Foto: Beatriz de Paula | Divulgação |
O ano de 2024 marca as celebrações dos 70 anos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp, além dos 30 anos de atividades do Coro da Osesp e dos 25 anos da Sala São Paulo – a casa da Osesp, dos Coros e de seus Programas Educacionais, inaugurada em 1999 no edifício onde antes funcionava a Estrada de Ferro Sorocabana.
Nesta semana, de quinta-feira (28) a sábado (30), a Osesp volta a se apresentar na Sala São Paulo com um querido amigo: o maestro brasileiro Marcelo Lehninger. A jovem soprano porto-riquenha Larisa Martínez será a solista convidada nestes concertos, cujo programa terá duas obras de Villa-Lobos (o Choros nº 6 e uma seleção da suíte Floresta do Amazonas) e a Quarta Sinfonia de Tchaikovsky.
Vale lembrar que a performance de sexta-feira (29), com início às 20h30, será transmitida ao vivo no canal oficial da Orquestra no YouTube, como parte do programa de Concertos Digitais.
O programa
O musicólogo Eero Tarasti chamou a atenção para o caráter “pastoral” do sexto Choro de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), uma possível referência à Sexta Sinfonia de Beethoven, que também buscava expressar liricamente a grandiosidade sublime da natureza. A aproximação é interessante, mas os primeiros compassos da obra já demonstram a distância entre a natureza representada pelo Romantismo europeu e aquela imaginada pelo Modernismo brasileiro. Em páginas de exótica criatividade, que fascinaram o público parisiense, é a Sagração da primavera, de Stravinsky, que ecoa na atmosfera misteriosa criada pelo diálogo impressionista entre a flauta, o saxofone, as cordas e a percussão. O ritmo se torna cada vez mais insistente, abrindo espaço para a orquestra desfilar uma série de temas inspirados na música popular brasileira, de danças nordestinas a modinhas cariocas. Esse caleidoscópio musical é colorido por uma orquestração exuberante, que utiliza diversos instrumentos de percussão: tímpanos, tam-tam, xilofone, sinos, pratos, bumbo, tartaruga, camisão-grande, cuíca, reco-reco, tambu, tambi, pandeiro, roncador, chocalhos e tamborim de samba.
Uma das mais controvertidas composições da fase final de produção de Villa-Lobos é a trilha sonora para o filme Green Mansions, aventura sentimental dirigida por Mel Ferrer e estrelada, em uma Amazônia exótica, por Audrey Hepburn e Anthony Perkins. Irritado com o fracasso do filme e com as adaptações musicais feitas pelo estúdio de Hollywood, Villa-Lobos transformaria a obra em uma longa suíte sinfônica, intitulada Floresta do Amazonas. Renegociando o contrato inicial, obteve a verba necessária para a gravação da peça, tendo como solista a famosa soprano brasileira Bidu Sayão, radicada nos Estados Unidos e estrela do Metropolitan de Nova York. A seleção apresentada pela Osesp reúne oito dos 23 episódios dessa obra monumental, louvada por alguns como suma de toda a produção nacionalista do compositor, mas desprezada por outros como um amontoado oportunista de peças desiguais.
A Quarta Sinfonia de Piotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893), finalizada em 1878, é um bom exemplo das contradições estéticas e existenciais deste compositor russo. Seu longo primeiro movimento segue um “programa” pessoal e filosófico, descrito em detalhes por Tchaikovsky na estreia em São Petersburgo e logo depois abandonado. A solene fanfarra inicial representaria “o destino”, lembrando os motivos iniciais da Quinta Sinfonia de Beethoven. Surgindo lentamente como um inesperado contraste, uma valsa caracteriza, em seguida, os dois temas principais, mencionados no programa como “devaneios fugazes” e “vislumbres da felicidade”. A alternância entre realidade e fantasia organiza todo o movimento, com o retorno constante e variado do motivo do destino, interrompendo o livre desenvolvimento dos temas felizes: “na vida, não existe porto seguro”, lamenta Tchaikovsky.
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo - Osesp
Foto: Mario Daloia | Divulgação |
Desde seu primeiro concerto, em 1954, a Osesp tornou-se parte indissociável da cultura paulista e brasileira, promovendo transformações culturais e sociais profundas. A cada ano, a Osesp realiza em média 130 concertos para cerca de 150 mil pessoas. Thierry Fischer tornou-se diretor musical e regente titular em 2020, tendo sido precedido, de 2012 a 2019, por Marin Alsop. Seus antecessores foram Yan Pascal Tortelier, John Neschling, Eleazar de Carvalho, Bruno Roccella e Souza Lima. Além da Orquestra, há um coro profissional, grupos de câmara, uma editora de partituras e uma vibrante plataforma educacional. Possui quase 100 álbuns gravados (cerca de metade deles por seu próprio selo, com distribuição gratuita) e transmite ao vivo mais de 60 concertos por ano, além de conteúdos especiais sobre a música de concerto. A Osesp já realizou turnês em diversos estados do Brasil e também pela América Latina, Estados Unidos, Europa e China, apresentando-se em alguns dos mais importantes festivais da música clássica, como o BBC Proms, e em salas de concerto como o Concertgebouw de Amsterdam, a Philharmonie de Berlim e o Carnegie Hall. Mantém, desde 2008, o projeto “Osesp Itinerante”, promovendo concertos, oficinas e cursos de apreciação musical pelo interior do estado de São Paulo. É administrada pela Fundação Osesp desde 2005.
Marcelo Lehninger, regente
Foto: Andy Terzes | Divulgação |
Diretor Musical da Grand Rapids Symphony (EUA), foi recentemente nomeado Diretor Artístico do Festival de Música de Bellingham. Como Diretor Musical da New West Symphony, em Los Angeles, recebeu o prêmio Helen H. Thompson para Regentes Emergentes, concedido pela Liga das Orquestras Americanas. Atuou ainda como Regente Assistente e depois como Regente Associado da Sinfônica de Boston. Lehninger esteve à frente de algumas das principais orquestras dos Estados Unidos, incluindo as Sinfônicas de Chicago, Pittsburgh, St. Louis, Houston, Detroit, Baltimore e Seattle, além das Filarmônicas de Rochester, Orlando e Novo México. Na Europa, regeu a Sinfônica Alemã de Berlim, as Filarmônicas de Praga e da Rádio França, a Orquestra Nacional da França e a Sinfônica de Lucerna, além de realizar turnê no Konzerthaus de Viena e com a Orquestra Real do Concertgebouw. Na Austrália, regeu as Sinfônicas de Sydney e Melbourne, e no Japão as Sinfônicas Yomiuri Nippon e Kyushu. Foi Conselheiro Musical da Orquestra das Américas na temporada de 2007-2008. Cidadão brasileiro e alemão, retoma sempre a seu país natal como convidado, além de ter sido Regente Assistente da Filarmônica de Minas Gerais.
Larisa Martínez, soprano
Foto: Shervin Lainez | Divulgação |
A porto-riquenha Larisa Martínez tem atuado em importantes palcos de ópera e concerto, como Kennedy Center, Carnegie Hall, Madison Square Garden e Hollywood Bowl. Nesta temporada, estreia com as Sinfônicas do Colorado, de Indianópolis e com a própria Osesp, além de participar do Festival de Verbier. Entre suas realizações recentes estão papeis em La Traviata, de Verdi, na Wichita Grand Opera; West Side Story, de Bernstein, no Festival Napa Valley; na Sinfonia nº 2 de Mahler no Carnegie Hall junto à Filarmônica de Atenas, além de sua apresentação junto à Grand Rapids Symphony, com Floresta do Amazonas, de Villa-Lobos. Em 2016, foi convidada a fazer parte da delegação artística para a visita do Presidente Barack Obama a Cuba, evento que culminou em especial da PBS indicado ao Emmy. Tem realizado turnês nos últimos anos com o tenor Andrea Bocelli pelas América do Norte e do Sul e na Europa. Martínez venceu o Concurso Nacional do Metropolitan Opera de 2016 em Porto Rico. Foi artista convidada pela Metropolitan Opera Guild na homenagem a Anna Netrebko, em 2018. No mesmo ano, o EastWest Sounds Studios escolheu sua voz para o novo software de instrumento virtual “Voices of Opera”, usado por compositores e engenheiros ao redor do mundo.
Orquestra Sinfônica do Estado De São Paulo — OSESP
Marcelo Lehninger, regente
Larisa Martínez, soprano
Heitor Villa-Lobos
Choros nº 6
Floresta do Amazonas: Seleção
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY | Sinfonia nº 4 em fá menor, Op. 36
A Osesp e a Sala São Paulo são equipamentos do Governo do Estado de São Paulo, por intermédio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, gerenciadas pela Fundação Osesp, Organização Social da Cultura.