quinta-feira, 23 de julho de 2015

COMUNICAÇÃO 360.
Por Marco Piquini*

FALAR NÃO BASTA, É PRECISO CONVERSAR.

O novo presidente da empresa se entusiasmou e decidiu expandir os canais de contato com os empregados. O pessoal da Comunicação sugeriu um ”Café com o Presidente”. Ele topou na hora e mergulhou de cabeça na novidade. Foi criado uma logo para o programa e o calendário de reuniões foi marcado. Depois de alguns encontros, porém, começou a ficar difícil encontrar empregados para montar os grupos: ninguém mais queria tomar café com o homem! 

A Comunicação entrou em pânico. O que poderia ter acontecido? A turma decidiu ouvir as pessoas que participaram dos primeiros encontros para tentar descobrir o mistério e o feedback foi revelador!

A reclamação principal: durante os cafés, só o homem falava. Ele desandava a contar casos de sucesso de sua carreira, falava longamente sobre a empresa, sua vida pessoal e até a contava piadinhas. O cara era até bastante simpático, e a novidade agradou no começo, mas logo começou a circular pela “rádio peão” que os encontros eram “um saco”.

Alguns dos empregados achavam que iam poder “falar”, se preparavam porque queriam dizer algumas coisas para o presidente, mas só ouviam “aulas”. Os poucos que conseguiram expressar suas ideias e sugestões saíram do encontro achando que o presidente não havia dado a eles a devida atenção. E isso magoou essas pessoas, que passaram a falar mal do tal café com o poderoso chefão.

Lição: em reuniões tipo “Café com o Presidente” não basta falar ou simplesmente ouvir. É preciso que as outras pessoas pratiquem o “esporte” da conversa, que é uma interlocução entre pessoas, onde pontos de vista diferentes sejam trocados e, mais do que isso, respeitados, onde ideias são debatidas, onde haja interação. Conversar como se as pessoas fossem uma família planejando suas próximas férias. A Comunicação precisa alertar o presidente de que seu papel ali é mais o de ouvir do que o de falar. 

Outra coisa: encontros entre pessoas de níveis muito diferentes podem gerar situações embaraçosas. A Comunicação precisa “brifar” o presidente a respeito de temas que sejam do interesse do pessoal (por exemplo, é verdade que o restaurante vai ser reformado?). Ajuda bastante um pequeno perfil dos interlocutores, tipo “o João, que é analista de processos na linha 4 foi o vencedor do kaizen do mês”, ou “a Maria que é supervisora de logística é maratonista e já correu em Nova York”. Este tipo de detalhe na “orelha” do presidente vai ajuda-lo a manter a conversa mais fluida e livre.

O presidente também precisa ter a seu lado um auxiliar bom em relacionamento para servir de “facilitador” quando a conversa “emperra”. E esse é um papel a ser cumprido por alguém da Comunicação. A mesma pessoa deve também preparar-se para tomar notas mentalmente dos assuntos que merecem análise e retorno imediato. 







Marco Piquini é jornalista, consultor e palestrante. Trabalha com a comunicação para a gestão de mudança. Foi durante 20 anos executivo do Grupo Fiat e entre 2007 e 2012 diretor de Comunicação da Iveco para a América Latina, com responsabilidade sobre comunicação interna, externa, publicidade, eventos e sustentabilidade
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