumentais revestidas com mosaicos de vidro, espelhos e cerâmica. O projeto foi concebido como uma obra de arte total, na qual arquitetura, mitologia, espiritualidade e imaginação se fundem.
O terreno do Jardim dos Tarôs foi cedido pela família de Marella Caracciolo — colecionadora e esposa de Gianni Agnelli, fundador da Fiat —, que conhecia Niki e seu desejo de criar um jardim público.
Durante os primeiros anos da construção, a artista viveu dentro da obra Imperatriz, figura poderosa do tarô, que simboliza a força do feminino, para acompanhar pessoalmente os trabalhos. Para o projeto, ela contou com o apoio do artista Jean Tinguely (1925 – 1991), na época, seu companheiro não só arte, mas, também, de vida, e de muitos artesãos locais. A influência do Parque Güell, do espanhol Antoni Gaudí, é visível nas cores e nas formas das esculturas.
O Jardim também é uma autobiografia astral da artista: uma busca pelo equilíbrio interior que a acompanhou por toda a vida, uma conquista de sabedoria e uma vitória sobre os medos de sua juventude.
O local foi inaugurado em 1998, quase 20 anos após o início das obras, e atualmente é aberto ao público entre os meses de abril e outubro.
Causas sociais
Nas décadas de 1990, na Califórnia, Saint Phalle voltou-se a temas sociais urgentes. Produziu obras ligadas à luta contra o racismo, à crise do HIV/AIDS, à saúde mental e à degradação ambiental. Criou livros para crianças e adultos com mensagens educativas e afetivas, serigrafias autobiográficas, como o Diário Californiano, filmes e projetos urbanos de impacto direto. Com sua arte, deu voz às populações marginalizadas.
Nanas Infláveis
Nesta instalação experiencial, cinquenta Nanas infláveis de Niki de Saint Phalle — vindas diretamente do Jardim dos Tarôs, na Itália — transformam o ambiente da Casa Fiat de Cultura em um manifesto lúdico e poderoso sobre emancipação, vitalidade e alegria. As Nanas infláveis foram criadas pela própria artista com o objetivo de serem comercializadas para arrecadar fundos para a construção do Jardim dos Tarôs.
Le Mur de la Rage
Outro momento de experiência do público na exposição é a instalação Le Mur de la Rage (O Muro da Raiva). Na obra, Niki de Saint Phalle listou uma série de motivos pelos quais sentia raiva, entre eles, a fome, a injustiça, o racismo, a morte, as águas poluídas, mas também questões pessoais, como sua falta de fé e sua própria violência interior. Os visitantes serão convidados a contribuir, expressando seus sentimentos num novo muro.
Casa Fiat de Cultura
A Casa Fiat de Cultura cumpre importante papel na transformação do cenário cultural brasileiro, ao realizar relevantes exposições. A programação estimula a reflexão e interação do público com várias linguagens e movimentos artísticos, desde a arte clássica até a arte digital e contemporânea. Por meio do Programa Educativo, a instituição articula ações para ampliar a acessibilidade às exposições, desenvolvendo réplicas de obras de arte em 3D, materiais em Braille e atendimento em libras. Mais de 100 mostras, de consagrados artistas brasileiros e internacionais, já foram expostas na Casa Fiat de Cultura, entre os quais Caravaggio, Rodin, Chagall, Tarsila, Portinari e outros. Há 19 anos, o espaço apresenta uma programação diversificada, com música, palestras, residência artística, além do Ateliê Aberto – espaço de experimentação artística – e de programas de visitas com abordagem voltada para a valorização do patrimônio cultural e artístico. A Casa Fiat de Cultura é situada no histórico edifício do Palácio dos Despachos e apresenta, em caráter permanente, o painel de Portinari, Civilização Mineira, de 1959. O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. Mais de 4,5 milhões de pessoas já visitaram suas exposições e 700 mil participaram de suas atividades educativas. O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte.
Exposição “Niki de Saint Phalle. Sonhos de Liberdade”
Período expositivo: até 2 de novembro de 2025
Visitação presencial: terça-feira a sexta-feira das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h (exceto segundas-feiras)
Entrada gratuita
Praça da Liberdade, 10 – Funcionários – BH/MG
Circuito Liberdade
Terça-feira a sexta-feira, das 10h às 21h
Sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h
Site www.casafiatdecultura.com.br
casafiatdecultura@stellantis.com
facebook.com.br/casafiatdecultura
Instagram: @casafiatdecultura
X: @casafiat
YouTube: Casa Fiat de Cultura
Parceria internacional: MAMAC (Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Nice) e Prefeitura de Nice, colaboração 24 Ore Cultura (Milão) e Niki Charitable Art Foundation.
Obras: 67 no total — 66 do MAMAC e 1 da Pinacoteca do Estado de São Paulo
Personal Press
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