quarta-feira, 14 de outubro de 2015

JUSTIÇA.
Por José Renato Nalini*

AUDÁCIA E CORAGEM BENÉFICAS.

Quando a maré chega à zona de conforto, os que ali estão se veem obrigados a procurar outro espaço ou a nadar. O momento atual da República do Brasil é um caso emblemático. Aqueles que enxergavam apenas “marolinha” devem estar se afogando a esta altura. A crise é brava, duradoura e não existe perspectiva promissora no horizonte.

Diante disso, incumbe a quem tiver juízo optar por uma prudência não usual na administração pública. Prevalece uma concepção de que “o Estado não tem dono”, que o servidor público “não tem patrão” e que “dinheiro sempre existe” e é suficiente ao atendimento de todas as demandas.

Não é bem assim. Com a crise política, econômica, financeira e com a chegada do desalento, a arrecadação não para de cair. Com isso, o orçamento que é uma lei, mas que não pode mudar a realidade, passa a ser uma ficção. Se não entra dinheiro no Erário, este não tem como cumprir a lei orçamentária. Os juristas já conhecem o brocardo vigente desde os romanos, que nos legaram a estrutura deste edifício ainda utilizado: “ad impossibilia, nemo tenetur”. Ou seja: diante do impossível, não há como fazer prevalecer a regra jurídica, por mais legítima e bem elaborada seja ela.

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em seu gigantismo, não tem como atender a todas as demandas. Seu orçamento é bilionário, mas sempre dependeu do excesso de arrecadação para que as quota-partes do Tesouro sejam efetivamente postas à disposição da Justiça.

Por isso, é obrigatória a adoção de alternativas que, a par de preservar a segurança da prestação jurisdicional, representem menor dispêndio de dinheiro. Nessa linha é que o Governador GERALDO ALCKMIN autorizou a Secretaria da Segurança Pública e a Polícia Militar a firmarem Termo de Cooperação com o Tribunal de Justiça, para que policiais militares em atividade extraordinária de trabalho intensifiquem a segurança nos próprios do Judiciário e arredores. 

Com isso, inúmeras as vantagens obtidas com a celebração desse ajuste. Os policiais militares são profissionais formados por uma Instituição mais do que centenária, que tem uma tradição na educação especializada, sabem o que significa hierarquia e disciplina e têm expertise na proteção de pessoas e de sua incolumidade física.

Além disso, se inteiramente implementada em sua primeira fase, a operação permitirá uma economia de 348 mil reais por mês, o que não é pouco em fase de apoucada verba. 

São iniciativas como essa que podem fazer frente a uma situação de real perigo de interrupção das prestações essenciais, assumidas por um Estado que se apropriou de inúmeras funções e que hoje confessa a sua incapacidade de oferecê-las todas. São Paulo, graças à austeridade de suas administrações, não está em situação análoga a de outras unidades da Federação, que já tiveram de atrasar pagamentos ou de reduzir salários. 

O momento é o de conscientizar a comunidade para que passe a imaginar outras soluções viáveis e que possam socorrer o serviço público, para que a população não se veja sacrificada com a drástica redução de benefícios e direitos já consolidados.

Neste instante nevrálgico para a nacionalidade, não há como deixar de invocar o espírito de sacrifício de todos aqueles que realmente amam o Brasil e têm a convicção de que apenas um esforço de verdadeira superação dos egoísmos, dos corporativismos e do interesse direto e imediato, poderão fazer com que a Nação reencontre seus rumos. 









José Renato Nalini é desembargador, preside o Tribunal de Justiça de São Paulo e é integrante da Academia Paulista de Letras. 
Visite o blog: renatonalini.wordpress.com.

Um comentário:

  1. Esplêndida sua escrita acoplada à arte de palavras que V.Exa, como mais ninguém, tem o pleno domínio de bailar com suas ricas e exóticas expressões que amo lê-las.
    Mas hoje, fadigada, debruçada horas à correr para, com magia, obter uma partilha em Divórcio.
    De um lado dinheiro fácil, embora com labor. De outro, o cônjuge frágil que se auto projetou no poder , influência, respeitabilidade de sua ex mulher, mas quer permanecer com o aparelho que falseia um homem inexistente.
    Já partilhei bens valiosos, mas dividir ou seder 1% do estiloso modo de ser de sua, um dia, esposa, é impossível, um sacrifício inglória para ela que sabe caminhar só.
    Eu vou conseguir, eu sinto que vou substituir este desejo por algo, minha cabeça já doe, mas eu tenho obrigação de vê-lo seguir por seus passos, muito embora eu sou Advogada da ex esposa.
    Desembargador Nalini, assim devemos lutar para salvar nossa pátria que um dia, falsamente, lhe projetaram que era bela por natureza e nada carecia fazer para manter naquele pedestal de outrora.

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